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“A nossa aposta é no turismo, agricultura e qualidade de vida…”

O presidente da CM de Penalva do Castelo considera que os impostos no interior deveriam descer para metade….

O presidente Francisco Carvalho lidera uma Câmara Municipal que não tem problemas de assumir que a sua grande aposta passa pelo turismo. Penalva do Castelo é assim. A equipa de Francisco Carvalho não procura grandes indústrias, mas sim parcerias que ajudem a desenvolver o turismo, aumentar a produção de vinho e outros produtos endógenos. É o caso do Grupo TAVFER que, além da exploração vitícola no concelho, cedeu ao município, em regime de comodato, o espaço onde está situado o Mosteiro da Ordem do Santo Sepulcro, único em Portugal, e que promete transformar-se num polo de atracção turística. Este autarca defende também o combate à desertificação do interior. “Nos territórios de baixa densidade, o IRS e o IRC devem ser 50 por cento inferiores aos valores cobrados nos grandes centros”, conta em entrevista ao CBS.

CBS – É um defensor da aposta no turismo. O mosteiro da Ordem do Santo Sepulcro vai ser mais um polo de atracção turística no concelho de Penalva do Castelo?

Francisco Carvalho – Não tenho dúvidas de que vai ser o principal polo, particularmente depois de protocolo que estabelecemos com a Ordem do Santo Sepulcro. Teremos um turismo religioso e arqueológico. É o mosteiro mais antigo da Ordem na Península Ibérica. Estamos muito entusiasmados, tal como os elementos da Ordem que já vieram a Penalva do Castelo por várias vezes. Acredito que será a alavanca necessária para Penalva do Castelo se transformar num destino turístico de referência. Será mais um motivo a juntar às vistas deslumbrantes de um concelho banhado por quatro rios. Com quedas de águas que oferecem uma paisagem ímpar. Aos espaços naturais, muitos ainda no seu estado virginal. Praticamente intocadas. Além disso, fizemos uma forte aposta na despoluição dos rios. Nos dez anos que estamos à frente do município já construímos 19 ETARs.

Mas o processo de restauração não foi simples…

Havia dúvidas quanto à sua viabilidade. Na primeira vez que os elementos da Ordem do Santo Sepulcro vieram aqui e viram um monte de pedras e silvas ficaram algo desanimados e não acreditaram no seu restauro. Além disso, consideravam que este espaço não tinha a dimensão suficiente para ser classificado como mosteiro de interesse nacional. Quando, no ano seguinte, lhes disse que tinha tudo bem encaminhado para reclassificar o mosteiro e que já tinha o projecto feito, aí começaram a acreditar. Foi tudo feito com cabeça tronco e membros.

O primeiro passo foi o contrato de comodato com o senhor Fernando Tavares Pereira que foi uma pessoa inexcedível no trato, na atenção e no carinho com que abraçou este projecto. Acreditou em nós, numa altura em que tinha todas as razões para desconfiar dos políticos. Sem ele nada disto seria possível. Depois seguimos os processos necessários e o edifício e a área envolvente vão estar requalificados até ao final deste ano, com várias valências.

Outra das atracções deste concelho são as vinhas…

Temos 60 por cento da população do concelho a trabalhar nas vinhas e na agricultura em geral. O sector primário é a nossa principal actividade económica. Por isso, é que todos os anos comemoramos, como hoje [segundo domingo de Novembro], o dia mundial do enoturismo. Só foi interrompido um ano devido à pandemia. De resto, é assinalado todos os anos e de modo a não privilegiar uma adega em detrimento de outra. O evento é rotativo. Há dois anos foi na Adega da Corga, no ano passado foi na Cooperativa e este ano estamos aqui na Quinta do Serrado. No próximo ano será noutra das adegas existentes no concelho. Poderá ser na Casa Ínsua que tem um hotel de charme de cinco estrelas e está ligada também a um grupo muito forte que é a Visabeira, com quem também temos as melhores relações. É outro parceiro do município. Nós acarinhamos todos os grupos económicos. Seja a TAVFER, a Visabeira ou a Adega Cooperativa que produz mais de 10 milhões de litros de vinho e exporta para todo o mundo, contribuindo para o PIB nacional.

Este é um território abençoado por Deus, desde as paisagens até às suas gentes…”

Não procura atrair indústrias?

Não. Não há cá muitas pessoas para empregar. É preferível apostarmos no turismo que oferece trabalho à juventude que está a sair das escolas. Vou-lhe dar um exemplo: em Julho abriu um restaurante em Penalva do Castelo e arrancou com 16 colaboradores. Hoje já tem 31. E todos pessoas da terra. A nossa aposta é o turismo e a qualidade de vida. A nossa zona industrial é para pequenos empresários ou empresas familiares. O futuro deste território, até pela situação geográfica, perto da A25 e próximo da capital do distrito, passa pelo turismo de natureza, assente numa numa trilogia de excelência como é a maçã Bravo Esmolfe (é uma freguesia do nosso concelho que lhe dá o nome), o vinho do Dão e o queijo Serra da Estrela. Isto além do património cultural e arqueológico. Como a Anta, que também um monumento pré-histórico situado na freguesia de Esmolfe. Aqui é tudo muito próximo. Temos uma ponte medieval a 300 metros do Mosteiro da Ordem do Santo Sepulcro e outra junto a uma praia fluvial que vamos construir. Já temos o projecto e o licenciamento por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Vamos ficar aqui ainda com mais atracções turísticas. Tudo numa área relativamente curta.

Daí a sua aposta em grupos como a TAVFER que tem empresas na área da agricultura e turismo?

A TAVFER foi uma felicidade para nós. Esta quinta já produzia vinho, mas nunca com a capacidade que o grupo do senhor Fernando Tavares Pereira lhe imprimiu. Esta empresa está cada vez mais forte. E acreditamos que também irá apostar no turismo, porque, como referiu, o grupo trabalha essa vertente.

“O interior precisa de boas vias para esbater os custos das empresas e facilitar a deslocação das pessoas…”

Francisco Carvalho

O que o leva a ter uma confiança tão grande na capacidade deste concelho atrair turistas?

Sou suspeito ao falar de Penalva do Castelo, mas há vários factores. Desde logo, a característica dos penalvenses saberem receber, o que dá uma boa imagem de marca da gente beirã. Depois, a nossa gente não tem problemas de pegar numa enxada. Aqui a mão de obra não é paga. Os vizinhos ajudam-se uns aos outros. Não temos vaidades. Este é um território abençoado por Deus, desde as paisagens até às suas gentes.

A verdade é que estes territórios continuam a perder população… Não considera necessárias medidas especificas para inverter essa situação?

O governo tem de ajudar estes territórios. É crucial que exista uma política fiscal de incentivo para atrair investidores e habitantes para estas regiões. Tem de existir uma descriminação positiva. Nos territórios de baixa densidade, o IRS e o IRC devem ser 50 por cento inferiores aos valores cobrados nos grandes centros.  Aqui só devíamos pagar metade dos impostos. Temos aqui uma qualidade de vida muito superior, portanto se houver um pequeno inventivo naturalmente passará a existir mais investimento e população nestas regiões. E quem ganha é todo o país, porque a pressão existente no litoral também não é boa.

Há muitos autarcas e empresários que se queixam também das portagens e da ausência de acessibilidades que foram prometidas e que nunca foram construídas. Também partilha dessas queixas?

O interior precisa de boas vias para esbater os custos das empresas e facilitar a deslocação das pessoas. É preciso concluir algumas vias e baixar ou eliminar as portagens em estradas já construídas. Nós, por exemplo, solicitámos que fosse incluído no PRR a ligação entre Penalva do Castelo e o nó de Chãs de Tavares, na A25, um percurso curto com perfil de auto-estrada. Permitia que as pessoas que viessem da Europa entrassem directamente em Penalva do Castelo sem terem de ir a Mangualde, obrigando depois a fazer o troço da Estrada Nacional 329 que para ser remodelada ficará muito mais cara, obrigando à demolição de edifícios e construção de pontes. Já um acesso pela parte nascente do concelho seria apenas de quatro quilómetros e resolveria todos os problemas. Os nossos governantes têm de se convencer que o interior também precisa dessas vias, para que o país deixe de se continuar a inclinar para o litoral, aliviando a pressão sobre essas áreas.

 

 

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