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A amnésia dos políticos sobre o interior… Autor: Fernando Tavares Pereira

Assisti com alguma regularidade aos debates televisivos entre as diversas forças partidárias candidatas às legislativas de 10 de Março e foi com grande tristeza que notei que o interior foi completamente ignorado nos discursos e nos programas partidários. Nenhum dos candidatos defendeu estes territórios tão esquecidos e que têm sido alvo de tantas promessas, mas não têm a força dos votos para que os deputados sintam necessidade de as cumprir. Não seria, por isso, benéfico alterar lei eleitoral, a bem da coesão territorial do país e do combate às assimetrias regionais? Em minha opinião essa lacuna tem de ser colmatada. O país é o mesmo e as necessidades são iguais. Estejamos nas grandes cidades ou no interior. Só que, na verdade, o que temos assistido, quando falam dos territórios de baixa densidade, é apenas para a caça aos escassos votos que ainda por aqui existem. E, infelizmente, até os poucos candidatos que podemos eleger se esquecem de quase tudo após o acto eleitoral, ignorando todos os seus compromissos.

Para ver o esquecimento a que estas regiões estão votadas, basta recordar os incêndios de Outubro de 2017. Nessa altura, foram feitas inúmeras promessas, mas ainda hoje há milhares de pessoas que não receberam ou tiveram qualquer apoio. Tendo alguns abandonado uma região já depauperada de população.  Não podemos voltar a acreditar nas pessoas que tudo prometeram e pouco fizeram.

Depois temos a parte social. Como pode viver um reformado com 200 ou 300 euros de reforma por mês nestas regiões que não têm médicos, transportes públicos, justiça e onde quase não existe qualidade de vida? Esta quantia mal dá, em alguns casos, para o valor mensal a pagar pelos medicamentos.  Onde está a qualidade dos nossos políticos regionais e nacionais para defender esta causa onde a fome e a miséria cada vez mais imperam? Já deveriam ter concretizado as promessas feitas há dezenas de anos, mas nunca cumpridas. O que aumentou, como atrás já referimos, nesta região, foi simplesmente a desertificação, a fome e a miséria, perdendo-se ainda as já poucas condições de vida existentes para muitos daqueles que acreditaram viver no interior de Portugal.

Tendo sido e continuando Portugal a ser um país de emigrantes, os portugueses, quando escolhem um local para trabalhar e viver, são os primeiros a respeitar o país de acolhimento e a suas as leis, assim como tratar de arranjar as condições de habitabilidade para que, pelo período que por lá estiverem, tenham condições mínimas de vida.

Não sou contra imigração. Pelo contrário. Também fui emigrante. Trabalhei muito fora do nosso país, respeitando as regras dos mesmos por onde andámos. Assim como aqueles imigrantes que escolheram Portugal para trabalhar e viver devem respeitar as nossas leis. Só que, na verdade, em alguns casos, não é isso que acontece.

O Governo deveria ter acautelado que esses imigrantes iriam para locais do país onde não faltasse trabalho e habitação para que não tivéssemos os graves problemas que neste momento se colocam nos grandes centros urbanos. A quantidade é tão elevada que já há um excedente de mão de obra estrangeira e lamentavelmente existem dezenas de milhares de pessoas sem habitação digna, a fim poderem ter uma vida estável.

Mais uma razão para os responsáveis olharem para o interior do país. A imigração poderia ser uma oportunidade para ajudar a combater as assimetrias regionais e a desertificação. Temos locais com tanta habitação abandonada, porque não tomar as medidas necessárias, criando medidas de apoio e incentivo fiscal para que as populações e as empresas se instalem nestes territórios, o que seria um passo enorme para que a tão propalada coesão territorial se concretize. Assim, haveria condições para a população, incluindo os imigrantes, para as empresas e para estes territórios se desenvolverem. Uma coisa é certa não podemos mandar embora todos aqueles que queiram investir em Portugal e ter cá um local de residência. Em minha opinião todos os imigrantes são bem-vindos e se trouxerem investimento para o nosso país, melhor.

A escolha é nossa. Todos aqueles que votam escolham em consciência quem nos pode ajudar a desenvolver o país. Não vamos acreditar mais uma vez na mentira. Vamos apoiar quem nunca nada nos prometeu.

 

 

Autor: Fernando Tavares Pereira

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