Home - Entrevista - ‘Algumas pessoas tentam secar tudo à sua volta’
Imagem vazia padrãoNuma grande entrevista ao Correio da Beira Serra, o antigo vereador de Carlos Portugal, que mais tarde veio a ser vice-presidente de Mário Alves na Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, diz estar saturado da “partidarite” e deixa a entender que ainda só se mantém como militante do PSD por causa das eleições internas do partido, em que deverá votar contra qualquer lista que saia da “facção” apoiada por Mário Alves.

‘Algumas pessoas tentam secar tudo à sua volta’

Martins é muito crítico em relação ao tipo de desenvolvimento que o seu antigo “compagnon-de-route” vem imprimindo ao concelho – “nós, oliveirenses, não podemos perder mais tempo – e, sem nunca citar nomes, diz que o presidente da Câmara “tenta secar tudo à sua volta”. Mas nesta entrevista, Martins também envia uma farpa para o interior da sede do PSD, ao aconselhar o líder do partido a ter cuidado com algumas “ambições de protagonismo”por parte de pessoas que acompanham José Carlos Mendes na comissão política concelhia.

Correio da Beira Serra – O que é que faz um “histórico” do PSD andar hoje tão arredado da política local?
Francisco Martins –
Saturei-me da “partidarite” que se vive neste país. Hoje, o quadro partidário nacional não me diz absolutamente nada porque todos vemos as verdadeiras porcarias por que passa este país, como os jogos de interesse e os jogos mesquinhos entre partidos. Mantenho ainda a minha condição de filiado no PSD, contra a minha vontade, e espero que seja por pouco mais tempo. Vivi intensamente a política concelhia durante 10 anos – sempre vivi muito mais a política local do que a política nacional –, mas a gente chega a um ponto que também satura e eu saturei-me. Mesmo a nível local, os acontecimentos começaram a não me agradar.

CBS – Diz que mantém a sua condição de filiado no PSD, mas por pouco tempo. Porquê?
FM –
Eu não queria pessoalizar estas coisas, mas enquanto sentir e perceber que o meu voto – em termos locais – possa ser útil ao bem do concelho, manterei a minha filiação. Por isso, espero que dentro de pouco tempo possa pedir ao partido que me desligue…

CBS – É uma resposta um tanto ao quanto subjectiva…
FM –
É… mas perceberá porquê. Quando o meu concelho tiver um caminho, um ritmo e um objectivo bem definidos e que agrade a todos os oliveirenses, a minha condição de militante deixa de ter interesse. Isto poderá parecer um absurdo – que o é –, mas eu quero pensar que Oliveira do Hospital, e não falo em partidos, possa encontrar o ritmo, o objectivo e o destino que todos nós desejamos e ansiamos.

CBS – Fazendo uso das suas palavras, está a dar-nos a entender que manterá a sua militância no PSD até às próximas eleições, que deverão ocorrer em Abril?
FM
– Em princípio é isso.

CBS – Tem um sentido de voto já pré-determinado?
FM –
Tenho. Quem me conhece e a minha maneira de ser e a minha personalidade, facilmente perceberá qual é o meu sentido de voto nas próximas eleições partidárias. Mas quero dizer-lhe uma coisa: não me interessa a facção “A” ou a facção “B”, interessa-me uma facção – a facção Oliveira do Hospital. O que me interessa, acima de tudo, é que o concelho de Oliveira do Hospital, no seu todo, venha a beneficiar com as eleições que se aproximam.

Imagem vazia padrãoCBS – Acha que essa facção “Oliveira do Hospital” está personalizada no actual líder do PSD, o professor José Carlos Mendes?
FM –
Só o futuro o dirá. Sabe que do professor José Carlos Mendes, tenho uma opinião que não é de agora, mas que vem do tempo que o conheci. Nós facilmente verificamos que é uma pessoa de respeito, que respeita e sabe ser respeitado, que sabe ouvir… eu ainda há pouco lhe dizia que para se saber dialogar é preciso saber ouvir, mas a auto-suficiência é um dos grandes defeitos da condição humana. O “eu, quero, posso e mando” e o “eu é que sei tudo, tu não percebes nada”… isso não! O professor José Carlos não se enquadra neste tipo de perfil de pessoa. É uma pessoa dialogante, uma pessoa simpática, que sabe, que conhece e, portanto, quero acreditar que ele possa levar a bom termo o projecto que protagonizou. Quero acreditar. Oxalá eu não me venha a desiludir, mas também vos quero dizer uma coisa: o professor José Carlos tem que ter muito cuidado em termos de protagonismos – não ele, porque não é sedento de protagonismo –, mas no grupo que o acompanha, ele deve ter um pouco de cuidado com determinado tipo de ambições de protagonismo. Não vou dizer-lhe quem porque não interessa, mas ele deve ter cuidado com isso. Ele com certeza já se terá apercebido disso mesmo, porque não é burro e tem inteligência e discernimento suficientes para perceber quem pode e quem não pode acompanhá-lo numa eventual lide autárquica. Nós não sabemos o que é que isto vai dar, mas eu continuo a dizer-lhe que para mim é indiferente que ganhe a facção “A” ou a facção “B”, desde que ganhe o concelho. Nós até corremos o risco de no próximo ano vermos mais uma lista de candidatos à Câmara.

CBS – Está a falar de um PSD partido “ao meio”?
FM –
Imagine dois PSD´s e uma lista de independentes. Claro está que quem virá a tirar dividendos desta situação – se souberem trabalhar – é o PS, obviamente, já que é o grande partido da oposição no concelho. Mas volto a dizer-lhe que o importante é que ganhe o concelho de Oliveira do Hospital porque nós, oliveirenses, não podemos perder mais tempo.

CBS – Vê, de alguma forma, alguns anticorpos em pessoas que acompanham o professor José Carlos na comissão política do PSD, uma vez que subjectivamente já deu a entender isso, ao deixar um recado ao presidente do partido?
FM –
Quando em 1997 ficou definida a lista para a Câmara – lista que eu integrei –, eu gostava de saber por que é que determinados elementos passaram a olhar para mim de lado. Estou a falar de pessoas que eu sempre estimei, que sempre respeitei e por quem tive sempre muita cordialidade, a todos os níveis: pessoal, profissional e familiar… e eu gostava de saber por que é que começaram a olhar para mim de lado! A partir de meados do mandato, eu gostava de saber por que é que deixaram de me falar… se continuei a respeitá-los, a estimá-los, a cumprimentá-los e a falar-lhes bem, por que é que deixaram de me falar? Hoje, que precisam do meu voto, foram bater à minha porta e eu tive que lhes perguntar: – Vocês aqui… agora?! Não estou a perceber nada! – Ah, lá está você com as suas brincadeiras. – Não estou não, estou a falar a sério! – Um dia destes conversamos, disseram-me… mas nunca mais quiseram conversar porque sabem que eu lhes toso as orelhas. Portanto, isso causa anticorpos. E, aí, o professor José Carlos, terá que ter um bocadinho de cuidado.

CBS – Diz-se que o prof. Francisco Martins – esta afirmação até já foi feita, por outras palavras, pelo próprio líder do PSD – foi mais um dos que o Prof. Mário Alves “correu” da Câmara, passe a expressão, à semelhança do que terá acontecido com o engº. Carlos Portugal, em que o processo não foi pacífico, o vereador José Ricardo e, ultimamente, o seu chefe de gabinete, António Duarte. É de, facto, assim?
FM –
O problema centra-se sempre no mesmo ponto, que é a sede de protagonismo de algumas pessoas e de tentarem secar tudo à sua volta. Ou conseguem, ou não conseguem…enquanto estive na Câmara, contei sempre com o apoio inequívoco do engº Carlos Portugal, porque era um homem aberto, franco, leal e amigo. Ele era um homem que descentralizava tudo. Claro está que a partir do momento em que alguém, sub-repticiamente, tentava interferir na minha esfera de actuação e eu não deixava, isso criava problemas. Se eu tento atacar o terreno alheio e não posso, tenho que retirar do terreno alheio quem impede a minha entrada lá. Isto é como um jogo de futebol, em que eu quero entrar no meio-campo contrário e não deixam. Ó pá vou atirar para lá uma bomba para ver se rebento com aquilo tudo e marco golo. Respondi? Você perceberá…

CBS – Interessa-nos é que os leitores também percebam…
FM –
… sabe que eu não quero estar aqui nesta nossa conversa a focar nomes e a repetir nomes… não quero porque me aborrece e sou contra isso. As pessoas que trabalhem em paz e façam o que puderem. Só é pena é que, de facto, as pessoas não consigam ter inteligência, discernimento, pontos de vista e modos de actuação para que o concelho possa vir a beneficiar. Agora, não me levará a mal que eu responda às questões desta maneira.

CBS – Mas eu tenho que falar de nomes… como é que define o seu relacionamento, durante o período em que esteve na Câmara Municipal, com o professor Mário Alves?
FM –
Nunca intervi na esfera dele porque não tinha que o fazer. Havia delegação de competências bem claras para um e para outro e toda a minha actuação era com o presidente. Portanto, do mesmo modo que eu respeitei o campo de actuação dos outros, exigi que respeitassem o meu, embora lhe diga que nem sempre o consegui, porque aqui ou além o meu campo era invadido. Só que, quando eu sentia que essa invasão era exagerada, aí insurgia-me e impunha-me. Ora, isto vai criando mazelas, vai criando afastamento e distanciamento entre as pessoas. Eu posso dizer-vos que o meio ano final do mandato já foi quase de relações cortadas. Mas não fui eu, porque eu apenas e só não permitia que invadissem a minha esfera de actuação.

CBS – O prof. Francisco Martins, o prof. José Carlos Mendes e o prof. António Duarte trabalharam todos com o prof. Mário Alves anos e anos a fio. Partilharam lugares políticos na comissão política do PSD. O próprio prof. Martins disse-me que esteve com ele no PSD entre 1991 e 2000. Por que é que todas estas pessoas que eu citei – incluindo o prof. Martins – terão demorado tanto tempo a perceber a maneira de estar e de trabalhar do prof. Mário Alves? Será que o presidente, ou a pessoa, sofreu assim uma alteração comportamental tão grande?
FM –
Sabe que uma coisa é vivermos a comissão política e outra é viver a Câmara. A comissão política reunia de 15 em 15 dias ou de semana a semana; a Câmara é uma vida do dia-a-dia e com problemas permanentes e constantes. Portanto, só no dia-a-dia é que a gente vem a verificar verdadeiramente o que é, de facto, a maneira de ser e de se comportar de uma outra pessoa. É aí que, depois, o bom ou mau relacionamento vem ao de cima. E no meu tempo, tive um benefício extraordinário, que foi ter um homem de consensos, um homem de diálogo e um homem de respeito: o engº Carlos Portugal. Agora, quer o professor José Carlos Mendes, enquanto vereador, quer o professor António Duarte, enquanto chefe de gabinete, tinham um líder. E o líder, sabemos quem é. Se o líder exige a si todo o protagonismo das coisas e todo o sentido de orientação, não admitindo que mais ninguém possa pensar ou opinar, isso cria problemas. Eu fiquei muito admirado – isso foi tornado público – que o prof. José Carlos tenha pedido a demissão – penso que por três vezes. Se não foram três foram duas –, e que depois tenha regressado. Fiquei muito admirado quando ele da última vez, regressou. Fiquei admiradíssimo e pensei: bem, a primeira vez ainda vá lá. Pode ter sido para pôr o líder em sentido. Mas, afinal de contas, da segunda vez já não percebi muito bem. Quis talvez carregar o fardo até ao fim e carregou mas, depois, surgiram estes ressentimentos que se traduzem agora na vida interna do partido. E para mal de quem? Para mal do partido, porque no meio disto tudo o PSD só sai chamuscado.

CBS – Como é que analisa os acontecimentos que marcaram as eleições internas do partido em 2006 e que deram azo a vários processos em tribunal?
FM –
Digo-lhe uma coisa com toda a sinceridade…às vezes também expludo com alguma facilidade e dou graças a Deus por aquilo ter acontecido nas minhas costas. Eu não estava lá, porque se estivesse era capaz de também ter explodido porque, faltas de educação e de respeito num lugar daqueles e num acto daqueles, ó meu Deus…. Ó meu Deus, eu também explodiria e seria também uma das vozes a berrar bem alto e a chamar nomes não sei a quem…

CBS – Acha que houve excessos de parte a parte?
FM –
Não sei. Para lhe dizer que houve excessos de “A” ou de B” eu devia tê-lo ouvido e presenciado pessoalmente. Mas, felizmente, não estava. Portanto, custa-me estar a dizer que tem razão a facção “A” ou a facção “B”. Limito-me àquilo que me foi dito no próprio dia por telefone e, depois, em conversa com amigos e com alguns dos protagonistas. Mas só ouvi uma das partes, porque a outra…

CBS – Não há diálogo… ~
FM – Não querem ter diálogo comigo, muito bem. Eu respeito, também só dialogo com quem eu quero.

CBS – No feirado municipal deste ano, alguém o convidou para ir assistir à cerimónia de entrega da medalha de ouro do Município ao Engº. Carlos Portugal?
FM –
Ninguém. Soube da notícia pelos jornais e, como já lhe disse, chorei a rir com o cartoon do Correio da Beira Serra porque o cartoon traduz fielmente a minha maneira de pensar. Uma coisa lhe garanto: quem me conhece e conhece a minha personalidade, facilmente se apercebe que seria aquela a minha resposta: – “havia de ser comigo, que eu dizia-lhe onde é que lha metia (a medalha)”… risos. Mas… não fui convidado, mas também lhe digo que se lá fosse seria pelo muito respeito que tenho por um dos homenageados, o engº Carlos Portugal.

CBS – Apesar de ser um histórico do PSD que está arredado da política local, tem com certeza uma visão sobre o desenvolvimento que o concelho de Oliveira do Hospital tem atravessado nos últimos anos. Qual é a sua análise?
FM –
O nosso concelho não pode continuar a viver à custa da obra pequenina e da obra do voto. Então vamos continuar com os bocaditos de alcatrão, com os bocaditos de calçada, com a lâmpada ou o subsídio à caça dos votos? Onde é que estão as obras estruturantes e que são aquelas que verdadeiramente definem o desenvolvimento do concelho? Nos quatro anos em que eu estive na Câmara, o engº Carlos Portugal travou uma grande luta pela biblioteca, pela central de camionagem e a feira mensal….

 

“O concelho não pode continuar a viver à custa da obra do voto”

CBS – A feira está em obra. Ainda há pouco lá passámos… 
FM – … ao fim de tantos anos. Custou! Onde estão as zonas industriais, que é outra vergonha? Agora com um empréstimo de 5 milhões de euros, será desta que vamos ter central de camionagem e uma biblioteca? O que o Engº Carlos Portugal andou para Lisboa para conseguir um entendimento com o secretário-geral do Ministério da Justiça, no sentido de as casas dos magistrados serem facultadas à Câmara. Isso conseguiu-se, mas depois parou e emperrou. Então, mas até quando? Eu não sei o que é que se passa actualmente com a biblioteca, mas no meu tempo a responsável pelo sector da cultura da Gulbenkian, ameaçou-nos por mais do que uma vez, que deixavam de mandar livros para Oliveira do Hospital e que poderiam até terminar a colaboração com a Câmara, porque não havia condições. Então, mandavam livros para ficarem fechados em caixotes? Não pode ser. Portanto, Oliveira do Hospital tem que andar, mas com obras de vulto que desenvolvam o concelho no seu todo.

CBS – Mas na sua freguesia – Nogueira do Cravo – se calhar tem havido um investimento municipal como nunca se terá visto noutros tempos…
FM –
De facto, a minha freguesia tem sido uma das bafejadas. Porquê? Não sei… será só pelo número de eleitores, será por outros factores? Quem manda é que sabe, mas o que interessa é que haja obras. Agora, o que eu não posso conceber é que aquando do arranjo das rotundas de Nogueira do Cravo, o proprietário de um terreno diga ao presidente da Câmara isto: “Senhor fulano, se querem alargar a estrada para o Senhor das Almas aproveitem agora que eu dou o terreno e se não for agora nunca mais”, e que depois a resposta seja esta: –“isto está muito bem, serve”. Ora, nós sabemos que hoje a estrada Nogueira/Senhor das Almas é a de maior movimento da freguesia e é a porta de entrada e de saída de Nogueira do Cravo. É uma estrada que merecia correcção e alargamento e a resposta foi esta. Isto é triste…e isto não me foi dito por interposta pessoa, mas sim pelo próprio proprietário do terreno, que me viu por ali a ver o desenrolar das obras e disse-me: – “Ó senhor fulano, mas afinal de contas com que é que nós estamos? Eu disse isto ao senhor presidente da Câmara e ele disse-me que isto está muito bem e não é preciso mais nada. Francamente. Um concelho não pode viver assim. Nós precisamos que desenvolvam o concelho no seu todo.

Não é a obra na freguesia “A” ou na freguesia “B”, é a obra que serve 21 freguesias. E qual é? Meio milhão de contos no Mandanelho? Para quê? Para inviabilizar o Mandanelho para determinado tipo de eventos, nomeadamente a Ficacol? A Ficacol, com todos os defeitos que pudesse ter, ainda era a grande montra e o grande ponto de encontro anual do concelho de Oliveira do Hospital. Acabou-se, porquê? Olhe, eu não percebo… Portanto, nós precisamos é de obras estruturantes. O caso do IC 6 e do IC 7, por exemplo, eu tenho dito muita vez e estou esperançado que agora, com o Dr. Paulo Campos, nós possamos vir a ter realizadas essas obras, porque também se não for com ele também nunca mais será na vida. Esta é uma obra fundamental ao nosso desenvolvimento, assim como as zonas industriais. O problema do Seixo é uma vergonha, é uma falta de respeito para com o prof. César Oliveira, para com as pessoas da Cordinha. Então, mas aquilo é uma birra ou é o quê? E o alargamento da Zona industrial de Oliveira do Hospital. Então, estão ali os terrenos para quê? É assim que nós vamos a algum lado? Na minha freguesia, por exemplo, só em campanhas eleitorais é que se fala em zonas industriais… mas é só nas campanhas eleitorais e, pelo menos que eu tenha observado, ainda não foi dado um passo. Assim, o concelho não pode andar.

CBS – No tempo do prof. César Oliveira, o governo de Cavaco Silva financiou várias obras importantes no concelho de Oliveira do Hospital, como a estrada Oliveira-Nelas, por exemplo. Depois veio o engº Carlos Portugal e o governo de António Guterres – estamos a falar de governos com “cores” diferentes dos partidos que governaram a Câmara – também financiou várias obras no concelho, como a remodelação do edifício da Câmara Municipal, a Escola do Vale do Alva e a criação da Escola Superior de Tecnologia e Gestão. Acha, de alguma forma, que este executivo não se sabe movimentar nos corredores do poder central?
FM –
Dou-lhe uma resposta indirecta e é uma resposta óbvia. Um presidente da Câmara não pode estar fechado num gabinete. Se estiver fechado no gabinete, está a fechar as portas ao concelho. Eu admiro muito – para não falar em mais – os concelhos de Tábua e Carregal do Sal. O que estes concelhos se têm desenvolvido…olhe o caso de Nelas. Com certeza que os presidentes de Câmara destes concelhos nem sempre tiveram no governo pessoas do seu próprio partido. O professor César soube entrar pelos ministérios dentro; o engº Carlos Portugal, dados os muitos conhecimentos que tinha – especialmente em Coimbra, que é uma zona de influência política grande – soube entrar pelos meandros do poder. Então por que é que agora não se entra?

CBS – Antes da entrevista, estivemos a falar do seu passado ligado à educação, como delegado escolar, vereador da educação, e falava-me da necessidade de se construir uma escola de raiz em Oliveira do Hospital para o 1º Ciclo de Ensino Básico…
FM –
Eu sempre defendi os agrupamentos. Há cerca de 30 anos, quando foi criada a Escola do Senhor das Almas, os alunos de Senhor das Almas iam para Nogueira. Alguns deles, eram meus alunos. Nesse tempo, a direcção escolar perguntou ao director da escola de Nogueira, que no caso era eu, a sua opinião. E eu já nessa altura defendia a centralização dos alunos. Centralizem-se os alunos, mas criem-se as condições, porque também não se pode centralizar por centralizar. Acho que Oliveira do Hospital necessita de um novo edifício escolar, porque aquele que existe, mesmo arquitectonicamente nunca foi feliz…pelo menos para aquela função.

CBS – Acha que é um erro a Carta Escolar não ter contemplado a construção de um novo edifício?
FM –
Penso que sim, porque Oliveira do Hospital, para o número de alunos do I Ciclo que tem – os da cidade e aqueles que vêm de fora, a acompanhar os pais – merecia um edifício com todas as condições de exposição, de salubridade e, depois, com os requisitos que hoje se exigem: uma ludoteca, a parte informática, a cantina, o ginásio, etc. Oliveira do Hospital merece uma escola assim há já muitos anos. Mas também lhe devo dizer, que me agradou ter tido conhecimento que levaram algumas turmas do 4º ano do 1º CEB para a sede do Agrupamento. Descongestionaram o actual edifício e os alunos, se não fossem este ano, iam para o ano… já foi um passo, mas independentemente disto, Oliveira do Hospital precisa que o 1º CEB continue a ser objecto de muita atenção. Entendo que o Agrupamento Brás Garcia de Mascarenhas é muito grande, não quero com isto dizer que funcione mal – porque tanto quanto sei, acho que funciona bem –, mas parece-me um agrupamento demasiado alargado em termos de população. Por que não subdividi-lo, por que não fazerem-se outros mini-agrupamentos?

CBS – O prof. Martins, enquanto vereador do engº. Carlos Portugal, teve nas mãos o pelouro da Educação. Se hoje tivesse em cima da mesa o dossiê da ESTGOH, cuja polémica se prende essencialmente com o atraso na construção das novas instalações e também com alguma indefinição sobre a sua localização – já que se vem falando na possibilidade de ser construído um campus universitários nas antigas instalações da Acibeira –, qual seria a sua sensibilidade sobre este assunto?
FM –
Recorda-se da guerra que houve quando o senhor comendador Serafim Marques se dispôs a oferecer um terreno para que a ESTGOH fosse construída em S. Paio de Gramaços? Criou-se aí uma guerra, porque muitos achavam que a ESTGOH tinha que ficar na cidade. Eu não percebo muito bem porque é que a Escola Superior tenha que estar na cidade. Claro está que se estiver na cidade, bem localizada e com instalações condignas, tanto melhor. Mas se for para Lagares da Beira, não me repugna absolutamente nada porque está ali um elefante branco às moscas. Não há que aproveitar os investimentos feitos, não há que aproveitar aquele espaço? Deixem essa discussão para os técnicos. Veja-se o que aconteceu agora com a decisão da localização do aeroporto em Alcochete. Eu fiquei feliz por ver que, finalmente, a sociedade civil vence em democracia. Impôs o seu ponto de vista – a meu ver correctamente– e fora das esferas partidárias.

Agora, em relação à ESTGOH, o que fundamentalmente interessa é que ela esteja no concelho de Oliveira do Hospital. Nós somos oliveirenses e, para mim, é-me indiferente que ela esteja em Oliveira do Hospital, em Lagares da Beira ou em Nogueira do Cravo. Importa é que esteja num lugar acessível, com condições, e onde alunos e professores se sintam num ambiente de qualidade e bem-estar. Nas actuais condições é que não, porque aquilo foi improvisado e não podemos andar toda a vida a viver no improvisado.

CBS – Qual é a análise que faz do Governo de José Sócrates?
FM –
Olhe, o futuro o dirá…

CBS – O futuro, que é já em 2009…
FM –
Isto está mau. É verdade que eles também têm tido muitas adversidades, a começar logo pelo preço do barril do petróleo, que hoje influencia muito as economias mundiais. Mas um país em que cada vez vemos mais pobres e mais ricos, infelizmente, não pode avançar. A classe média está a ser atacada e de que maneira. E um país com uma classe média enfraquecida, a meu ver, não vai longe. Tenho prestado muita atenção ao que dizem antigos ministros das finanças e, alguns deles, são unânimes ao dizerem que muitas destas medidas tinham que ser tomadas. E só são possíveis com um governo maioritário. Agora, se vêm a dar resultado ou não, não sei. Sabemos que a Irlanda, há 20 anos, passou por esta fase e avançou. Portanto, se isto for para nosso bem, tanto melhor. O problema é se não é e se continuamos na cepa torta e dela não saímos.

CBS – É céptico, portanto?
FM –
Sou. Vejo isto com muito cepticismo. E depois estas permutas, em que ministros ou estão no governo ou passam para as grandes empresas, também não caiem bem ao Zé votante, que somos todos nós. Ainda há pouco lhe falava no caso da Lusoponte: o engenheiro Ferreira do Amaral negoceia com a Lusoponte e, hoje, é o presidente da Lusoponte. Não estou a afirmar nada nem a dizer que há aqui alguma coisa de mal, mas que leva as pessoas a pensar, ai isso leva.

CBS – Uma questão de transparência de processos, não é?
FM –
Ora, claro.

CBS – E Luís Filipe Menezes, acha que é a alternativa?
FM –
Foi uma pedrada no charco. Agora, o futuro o dirá. Vamos dar-lhe tempo.

 

PERFIL…

Depois de ter começado a sua actividade profissional em 1961, como professor primário, em Meruge, Francisco Martins desempenhou vários cargos de relevo em Oliveira do Hospital. Após 16 anos de docência, esteve vários anos na delegação escolar e entre 1988 e 1998 conseguiu chegar ao lugar de delegado escolar. Na política, iniciou-se na freguesia que o viu nascer – Nogueira do Cravo. Em 1968, no tempo do Estado Novo, presidiu à Junta de Freguesia local até às primeiras eleições livres, em 1976. Com “seis contos por ano” que recebia do Governo Civil, Martins diz que nunca se reviu na ditadura, mas por força do cargo manteve vários “contactos com a PIDE”. “Volta e meia lá estavam eles. Vinham saber de pessoas que estavam em Lisboa e queriam ingressar em empresas públicas, como a CARRIS….”

Depois do 25 de Abril, diz ter sido convidado praticamente por todos os partidos políticos. “Só não fui convidado pelo PCP… mas fui convidado pelo professor Orlando de Carvalho, do MDP/CDE. O António Campos também me convidou…” Entre 1986 e 1989, voltou à presidência da Junta de Freguesia de Nogueira do Cravo, numa altura em que Simões Saraiva governava os destinos do concelho. Perde o lugar para António Valério (PS) nas autárquicas de 1989, mas, eleito pelo PSD, senta-se na bancada social-democrata da Assembleia Municipal entre 1990/93.

Nas autárquicas de 1997, integra a lista de Carlos Portugal à Câmara Municipal e, nos quatro anos seguintes, fica com o pelouro da Educação. Quando no ano de 2000, o presidente Carlos Portugal – numa reunião em Lisboa – é aconselhado por Dias Loureiro e José Luís Arnaut a suspender o mandato, Mário Alves assume-se como presidente da Câmara em exercício e, Francisco Martins, é o seu vice-presidente. Contudo, a coabitação política entre os dois não era fácil e terminaram o mandato “de relações cortadas”. Contudo – com a saída de Correia Dias, após a derrota do PSD nas autárquicas de 1989 – Martins passou 10 anos com Mário Alves na comissão política do PSD. “Havia pessoas de que ele não abdicava. Uma dessas pessoas, era eu”, disse o antigo vice-presidente de Mário Alves ao Correio da Beira Serra. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades… hoje, nem sequer se falam…

Henrique Barreto
Liliana Lopes

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