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Caciquismo moderno. Autor: António José Cardoso

Quando, há 4 anos, mergulhei nos meandros da política de forma mais intensa, vim a confirmar aquilo que há muito desconfiava… Não me senti enganado, antes pelo contrário, confirmei que as coisas, afinal, eram bem piores!

Mas vamos em frente. No final do século XIX, aparece em Portugal, segundo alguns historiadores, a figura do cacique e, por consequência, o caciquismo, que teve diversas formas e contextos sociais de norte a sul.

Nada mais é do que o domínio de áreas distantes dos grandes centros por alguns senhores ou, neste caso, um senhor ou família que vem levantar o poder dos senhores feudais, usando as mesmas práticas.

Os historiadores não conseguem chegar a consenso sobre o fim do caciquismo e penso que ele nunca acabou. Aliás, muda de nome, forma, etc. Um cacique actual move influências, paga favores e serviços com o dinheiro de todos nós, influencia os destinos de uma localidade, manda calar ou matar quem não lhe agrada ou faz frente, usa pessoas fragilizadas economicamente ou dependentes de vícios e favores.

Bem, alguém tem que fazer o trabalho sujo, e alguns prestam-se para isso pelas razões já apontadas.

Então, quem são os caciques actuais?

São pessoas que entram na política por necessidade de apagar alguns problemas financeiros do passado, usam e abusam daqueles que são desfavorecidos ou que vivem em sociedade de forma desinteressada. Alguns nunca trabalharam ou vivem à sombra do trabalho dos outros.

Não lhes passa pela cabeça trabalhar, nem conseguem pensar ou o que fazer se lhes acabar a política e o lugar de cacique que ocupam na retaguarda, onde controlam e manobram as marionetes.

Passados alguns anos, acumulam riqueza sempre em nome de terceiros, normalmente familiares, especialmente no mundo imobiliário, não se sabendo como, mas pagas essas benesses imobiliárias por quem teve de ajoelhar perante o cacique.

À sua volta gravitam marionetes, paus-mandados e outros tais, que não passam dos sicários dos dias de hoje, que nunca trabalharam ou que tenham tido fonte de rendimento conhecida e que temem um dia ter de ir trabalhar como qualquer um…

Pois é, toda esta gente, na sua quase totalidade, formada em algo, mas para o qual nunca tiveram vocação, que nunca exerceram a sua actividade, funcionários públicos das mais diversas áreas, um ou outro profissional liberal e, às vezes, alguns pouco inteligentes e preguiçosos, que nem lhes passa pela cabeça trabalhar!

Quando temos alguém que vem do mundo privado do trabalho, não pode entrar neste círculo, porque lhe está fechado e, na maioria dos casos, não precisa deste circo para viver!

Tenho que perguntar: já repararam que é este tipo de gente que temos nos governos, nos municípios, juntas, etc.?

Quando acaba tudo isto?

Só há caciques enquanto houver pessoas disponíveis para ser sicários e soldados para o que der e vier, destes senhores que não têm currículo, mas acumulam cadastro e crimes em nome de terceiros, porque há pessoas disponíveis para isso, inclusive para carregar crimes em nome de outros.

Não será altura de acabar com isto?

Difícil. Criou-se uma teia onde estão interesses e subsistência de famílias que precisam de pôr pão na mesa todos os dias e esta forma de vida é a mais fácil, não importando os meios para se chegar aos fins!

Algum pão e algum circo, e assim vamos andando. Até quando?

Termino com a consciência de que quase todos os leitores conhecem esta situação generalizada na nossa sociedade e nada fazem para a alterar, porque são mais aqueles que precisam de migalhas do que viver de forma séria e honesta do seu trabalho.
Deveríamos ter o dever de mudar uma sociedade onde vivemos e nada fazemos para mudar isto.

Criar emprego, empresas, investimento, etc., fogem disso, esses caciques modernos, a não ser que daí obtenham benefícios.

Num local perto de si.

 

Autor: António José Cardoso

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