“Pode enganar todas as pessoas por algum tempo, e algumas das pessoas o tempo todo, mas não consegue enganar todas as pessoas o tempo todo”.
(Abraham Lincoln)
Esta frase que é erradamente atribuída ao 16º Presidente estadunidense, pois quando ele nasceu em Fevereiro de 1809 já era há muito um ditado popular deveras proferido nos EUA, mas na sua forma reduzida “You cannot fool all the people all the time”. Este adágio acabaria por ser o resultado do resumo da frase escrita pelo verdadeiro criador (“… ont pû tromper quelques hommes, ou les tromper tous dans certains lieux & en certains tems, mais non pas tous les hommes, dans tous les lieux & dans tous les siécles.”), o protestante francês Jacques Abbadie, em 1684 no seu trabalho apologético intitulado: “Traité de la Vérité de la Religion Chrétienne”.
Como a verdade é corrompida tanto pela mentira como pelo silêncio, não podia partilhar deste mutismo viral que parece ter infectado a maioria dos oliveirenses e deixar passar em claro mais um dos vários embustes proferidos pelo presidente da edilidade em plena Assembleia Municipal. Refiro-me particularmente à situação da ETAR do pólo industrial da Cordinha que, segundo o autarca, “se encontra a funcionar plenamente e disponível para receber mais esgotos para além dos da padaria” que recentemente se instalou no referido pólo industrial.
Uma ETAR desatualizada desde a sua construção e sem qualquer arranjo ou melhoria. Uma ETAR que nunca funcionou desde que foi edificada há mais de vinte anos por não reunir as condições necessárias. Uma ETAR que está próxima, mas obsoleta, obrigando o saneamento de Aldeia Formosa a ser tratado na ETAR de Vila Franca, a cinco quilómetros de distância. Esta ETAR ficou agora por artes mágicas capaz de receber os esgotos da padaria e mais que houvesse, se houvesse mas que, por enquanto, não há. É pena que estas magias não tivessem acontecido quando o pavilhão branco, que alberga (para além do passado Dezembro) o material que saiu da ACIBEIRA, ficou concluído e pronto a receber a carpintaria que há muito namoravam para que aí se instalasse, cujos interessados muito para isso trabalharam. Sendo na altura o município o maior interessado.
Temos que tirar o chapéu a este inefável presidente, que assistido por “divindades latrinais”, desconhecidas pelo resto dos mortais, conseguiu transformar este problema até aqui irresolúvel, num mar de oportunidades para a trampa existente e para a trampa que há-de vir. Podem ficar descansadas as gentes de Aldeia e do Seixo, pois num futuro próximo deixarão de ter dificuldades com o resultado de defecações, complicações de dejecção, implicâncias de evacuação e afins, pois este nosso presidente declarou uma guerra local cerrada aos problemas que a fezes, excrementos e urina digam respeito.
Há sempre uma consabida solução para qualquer problema humano – simples, plausível e errada, logo para cumprir com padeiro, o que não cumpriu com carpinteiro, ficando a bem com a Junta de Freguesia levou o edil a usar a rede de saneamento existente e a utilizar a ETAR simplesmente como um depósito drenado para o esgoto que lá chega. Estranho parece ser esse trabalho de saneamento não ser feito pela empresa que fornece a água, tendo a CMOH que pagar na mesma o serviço. Mais admirado fico ao saber que, para além dos “serviços camarários” da água e saneamento auxiliados por uma equipa multidisciplinar, com mais de vinte elementos e coadjuvados por a empresa H2Org e pela BLC3, deixem o presidente garantir “que a ETAR está a funcionar convenientemente”, pois pouco antes de alegar esta falácia tinha justificado o brutal aumento de ordenado (50%) com que presenteou o líder da equipa por ele ser imprescindível. Nota-se a imprescindibilidade.
A confiança do ingénuo é a arma mais útil do mentiroso, no entanto, abusar da candura deste povo pode trazer dissabores. As pessoas simples, singelas e lhanezas não merecem ser enganadas e o Sr. Presidente não teve nenhum respeito para com elas quando lhes garantiu que o seu saneamento está a ser tratado convenientemente.
Estará Sr. Presidente? Não está. Está a sair dos tanques sem qualquer tratamento, está a poluir com defecos, urinas, gorduras, etc., os terrenos e as linhas de água adjacentes à ETAR. Razão tinha o professor João Dinis quando lhe disse “que cheirava mal” e o aconselhou “a ver se estava a funcionar como deve ser”, pois o que se está a passar é um possível crime ambiental que o Presidente criou e sabe que está a acontecer, embora tente tapar os olhos aos que veem bem o que está por baixo, melhor veem o que está por cima e que não queriam ver o que está atrás.
Após revisitar o local com o 1º Eleito, Sr. António Lopes, confirmou-se que os esgotos da padaria estão efetivamente a descarregar para os tanques mas sem qualquer tratamento que a uma ETAR diga respeito, pois para além de uma possível mas não garantida mistura das massas com os líquidos tonando o esgoto mais fluido, os tratamentos preliminar, primário, secundário e terciário não são feitos. Também a remoção de nutrientes como desinfecção das águas residuais não são praticados nesta ETAR. Na realidade o ramal só está a permitir afastar os esgotos da padaria, pois como se deu conta, após entrarem nos tanques os esgotos estagiam e saem, descarregando para uma linha de água antiga que já existia no local que encosta à ETAR. O que se observou foi uma violação ambiental idêntica aquela que alegam ter ocorrido no “Restaurante Cristina”, só que neste caso é quinhentos metros mais abaixo.
Deixo aqui para quem possa interessar uma explicação para crianças de como funciona uma ETAR: https://www.youtube.com/watch?v=5Ie7pr3-juU
E aqui uma explicação mais elaborada, dada por crianças: https://www.youtube.com/watch?v=A8qPEh8XNNk
Espero que as fotos tiradas algumas horas depois da AM, no Sábado dia 19/09/2015 sejam elucidativas.
Autor: João Paulo Albuquerque