Os portugueses lêem pouco e, com a Internet, agora o cenário ainda é pior. Como não é fácil inverter essa realidade, os jornais – fundamentalmente os do interior do país –, têm então apenas uma outra fonte de receita: a publicidade.
3. Mas a publicidade – ou melhor, a falta dela! –, que o Governo quase concentra nos grandes órgãos de comunicação social de Lisboa e Porto – paradoxalmente, já vi campanhas publicitárias a apelar à limpeza das matas na caríssima revista do Expresso! –, está a asfixiar cada vez mais a imprensa regional, que só tem dois caminhos: ou se encosta ao poder local e “come”; ou cumpre o seu verdadeiro papel e passa a ter o estatuto de “persona non grata”.
4. Neste quadro – e com a cumplicidade do Estado português –, teremos sempre – salvo honrosas excepções –, uma imprensa subserviente aos poderes políticos e económicos e uma imprensa pouco profissionalizada e preguiçosa, porque mexer em determinados dossiês pode trazer maus resultados. Sobretudo, económicos.
5. Este é o cenário que o Correio da Beira Serra enfrenta. Depois de ter voltado a germinar em 2006 – por via de uma parceria estabelecida com um grupo empresarial –, há hoje, por incrível que pareça, muitos actores políticos a quererem silenciar o jornal que cada vez vem conquistando mais público. E qual é a receita? É a tal de que vos falei logo no início do texto: A Câmara Municipal, a Adito, a Eptoliva e muito do que gira à volta do poder local, nunca gastaram um tostão de publicidade no jornal mais lido de Oliveira do Hospital.
Portanto, se à falta deste ingrediente financeiro, juntarmos uma pitada de intimidatórios processos em tribunal e ainda uns pózinhos de boicote informativo, está o “cozinhado” pronto para envenenar a liberdade de imprensa que tanto custou a alcançar.
Henrique Barreto