Home - Desporto - “A nossa região tem nesta modalidade, que é a que mais cresce no mundo, algo para alavancar o turismo”

“A nossa região tem nesta modalidade, que é a que mais cresce no mundo, algo para alavancar o turismo”

André Rodrigues, de Arganil, está entre os melhores atletas de Ultra Trail do Mundo

O atleta natural de Arganil André Rodrigues tem 36 anos é licenciado em Ciências do Desporto e praticante profissional de Ultra Trail. Está entre os melhores do mundo. No passado dia 24 de Junho, em Itália, foi o primeiro português a vencer uma das oito etapas do Ultra Trail du Mont Blanc Series (UTMB), na distância de 80 quilómetros. Agora prepara a prova rainha deste circuito, o Chamonix Mont-Blanc, nos Alpes franceses. “É a final, das finais. Vou tentar estar entre os 10 e, se possível, entre os cinco e mesmo lutar pela vitória.  São muitos quilómetros a correr pela montanha, tudo pode acontecer”, conta em entrevista ao CBS. “Ali estão os melhores dos melhores”, sublinha o atleta de Folques que vê nesta modalidade uma oportunidade para a economia do interior de Portugal. “Atrai milhares de atletas, não só os que vão competir, mas também aqueles que participam de forma recreativa e aqueles que vêm assistir. E nós temos um terreno e paisagens magnificas, desde logo com as várias serras, com a da Estrela à frente”, atira o desportista que corre com o patrocínio de uma equipa italiana.

CBS- Como foi conseguir a primeira vitória numa etapa do Ultra Trail du Mont Blanc Series?

André Rodrigues – Foi algo de fantástico. No ano passado tentei a distância maior, mas tive de desistir. Este ano acho que a prova se adequava mais a mim. Primeiro com subidas, depois a descer. Gosto de correr, mas também de trilhos. Foi fantástico, fantástico!

Com essa vitória conseguiu a presença no Ultra Trail Chamonix Mont-Blanc, nos Alpes Franceses?

Por acaso já tinha conseguido um pódio numa das provas da série, a que se disputou nas Canárias, Espanha. Já estava apurado. Mas chegar como vencedor de uma etapa tem outro sabor. Nesta prova vai estar representada a elite das elites. É a final, das finais. Só quem conseguiu um pódio nas provas anteriores pode participar. Há as distâncias de 170, 100 e 56 quilómetros, é nesta última que eu vou correr. Paralelamente, junto com os profissionais vão estar presentes milhares de atletas que chegam apenas pelo prazer de participar. São pessoas que se inscreveram e o seu nome foi sorteado.

Quais os objectivos entre os melhores dos melhores?

Terminar entre os dez primeiros e se as coisas correrem bem procurar entrar nos cinco primeiros ou até lutar pela vitória. É algo muito difícil. Há ali atletas que são quase impossíveis de alcançar. Mas temos de ter esperança. Tudo pode acontecer quando se correm mais de 50 quilómetros em montanha, com muitos trilhos arriscados…

Como é que surgiu o Ultra Trail na sua vida?

Fui a Espanha e assisti a uma prova. Fiquei siderado. Viciado. Nunca mais parei. Transformei-me em especialista no Utra Trail na distância entre os 50 e os 100 quilómetros. Sou pentacampeão nacional e estou entre um pequeno grupo que neste momento pode viver em exclusivo da prática da modalidade.  Mas no futuro terei de trabalhar, porque isto não é como o futebol em que a fase da competição permite amealhar para a vida. Mas o meu percurso académico é dirigido de forma a que possa continuar a laborar nesta área na qualidade treinador. Por enquanto, sinto que estou cada vez mais rápido. Acredito que depois dos 40 anos a performance começará a descer e quando achar que não estou capaz passarei a ser um dos atletas recreativos [risos].

Qual a razão de surgirem tantos atletas no interior do país a praticar estes desportos extremos, como é o seu caso e o do oliveirense Rafael Delaunay Gomes, conhecido atleta de Triatlo e pelas suas prestações nas provas de Ironman?

No que respeita ao Ultra Trail, nós aqui temos a melhores condições do mundo para treinar. Temos as várias serras, com a da Estrela à cabeça, e trilhos fantásticos. Essa

Romeu Gouveia

pode ser uma das razões. Mas estou em crer que é algo muito português esta predisposição para desportos extremos. Somos um povo resiliente, teimoso e com um espírito que nos permite levantar a cabeça quando as coisas correm mal, o que acontece muitas vezes neste desporto. Gostamos de nos superar, somos orgulhosos. Mesmo aqueles que não fazem isto por competição gostam de chegar na segunda-feira ao trabalho e dizer que correram 50 quilómetros na serra. O povo português é assim. Mas não nos podemos esquecer do Romeu Gouveia, de Tábua, que conseguiu ser bicampeão nacional de Ultra Trail de distância curta (30 quilómetros). Treinou comigo. Infelizmente, depois de terminar a faculdade começou a trabalhar e afastou-se um pouco da modalidade. Mas tinha e tem muito talento.

Este desporto poderá ser uma forma de alavancar o turismo nesta região de baixa densidade?

Claro. É uma mais-valia. E tem um enorme potencial para crescer. Há cada vez mais gente a praticar esta modalidade. Não só pela competição, mas pelo prazer de conviver com a natureza. É o desporto que actualmente mais cresce no mundo. E nós aqui temos tudo. Montanhas, natureza, trilhos e estou convencido que as entidades vão ter de olhar com olhos de ver para esta modalidade. É uma janela de oportunidade notável. Estamos a falar do desporto que mais cresce a nível mundial e que por cada prova arrasta milhares de participantes. Com dois tipos de intervenientes: aqueles que correm pela montanha para ganhar e os restantes que chegam para fazer o percurso e sentirem o prazer de fazer algo extraordinário, calmamente, apreciando a paisagem. Estima-se que estes últimos sejam 70 por cento daqueles que se apresentam nas provas.

O que o leva a ter a certeza de que esta deve ser uma aposta das entidades competentes?

Vamos a factos. Arganil já se apercebeu destes importantes “recursos naturais”. Já organiza, desde 2018, uma prova: os Picos do Açor. Vai em três edições, a maior prova tem apenas 32 quilómetros, mas já consegue atrair 1400 participantes. É a segunda maior competição do concelho a seguir ao Rali. É muita gente. Depois temos o Oh Meus Deus, em Seia, que conta com muitas, mas muitas centenas de participantes, inclusive estrangeiros. Tudo isto mexe com a economia. Muitos deles depois regressam para cá treinar. Outros voltam para visitar tranquilamente locais de interesse que observaram de passagem quando participavam na prova. Este desporto é, sem dúvida, algo que pode ajudar o interior e que os nossos autarcas devem explorar. Há procura e nós temos os locais ideais, portanto….

Tem experiência na área…

Sim e penso que poderíamos ter uma prova de referência. Enquanto atleta e com algum conhecimento na área, estou disponível para contribuir a ajudar a minha terra, a minha região e este desporto. Só para se ter uma ideia do crescimento da modalidade em Portugal, ao dia de hoje, a Associação portuguesa e Trail conta já com 11 mil sócios.

Quais as qualidades mais importantes para um atleta de Ultra Trail?

Conhecer os seus limites. Há muitos atletas que, infelizmente, levam o esforço ao limite e muitas vezes dá maus resultados. Com lesões que ficam para a vida. Conhecer o seu corpo é um ponto fundamental. Mas um bom atleta tem de correr bem. Ter força e destreza. Não é como noutras modalidade que é só correr em frente. Aqui, há descidas muito técnicas e de grande risco, com declives enormes. Insisto, todos aqueles que começarem a praticar a modalidade tenham em atenção até onde podem ir, porque todo o ser humano tem os seus limites. Depois é treinar muito. Correr todos os dias, muitas vezes duas vezes ao dia. E saber retirar tempo para descansar.

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