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Animais. Autor: Fernando Roldão

É um privilégio acordar escutando o chilrear dos pássaros na natureza, um “casamento” perfeito, entre esta e os seres vivos, na renovação de cada novo dia.

Muitos de nós, na azáfama do quotidiano, nem nos apercebemos da beleza destas coisas.

Vou recorrer ao famoso poema, escrito por Pedro Diniz, entre 1839-1896, recolhido por Antero de Quental na obra Tesouro Poético da Infância e que praticamente todos nós aprendemos na escola primária, para “ilustrar” este meu texto.

Palram pega e papagaio, cacareja a galinha

Os ternos pombos arrulham, geme a rola inocentinha.

Muge a vaca, berra o touro, grasna a rã, ruge o leão

O gato mia, uiva o lobo, também uiva e ladra o cão

Relincha o nobre cavalo, os elefantes dão urros

A tímida ovelha bala, zurrar é próprio dos burros

Regouga a sagaz raposa, bichinho muito matreiro

Nos ramos cantam as aves, mas pia o mocho agoureiro

Sabem as aves ligeiras, o canto seu, variar

Fazem às vezes gorjeios, às vezes põem-se a chilrar

O pardal, daninho aos campos, não aprendeu a cantar

Como os ratos e as doninhas, apenas sabe chiar

O negro corvo crocita, zune o mosquito enfadonho

A serpente no deserto, solta assobio medonho

Chia a lebre, grasna o pato, ouvem-se os porcos grunhir

Libando o suco das flores, costuma a abelha zumbir

Bramam os tigres, as onças, pia, pia o pintainho

Cucurica e canta o galo, late e gane o cachorrinho

A vitelinha dá berros, o cordeirinho, balidos

O macaquinho dá guinchos, a criancinha vagidos

A fala foi dada ao homem, rei dos outros animais

Nos versos lidos acima, se encontram, em pobre rima

As vozes dos principais

A espécie humana, nas suas atitudes, tende, sem dar conta disso, a imitar os animais e por vezes a ser pior do que os mais selvagens do reino animal.

Conhecemos muitos seres humanos, que palram como os papagaios, repetindo o que escutam, mas sem conhecerem ou compreenderem o significado do que reproduzem, com a agravante de parecerem galinhas a cacarejar.

Conhecemos muitas serpentes, que rastejam, tentando lançar o bote, para depois soltarem os seus assobios medonhos e aterrorizadores.

Muitos tentam imitar os porcos a grunhir, mas fazem-no tal mal, que até os porcos se assustam com essas imitações, outros zurram, pensando que falam.

Ouvimos muitas vezes zumbidos de enfadonhos e chatos mosquitos ou melgas, que não nos largam de forma alguma, verdadeiras especialistas em nos massacrar.

Na lista imensa destas “vozes”, há uma unidade lexical (palavra) que resulta de um processo morfológico, baseado na criação de novas palavras, tentando imitar um som natural e que se chama, onomatopeia.

Há sempre um som que corresponderá a uma “voz” e a um comportamento animalesco dentro do nosso “reino” humano.

Basta recordar que sendo humanos, temos pele de galinha, bicos de papagaio, pés de galinha, dentes de cavalo e cabeça de touro, para além de outras.

Obviamente que os principais prejudicados são os ternos pombos, arrulhando na sua inocência, bem como as inocentinhas rolas.

A águia, voando em círculos, tenta apanhar os desprevenidos coelhinhos, não falando nas muitas hienas que por aí andam,”rindo”a bandeiras despregadas, à espera de uma oportunidade para nos triturar.

Normalmente, de quatro em quatro anos, os macaquinhos fazem palhaçadas, saltam de palanque em palanque, locais onde não os podemos agarrar, guinchando assustadoramente, como se fossem os reis da bicharada.

Afinal não passamos de nobres cavalos, da raça lusitana, que só têm valor fora do seu país ou ternas e tímidas ovelhinhas que seguem cegamente o seus pastores.

Os lobos uivam e descem ao povoado, buscando carne fresca, mas cuidado com as raposas, bichinhos, bonitos mas muito matreiros.

Há muitas mais comparações, mas penso que as que dei, chegam para ficarmos atentos e alerta quando somos abordados, seduzidos ou aliciados, pois corremos o risco de encontrarmos um “animal” que nos poderá surpreender.

Afinal a fala foi dada aos homens, para que pudessem comunicar, sem onomatopeias, mas infelizmente, pelos exemplos que nos cercam diariamente, não a sabemos usar devidamente.

Há animais perigosos, mas no cimo da lista estão os camaleões, os papagaios, as pegas e as araras, sendo com estes todos que nos devemos acautelar.

 

 

Autor: Fernando Roldão

Texto escrito pelo antigo acordo ortográfico.

 

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