Ainda não há muito tempo, aliás na “onda” de iniciativas idênticas, houve quem tivesse e concretizasse uma ideia simples, mas feliz, com a instalação de um “Baloiço Panorâmico”, na Cordinha, ao cimo da vertente sobre a margem esquerda do Rio Mondego, próximo a Vale do Ferro, nos limites das freguesias de Ervedal e de Seixo da Beira.
Divulgado e assinalado que este “Baloiço” foi no terreno, logo lá acudiu muita Gente a usufruir das vistas e do baloiçar altaneiro do aparelho construído em materiais a condizer com a zona.
Nós também lá fomos apreciar num Sábado de Verão, por sinal numa altura em que lá se concentraram, curiosas, mais de 50 Pessoas de todas as idades e condições ou seja, cedo se transformou num atractivo regional. E ganhou boa projecção a provar que não é obrigatório instalar “coisas” complicadas e caras para estas agradarem. E ainda bem que assim é.
O Baloiço “sumido”
Entretanto, há dias, alguém fez notar que o Baloiço já lá não estava, que desapareceram as cordas pendentes e o assento ! Só lá se mantinha a estrutura em pinho que o sustentava.
Para confirmar a “decapitação funcional” do aparelho, deslocámo-nos lá na tarde de 29 de Janeiro a ver. E sim, desapareceram as cordas e o assento daquilo que era o “Baloiço Panorâmico” e ainda não foram substituídos. Sumiu o “Baloiço” propriamente dito! Afinal, já não se pode lá baloiçar, com cara e cabelo ao vento mesmo que seja ao vento Soão…
– Que nos dizes, Rio Mondego – ou “Munda” – sobre o “Baloiço Sumido”?
Responde o Mondego:
– “Eu cá não aceito ser o ´Basófias´ como alguns armados em “doutores” me chamam. Ao menos que me chamem de “Munda” como me chamavam os antigos Romanos que por cá também andaram e por eu, nessa altura, ser um rio muito límpido.
Quanto ao “Baloiço Sumido”, estranho e critico o que lhe aconteceu com o sumiço de que falamos. Lembro que em boa hora fora ele colocado lá em riba daquela crista dos montes, ao meu lado esquerdo. E que agora desapareceu sem ter sido substituído. Já há desleixo!”.
E logo prossegue, embalado:
– “Sou o maior rio nascido e corrido em Portugal. Enfim, desde há alguns anos que alguns dos contemporâneos me sujam e poluem! Quase me matam… E que morto seja eu também vocês não terão melhor destino!” – profetizou para continuar:
– “A minha vida por aqui tem sido no trabalho duro para moldar estes montes e estes vales que nos aconchegam. Tenho corrido e escorrido também para ajudar a nascer e a criar Homens e Mulheres que por aqui viveram durante séculos e dos que ainda aqui vivem hoje. Sim, podem crer que eu sou o Rio que vos corre nas veias!”.
E não se arrepende disso, ó Rio Mondego ? – voltamos a questioná-lo.
– “Não, não me arrependo. Todavia tenho de Vos repreender pela forma esquisita como muitas vezes se comportam na vida. Por exemplo, sabe-se que está em péssimas condições o ´Estradão´ fundeiro que dá melhor acesso ao meu lado esquerdo e assinalo que as minhas vertentes continuam desflorestadas, abandonadas. Também nisso, já há demasiado desleixo!” – remata e prossegue:
– “Às vezes não percebo bem como sóis tão ingénuos e confiantes na escolha que fazeis dos Vossos chefes locais ou não. Podeis acreditar que aqueles Vossos antepassados que há já alguns milhares de anos foram ali para cima do morro a construir e a depois manter o “Castro do Vieiro”, ou “Castro da Póvoa de São Cosme”, esses eram mais argutos e mais vigilantes que Vós sóis hoje nessas escolhas, e eu sou testemunha disso.
Aliás, se eles tivessem sido tão teimosamente ingénuos e tolerantes como Vós sóis nas Vossas escolhas dos chefes, eles não teriam sido capazes de trazer às costas, com sucesso, a raça humana que hoje desperdiça oportunidades e assim desperdiça a própria vida.
Abram os olhos, abram os olhos e os cérebros! Para começar, exijam que seja reposto o “Baloiço Panorâmico”, lá em cima! Sim, substitua-se o “Baloiço”! Para minha admiração e Vosso prazer…e exprimam depois esse prazer como melhor puderem…e Vos deixarem! “- concluiu o “sábio” Rio Mondego, o “velho Munda”.
E nós demos em concordar com ele nestas suas cogitações ficcionadas…
Viv´ó Munda!
Autor: João Dinis, Jano