Camilo é escritor de minha emoção. Pelo muito que escreveu como artista que foi e é. E pela vida “brutal” que teve, desde praticamente a nascença e até ao suicídio aos 65 anos. Pelos seus amores e desamores várias vezes paradoxais e escaldantes, desde os 16 anos, a idade de seu primeiro matrimónio. Um “sofredor” profissional. Capaz de amar até às estrelas e descer delas até à terra, a penetrar em autênticas catacumbas da existência neste Mundo para ele frequentemente cruel.
Sim, Camilo foi um romântico compulsivo no seu sofrido quotidiano e na sua escrita torrencial. Um Homem que nem a pistola venceu no seu futuro como um dos mais formidáveis escritores da Língua Portuguesa!
Mas a sua faceta existencial é de facto comovente. Um artista que precisava de escrever, não a metro mas a obra, para fazer algum dinheiro para poder comer, com os familiares, no dia seguinte, aliás como ele próprio aborda numa das suas obras. Também criticou fortemente uma certa sociedade que o perseguiu e encarcerou com a sua amada de eleição e dela separado até serem ambos absolvidos de alegado “crime” de amor!
Na sua situação de “escritor/artífice”, Camilo contrastou com outros grandes artistas literários da sua época que não precisavam de vender as suas obras para subsistirem diariamente.
Sim, de certeza, é mais fácil escrever sem fome e sem outras preocupações candentes do que escrever – imaginar um romance de amor – com receio de não ter de comer, mais a sua família, no dia seguinte… E Camilo conseguiu fazê-lo com genialidade. Mesmo com amor que se revelou um “romântico”, embora inconfesso quanto à sua vertente realista que ele não fugia à sua circunstância.
Por isso, a sua vida me comove mais que o seu romance maior “Amor de Perdição”!
A sua vida, e mesmo sem precisar de ser romanceada, dá um filme dramático, intenso!
Por tudo isso e por pura justiça, Camilo Castelo Branco deve ser transladado para o Panteão Nacional. E sem perda de tempo que a 16 de Março deste ano se completam 200 anos desde o seu nascimento!
Viva Camilo e a sua obra/vida completas! Dentro e fora do Panteão! Viva!
Janeiro de 2025
Autor: João Dinis, Jano