No concelho de Oliveira do Hospital os dois aparelhos ao serviço das corporações padecem do mesmo mal nacional: o de Lagares da Beira nunca foi usado e o da corporação da cidade foi utilizado apenas uma vez. Os comandantes discordam, porque entendem que não há risco de “erro humano”.
Foi oferecido à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Oliveira do Hospital (AHBVOH) no Verão passado por Manuel Pinheiro, vítima de três paragens cardíacas numa só noite, e até ao momento só foi usado uma vez. Trata-se do desfibrilhador ao dispor dos bombeiros voluntários da cidade que, até ao momento, só foi utilizado uma vez. O comandante da corporação garante: “não foi usado mais vezes porque não foi preciso”.
Os sucessivos casos de paragens cardíacas em casa, locais de trabalho, públicos e desportivos têm suscitado algumas considerações em torno do uso dos desfibrilhadores, aparelho considerado indispensável para a estabilização do ritmo cardíaco. A mais recente discussão aconteceu a semana passada pela voz de Fernando Vilaça, da Liga de Bombeiros Portugueses, ao denunciar que os bombeiros portugueses não estão a usar os mais de 100 desfibrilhadores automáticos externos (DAE) integrados nas ambulâncias por falta de formação. Note-se que os aparelhos só podem ser usados por médicos e equipas do INEM.
No caso concreto do concelho de Oliveira do Hospital, as duas corporações – a da cidade e de Lagares da Beira – estão apetrechadas com um DAE, mas também vêem a sua utilização limitada ao pessoal médico. Ou seja – como explicou o comandante dos BVOH – “só se usa se houver um técnico credenciado para o efeito, isto é, um médico”. Até ao momento, a corporação comandada por Emídio Camacho ainda não se viu confrontada com a necessidade de o usar, sem que ao pé não estivesse um médico, porque se acontecesse “os bombeiros não poderiam usar o desfibrilhador”. Na única vez que o desfibrilhador da corporação foi utilizado, o manuseamento foi assegurado pela equipa da VMER que também acorreu ao local.
Camacho é, por isso, crítico relativamente à limitação do uso do desfibrilhador ao pessoal médico, porque “o aparelho faz todos os procedimentos automaticamente”. Tem noção de que é necessário que se tomem alguns cuidados – não estar em contacto com o corpo da vítima e impedir que o mesmo esteja em contacto com o metal, são alguns exemplos apontados – mas que poderiam ser salvaguardados através de formação adequada. “Os bombeiros é que fazem a intervenção imediata junto da vítima e em situação de paragem cardíaca ou se actua de imediato ou deixa-se morrer”, sublinhou Emídio Camacho, notando que “é tudo uma questão de mentalidades” porque “em outros países da Europa, os desfibrilhadores estão espalhados pelos espaços públicos e podem ser usados por qualquer pessoa”.
Desfibrilhador de Lagares da Beira nunca foi usado
A ambulância medicalizada que o benemérito António Lopes ofereceu em Dezembro de 2006 à corporação de Lagares da Beira está equipada com um DAE, mas até ao momento nunca foi usado. “Temos desfibrilhador há já algum tempo”, referiu o comandante dos Bombeiros de Lagares da Beira, lamentando no entanto que, à semelhança do que acontece com a generalidade dos corpos de bombeiros, também a corporação de Lagares da Beira se veja impedida de fazer uso do equipamento. “Nunca foi usado e mesmo que fosse necessário nós não o poderíamos usar”, notou o comandante Pinto, discordando do facto de só os médicos poderem manusear os DAE. “É uma peça que funciona automaticamente e que faz a avaliação sozinha. O erro humano ali não existe”, referiu, assegurando que até ao momento, a corporação não se deparou com nenhum caso em que o uso do aparelho se impunha como determinante para a prestação do primeiro socorro.
Liliana Lopes