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A Arte e a Crítica… Autor: Rui Campos

Não é a mesma fotografia, mas é exactamente a mesma cena e ambas as fotografias estão editadas seguindo exactamente os mesmos critérios e padrões.

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Enquanto a fotografia da esquerda se consegue ler de imediato como um todo, a fotografia da direita leva mais tempo a interpretar. E levar tempo a interpretar não é nada mau quando a cena tem um elemento que se pretende fazer destacar de todos os outros. Quando estamos perante uma cena que vale pelo seu conjunto é diferente.

As cores em fotografia são muitas vezes distractivas. A Teoria da Gestalt diz e prova entre outras coisas que o nosso cérebro apenas consegue interpretar uma forma de cada vez. Se numa fotografia a cores há muita riqueza de cor e não se destacam elementos, aquilo que o cérebro humano vai fazer é procurar interpretar (no caso da imagem da direita) cada folha, com a sua forma e cor diferentes isoladamente e só depois procurar formar o todo da imagem. Na fotografia da esquerda isso não acontece e é por isso mesmo que a fotografia da esquerda ganha requinte, facilidade de leitura e mantém ainda a riqueza de tons da fotografia da esquerda.

O Outono é perfeitamente fotografável, mas as condições de luz requeridas para fotografar o Outono e aproveitar toda a riqueza de cor e respectiva saturação que esta estação pode dar são mais exclusivas e não aparecem a qualquer instante. E desenganem-se, não há Photoshop que dê saturação a uma cor se esta não tiver luz a incidir sobre ela.

Normalmente quando alguém fotografa cenas outonais à sombra e depois lhes satura as cores, o que está a fazer é asneira porque a imagem fica irrealista. A Luz que vem do Sol, tem propriedades específicas e estas não podem ser conferidas por um programa de edição. Ontem, no local em que eu fiz estas fotografias estava Nevoeiro.

Quando se está nevoeiro as condições de luz permitem-nos registar todo o detalhe de uma cena. Ora bem, se quando podemos registar detalhe numa fotografia, de seguida a carregamos de cor que não brilha porque não recebe luz e ainda por cima não encontramos elementos que se destaquem nas cenas e simplifiquem as imagens, aquilo que conseguimos é apenas uma coisa: Dizer que andámos a fotografar o Outono. Sucesso, nem por milagre.

Em fotografia MENOS é MAIS. O Preto e Branco é intemporal por isso mesmo. As cores trabalham sempre em conjunto umas com as outras. Se estivermos a fazer fotografia em situações controladas podemos trabalhar as cores e sobrepor objectos com cores complementares para assim realçar elementos principais contra fundos, recorrendo aos jogos de cor. Os pintores de forma geral conhecem este princípio e trabalham as cores desta forma.

Como sabemos muito bem, em fotografia, ao invés da pintura e do desenho, as cenas conseguem-se por aglutinação, não se constroem. Por isso, as cores são perfeitamente aleatórias e diz-se por isso que a cor em fotografia é muitas vezes distractiva.

Também é senso comum dizer-se que as fotografias a preto e branco têm aquele “je ne sais quoi” que lhes confere charme e distinção. Na prática é porque se elimina a cor como elemento distractivo e facilita a leitura das imagens.

Como sempre disse aos meus formandos, é tão importante aprender as questões técnicas e teóricas da fotografia como o é ser capaz de defender o nosso trabalho e justificá-lo perante a crítica.

Gosto de dar o exemplo e está aqui a minha defesa do trabalho que apresentei ontem perante algumas críticas que surgiram por eu ter editado as fotografias de cenas do Outono a preto e branco. Eu acho que ainda há muito Outono para além do Ocre.

Ao chegar ao local onde pretendia fotografar entendi as condições de luz e defini a minha abordagem ao local e às cenas mediante as condições de luz de que dispunha.

Claro está que também sabia que ia ser criticado por ter apresentado o trabalho em monocromático, ainda assim defendi a minha bandeira e justifico-a. Quem me lê sabe perfeitamente que considero a capacidade de justificar um trabalho que se apresenta como condição básica e essencial para que alguém envergue o título de Fotógrafo… ou de pintor, ou músico. Se não se defende o trabalho que se produz, dificilmente se provará que se sabe o que está a fazer.

Andar de câmara em punho e desfrutar de fazer mais e mais e mais igual, para acrescentar àquilo que mais e mais e mais pessoas fazem durante mais e mais e mais Outonos não é para mim.

Em fotografia é preciso ter muitas consciências para perceber os potenciais das cenas, as abordagens que podemos fazer mediante as condições do momento e de seguida como apresentar as nossas propostas visuais. E sem consciência jamais haverá diferenciação. E sim, é verdade, a fotografia às vezes tem felizes acasos. Mas para um feliz acaso há milhares de não acasos. E é preciso responder sempre por eles. Sempre!

No meu caso, neste caso, apresentei um trabalho de forma diferente que me custou críticas às quais tive de responder e justificar com exemplos. No meu caso, neste caso, as criticas motivaram este texto. Apresentei uma dezena de fotografias de cenas outonais que me valeram críticas e criaram espaços discursivos (discussões e críticas). Se tivesse apresentado uma dezena de fotografias a cores, ter-me-iam valido uns “Gosto” de pessoas que porventura nem se interessam em fotografia.

Agradeço aos críticos pela oportunidade que me deram para justificar a minha abordagem. Este trabalho, controverso tem validade não apenas pela qualidade, mas também que gerou discussões em redor dele. Só por isto, o trabalho que de início valeu críticas ganhou a legitimidade para ser apresentado ao Mundo. Pensem bem nisto.

O trabalho completo está no link em baixo. Comentem, critiquem, não se acanhem! Jamais haverá Arte sem crítica nem controvérsia.

https://flic.kr/s/aHskob4f93

Veja o meu portefólio em:

https://www.flickr.com/photos/134655139@N02/albums

Rui CamposAutor: Rui Campos

 

 

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