Helena Hall, a filha mais nova da reconhecida figura da freguesia de Lagos da Beira, fez as honras da casa.
A grande chave que restou da porta principal da casa onde habitou o investigador, historiador, escritor e multifacetado artista abriu, sem qualquer espécie de obstáculo a porta que agora serve de entrada à tão almejada Biblioteca Museu Tarquínio Hall.
No interior da recuperada habitação, o povo que acorreu em massa foi brindado com um cenário onde a ruralidade convive em perfeita harmonia com as modernas técnicas de musealização.
Profissões de outros tempos e as marcas do falecido Tarquínio Hall repartem-se pelos recantos do primeiro piso da casa, onde, ao fundo, o povo contempla o local de refúgio do filho da terra.
A escrivaninha, a chávena de café, a máquina de escrever e o dicionário do artista recriam o ambiente intimista que marcou muitos dos momentos por que passou Tarquínio Hall.
Os detalhes foram pormenorizadamente apresentados por Filomena Carvalho, técnica responsável pelo processo de musealização e à qual o presidente da Junta de Freguesia de Lagos da Beira não poupou elogios.
“Está muito bonito”, iam dizendo os populares que, em poucos minutos tornaram intransitável o interior da antiga habitação que, ontem, se estreou nas novas funções.
A Biblioteca, que alberga o espólio literário cedido por Tarquínio Hall em testamento e outras obras adquiridas pela Junta de Freguesia na sequência de um apoio de 900 Euros cedido pela Fundação Calouste Gulbenkian, encontra-se no segundo piso da casa.
A estreia do espaço foi em grande. Outro artista da terra e amigo pessoal do dono da habitação – Vítor Paulo Fernandes – lançou o romance “A Quinta das Tulipas” e o espaço foi exíguo para acolher tamanha plateia.
Cá fora, à entrada, os discursos couberam aos autarcas que, tornaram possível, a concretização do sonho que Tarquínio Hall partilhou em testamento e onde legou a própria habitação à Junta de Freguesia para posterior adaptação a Biblioteca Museu.
Desde a data do seu falecimento – 01 de Julho de 2002 – até ao dia em que a biblioteca museu ganhou vida, passaram nove anos. Para trás ficaram, como disse o presidente da Junta de Freguesia de Lagos da Beira, “caminhos tortuosos” marcados por “excesso de burocracias”.
A certeza, garante agora José António Guilherme é de que o espaço ontem inaugurado “permite colocar a freguesia na rota concelhia e nacional da cultura”.
Representando um investimento total de 150 mil Euros – o atual executivo disponibilizou 25 mil Euros para a conclusão dos trabalhos – a Biblioteca Museu Tarquínio Hall que deixou de ser promessa para se tornar realidade espera agora, como referiu o presidente da Junta de Freguesia – de “espíritos novos” que dêem vida ao projeto e impeçam o predomínio do “marasmo”.
“O Doutor Tarquínio Hall esteja onde estiver, está feliz porque tem aqui uma obra à dimensão da cultura que fez no concelho”
Apreciando a coincidência das datas – Tarquínio Hall faleceu a 1 de julho e a inauguração acontece a 3 de julho, nove anos depois – o presidente da Câmara Municipal disse não ter dúvidas de que “a freguesia é agora mais rica porque dispõe de uma biblioteca museu importante para o futuro, porque explica o seu passado”.
Sem dissociar o gesto dos irmãos Hall – “um deixa uma biblioteca museu, o outro deixa uma obra para fins sociais”, frisou – José Carlos Alexandrino elogiou a personalidade multifacetada de Tarquínio Hall que através das investigações que realizou ao nível da arqueologia permitiu “engrandecer e perpetuar a memória coletiva de Oliveira do Hospital”.
Agradecido em nome do município pelo trabalho desenvolvido pela Junta de Freguesia e museóloga Filomena Carvalho, o autarca chegou ainda a considerar que “o Doutor Tarquínio Hall esteja onde estiver, está feliz porque tem aqui uma obra à dimensão da cultura que fez no concelho”.