Home - Opinião - 25 de Novembro de 1975 ou a “casca de banana” em que alguns escorregaram… Autor: João Dinis

25 de Novembro de 1975 ou a “casca de banana” em que alguns escorregaram… Autor: João Dinis

Já lá vão 48 anos desde a data do golpe do 25 de Novembro de 1975, “evento” hoje histórico e em que se agitou bastante a situação política e militar do nosso País. A um ponto de tal forma empolado e manipulado – embora tenha havido 3 mortes no Regimento de Polícia Militar em Lisboa – que ainda hoje continua a provocar tensões políticas e “stress” no regime democrático.  Há mesmo quem especule tanto que até pretenda colocar o 25 de Novembro no mesmo patamar de importância que o 25 de Abril de 1974… Isto não é tentar rever a história é tentar aldrabá-la…

“Verão Quente” de 1975 extrema tensões na sociedade portuguesa e vai criando o “ambiente” para haver complicações sérias a nível nacional e no curto prazo.

O chamado “Verão Quente” de 1975 “ferveu” a partir do início do mês de Junho onde pontificou o “comício da Fonte Luminosa”, em Lisboa, organizado pelo PS de Mário Soares e aplaudido pela direita da época.  Prosseguiu essa “onda”, com alguns acontecimentos violentos que aliás culminaram no agudizar dessas tensões políticas, sociais e militares.

A declaração oficial da independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975, por si só, foi um acontecimento que também exacerbou ânimos e lutas partidárias em Portugal.

Noutro plano, começam em Agosto de 1975, em Braga, com a participação activa de sectores reaccionários ligados à Igreja Católica, os assaltos e atentados vários a Sedes Regionais do PCP – os “Centros de Trabalho” deste partido. Ou seja, enquanto eram acusados de serem “os maus da fita”, os comunistas sofriam sevícias e atentados vários – quase sempre perante a passividade cúmplice das autoridades públicas – numa repressão muito violenta que nem durante o fascismo foi tão concentrada no tempo e no modo pois registou um número elevado de atentados e até de vítimas !

No campo militar, na altura bastante politizado, dá-se o “pronunciamento de Tancos”, no início de Setembro, de 1975, numa Assembleia dos três ramos das Forças Armadas que marca a data da declarada divisão interna das Forças Armadas. Foi aí muito contestado o então Primeiro-Ministro, general Vasco Gonçalves enquanto promoveu o “Grupo dos Nove” (militares) que também fazia parte do “Conselho da Revolução”.

Sim, o “Verão Quente” de 1975 exacerbou tensões e acendeu ódios de forma planeada. Esse processo foi sendo concertado com o então Embaixador dos EUA em Lisboa, um tal Frank Carlucci personagem sinistra e que, alguns anos depois, foi alto responsável pela própria CIA, esta a famigerada polícia secreta dos EUA e também foi 1º Secretário da Defesa dos EUA com o presidente Ronald Reagan.

Em Novembro de 1975, aceleraram os acontecimentos contraditórios, e explorados pela grande comunicação social, assim como se surgissem por “encomenda” para criar o ambiente propício e favorável a outros acontecimentos drásticos e mais violentos…

O 25 de Novembro foi uma “casca de banana” em que “alguém” escorregou…

Então de 24 para 25 de Novembro, tropas paraquedistas desencadeiam movimentos militares em armas sendo que o então indigitado Presidente da República, general Costa Gomes, chegou a ser detido (por conhecidos militares sublevados) no edifício da Presidência da República e praticamente “obrigado” a fazer a declaração do “estado de sítio” em Lisboa.  Pouco antes disto, uma série de políticos de nomeada, chefiados por Mário Soares, tinha ido para o Porto apostados numa eventual declaração de um “governo provisório” – a partir do Porto – para combater aquilo que “baptizaram”, com toda a desfaçatez e para efeitos de pura propaganda, como sendo a “comuna de Lisboa” em que  o PCP estaria a “mandar”, nela incluindo concelhos da margem esquerda do Tejo…

Então, tropas dos Comandos da Amadora cercam (dia 25) o quartel do Regimento de Polícia Militar (Calçada da Ajuda)  e dão-se, aí, alguns confrontos com os três mortos.

Salgueiro Maia, o inesquecível grande comandante do 25 de Abril, vem para Lisboa, a mando do comando do 25 de Novembro, com uma coluna da Escola Prática de Cavalaria (EPC) e, já em Sacavém, contacta com o major Diniz de Almeida para, sem problemas ou confrontos, obter a “rendição/pacificação” do então RALIS, Regimento de Artilharia Ligeira  (unidade militar sediada em Sacavém).  Porém, Maia recusa-se a prosseguir para dentro de Lisboa a participar noutros confrontos e regressa a Santarém com a coluna militar.  Estas opções muito pessoais de Salgueiro Maia acicataram contra ele “ódios” mais antigos – sectores houve que nunca lhe perdoaram a notoriedade alcançada no dia 25 de Abril de 1974 –  e provocaram retaliações iníquas  contra ele.  Cedo foi “desterrado“ para os Açores e, no regresso, foi atirado para o comando do Presídio Militar em Santarém como formas de o afastarem de comando operacional de tropas e blindados dentro da “sua” EPC…

Vontade de “revanche” política e e pessoal !

O sentimento de pura “revanche” (ajuste de contas) política e pessoal, esteve, aliás, sempre presente em alguns dos operacionais envolvidos no golpe do 25 de Novembro.  Sobretudo, visavam a chamada ”esquerda militar” e o PCP como tal.  Por exemplo, a um desses operacionais – o então major  Jaime Neves, dos Comandos – se atribui um esclarecedor desabafo em que terá exclamado que se o PCP não fosse ilegalizado logo de seguida então não teria valido a pena terem feito o 25 de Novembro…  O facto é que, no dia 26 de Novembro, o então major Melo Antunes, um militar-político dos mais proeminentes à época, membro do “Conselho da Revolução” e, neste, o “líder” do “Grupo dos Nove” que se opusera ao general Vasco Gonçalves, sentiu a necessidade de vir a público defender o PCP e a actividade por este desenvolvida.  Por algum motivo fez ele isso – era um democrata – mas que travou a sede de revanche de vários outros contra o PCP, lá isso travou ele e honra lhe seja feita !

Sim, o 25 de Novembro de 1975 iniciou-se ainda a 11 de Março desse mesmo ano e ambos os golpes tiveram a mesma e inicial inspiração política (de direita), militar, embora com resultados antagónicos.

Quem os viveu com consciência do que estava a acontecer e com que objectivos acontecia, sabe disso mesmo !  Agora, não pretendam alguns vir aldrabar a História, anos depois.

O 25 de Abril foi uma Revolução democrática, popular a patriótica !  O 25 de Novembro foi uma golpada bem urdida em que alguns “aventureiros” pisaram a “casca de banana” e acabaram por dar um pretexto para o ataque aplicado, a fundo, pelos seus maiores adversários…  Avé !

 

 

 

 

Autor: João Dinis, Jano

 

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