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Marcelo Rebelo de Sousa By pe09

E Deus também deu a Marcelo o direito de dizer «disparates» ! Autor: Carlos Martelo

Com o devido respeito, utilizo a expressão supra também por saber o Presidente Marcelo como um católico fervoroso.

Porém, conhecemo-lo ainda muito bem como um comentador jornalístico inveterado e por vezes até divertido, sobretudo na televisão. Aliás, consideramo-lo mesmo como um Presidente-comentador propenso a «alta» especulação articulada com alguma realidade.

Ultimamente, o Presidente Marcelo exagerou, e bastante, em declarações produzidas em ambientes desaconselháveis para o Presidente presidir dessa forma, digamos assim.

Por exemplo, foi uma tentativa de «piada» mas de mau gosto aquelas declarações despropositadas de Marcelo acerca do ex-Primeiro-Ministro, António Costa – em ser um oriental lento – e sobre o atual Primeiro-Ministro, Luís Montenegro – em ser um rural-citadino imprevisível.

«Indemnizações» para reparar abusos da colonização portuguesa ?!

Mais a sério e com outro tipo de reações, foram as controversas declarações de Marcelo acerca das eventuais «indemnizações» de Portugal às ex-colónias por aventuais e grandes abusos da colonização portuguesa.

Pois não se exagere, não se exagere ! Mantenhamo-nos calmos e ponderados !

De facto, convém não dramatizar a puxar a polémica sobre o assunto como logo fizeram outros «especuladores» com a manifesta intenção de «atacar» Marcelo a pretexto e de, assim, colher dividendos políticos e partidários.  Pelo meio, fazem intuir propositadamente algum descrédito sobre o próprio 25 de Abril, talvez porque este proporcionou eleições livres para também se eleger o Presidente da República. São «manholas» esses tipos…

Claro que Marcelo se «pôs a jeito» com a sua típica falta de contenção verbal além do mais de forma precipitada.  Mas atenção que não é «crime», e nem sequer é drama, o discutir-se, calma e ponderadamente, a questão da colonização portuguesa e, no contexto, encarar-se eventuais «compensações» por manifestos grandes «abusos» então cometidos que os houve e bastantes.

Não há dinheiro suficiente para «indemnizar» terceiros pela escravatura !

Porém, e desde logo, nem sequer há preço capaz de «indemnizar» aquilo que de pior causou a colonização em geral e também a portuguesa:- a escravatura com o seu vasto estendal de sofrimento, destruição, morte e iniquidade praticadas sobre centenas de milhar de seres humanos, naturais, autótones, de vastas e diversificadas regiões. Escravatura criminosa, por eminentemente desumana, praticada por algumas centenas de grandes esclavagistas – os que comercializavam e os que adquiriam escravos – e que assim auferiam grandes lucros financeiros e económicos com o trágico tráfego humano em condições mais do que brutais, inclusive de povos não-africanos !

Não, não há como fugir a esta tremenda realidade, a esta «culpa» sem perdão ou remissão ! Mas também não nos vamos «suicidar» com remorsos.  Todavia, justifica-se assumir o peso e a desonra dessa «herança» como homens e mulheres atuais e pedir «perdão» humildemente em arrependimento civilizacional embora «póstumo» que a História não anda «às arrecuas».  Ao mesmo tempo, pugnemos intransigentemente para que, nos dias de hoje, não se repitam fenómenos idênticos e seja lá onde for !

Calma, calma !  Que sosseguem os mais exaltados !

Portanto, sosseguem os mais exaltados do presente que o passado também faz parte da nossa História e do «património» humanístico (ou não…) que por lá fomos adquirindo…

Por exemplo, a Alemanha moderna já indemnizou mesmo financeiramente ex-colónias por comprovados «abusos» (crimes) lá cometidos.

Em França, e não só lá, discute-se atualmente a hipótese de devolução de património cultural e mesmo físico «rapinado» a Povos colonizados por autênticos criminosos ditos «civilizados e civilizadores».

De facto, a escravatura como tal não é financeiramente indemnizável !  Mas há reparações éticas, morais, antropológicas e culturais, há formas de apoiar esses Povos no presente e não tanto para espiar crimes do passado – embora sem perdão – mas para ajudar a construir um futuro melhor.

Viva o Humanismo !

E que o Presidente Marcelo também tente sossegar um pouco mais…

Carlos Martelo

 

 

Autor: Carlos Martelo

 

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