Com o devido respeito, utilizo a expressão supra também por saber o Presidente Marcelo como um católico fervoroso.
Porém, conhecemo-lo ainda muito bem como um comentador jornalístico inveterado e por vezes até divertido, sobretudo na televisão. Aliás, consideramo-lo mesmo como um Presidente-comentador propenso a «alta» especulação articulada com alguma realidade.
Ultimamente, o Presidente Marcelo exagerou, e bastante, em declarações produzidas em ambientes desaconselháveis para o Presidente presidir dessa forma, digamos assim.
Por exemplo, foi uma tentativa de «piada» mas de mau gosto aquelas declarações despropositadas de Marcelo acerca do ex-Primeiro-Ministro, António Costa – em ser um oriental lento – e sobre o atual Primeiro-Ministro, Luís Montenegro – em ser um rural-citadino imprevisível.
«Indemnizações» para reparar abusos da colonização portuguesa ?!
Mais a sério e com outro tipo de reações, foram as controversas declarações de Marcelo acerca das eventuais «indemnizações» de Portugal às ex-colónias por aventuais e grandes abusos da colonização portuguesa.
Pois não se exagere, não se exagere ! Mantenhamo-nos calmos e ponderados !
De facto, convém não dramatizar a puxar a polémica sobre o assunto como logo fizeram outros «especuladores» com a manifesta intenção de «atacar» Marcelo a pretexto e de, assim, colher dividendos políticos e partidários. Pelo meio, fazem intuir propositadamente algum descrédito sobre o próprio 25 de Abril, talvez porque este proporcionou eleições livres para também se eleger o Presidente da República. São «manholas» esses tipos…
Claro que Marcelo se «pôs a jeito» com a sua típica falta de contenção verbal além do mais de forma precipitada. Mas atenção que não é «crime», e nem sequer é drama, o discutir-se, calma e ponderadamente, a questão da colonização portuguesa e, no contexto, encarar-se eventuais «compensações» por manifestos grandes «abusos» então cometidos que os houve e bastantes.
Não há dinheiro suficiente para «indemnizar» terceiros pela escravatura !
Porém, e desde logo, nem sequer há preço capaz de «indemnizar» aquilo que de pior causou a colonização em geral e também a portuguesa:- a escravatura com o seu vasto estendal de sofrimento, destruição, morte e iniquidade praticadas sobre centenas de milhar de seres humanos, naturais, autótones, de vastas e diversificadas regiões. Escravatura criminosa, por eminentemente desumana, praticada por algumas centenas de grandes esclavagistas – os que comercializavam e os que adquiriam escravos – e que assim auferiam grandes lucros financeiros e económicos com o trágico tráfego humano em condições mais do que brutais, inclusive de povos não-africanos !
Não, não há como fugir a esta tremenda realidade, a esta «culpa» sem perdão ou remissão ! Mas também não nos vamos «suicidar» com remorsos. Todavia, justifica-se assumir o peso e a desonra dessa «herança» como homens e mulheres atuais e pedir «perdão» humildemente em arrependimento civilizacional embora «póstumo» que a História não anda «às arrecuas». Ao mesmo tempo, pugnemos intransigentemente para que, nos dias de hoje, não se repitam fenómenos idênticos e seja lá onde for !
Calma, calma ! Que sosseguem os mais exaltados !
Portanto, sosseguem os mais exaltados do presente que o passado também faz parte da nossa História e do «património» humanístico (ou não…) que por lá fomos adquirindo…
Por exemplo, a Alemanha moderna já indemnizou mesmo financeiramente ex-colónias por comprovados «abusos» (crimes) lá cometidos.
Em França, e não só lá, discute-se atualmente a hipótese de devolução de património cultural e mesmo físico «rapinado» a Povos colonizados por autênticos criminosos ditos «civilizados e civilizadores».
De facto, a escravatura como tal não é financeiramente indemnizável ! Mas há reparações éticas, morais, antropológicas e culturais, há formas de apoiar esses Povos no presente e não tanto para espiar crimes do passado – embora sem perdão – mas para ajudar a construir um futuro melhor.
Viva o Humanismo !
E que o Presidente Marcelo também tente sossegar um pouco mais…
Autor: Carlos Martelo