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Eça em “flash”.  Viva Eça ! Autor: João Dinis

Começo por pedir desculpa pelo uso do anglicismo (…) do “flash”  mas, por exemplo, o portuguesismo “clarão” não se adequa a este caso porque mais do que intensidade luminosa se pretende a rapidez do comentário.

Pois então, vem este escrito na sequência da muito falada transladação dos restos mortais de Eça de Queirós para o Panteão Nacional, homenagem que considero justa e pertinente.

Segui com alguma atenção as imagens televisivas sobre o acontecimento e ouvi parte das alocuções que várias individualidades lá produziram. Gostei.

No contexto, até gostei especialmente do que disse o Presidente da Assembleia da República porque, a dada altura, ele ousou imaginar aquilo que o próprio Eça diria caso pudesse assistir e comentar a homenagem que ali lhe era prestada.  Devo até acrescentar que esse foi um exercício de ousadia (atrevimento) que eu próprio me coloquei enquanto assistia às ditas imagens televisivas. É irresistível e desafiante…

Entretanto, tive acesso a um “ensaio” de atrevimento que aparece escrito e alegadamente produzido por “inteligência artificial” de um tal “ChatGPT” cujo algoritmo, apesar de tudo, não desmerece do homenageado Eça.  Dir-se-á que é um algoritmo “queirosiano” que tenta imaginar o próprio Eça a comentar a sua homenagem de transladação.  Procurem na NET que é giro…

E todavia há coisas que a “inteligência artificial” ainda não é capaz de apanhar –não atinge – como são e vão continuar a ser várias das grandes “habilidades requintadas” de Eça de Queirós a escrever.

Por exemplo, caso fosse Eça a “divertir-se” com esses comentários, ele teria descrito – “pintado” – os  detalhes da arquitectura e da envolvência paisagística do Panteão…do desfile da Guarda de Honra toda engalanada…até da Urna em qua repousa ele e onde fizeram repousar uma Bandeira Nacional… E teria pintado/caracterizado com tons mais fortes ainda que subtis, os vários intervenientes nos seus “elogios fúnebres” na ocasião.

Há dias, reli “A Relíquia” do inefável personagem “Raposão”.  Dá trabalho, requer mesmo alguma paciência nessa leitura mas vale a pena !

Considero Eça como o “velhaco” mais nobre e sedutor da literatura Portuguesa, pelo menos da que conheço melhor.  Um aturado estilista, com a maior elegância que transmite à sua escrita, incluindo à mais crítica e irónica, sempre afiada e cortante. Eça dominava como bem entendia o seu material, a língua/linguagem, que refinava com prazer na subtileza de pensamento para passar à escrita e fazer pensar como ele queria que pensasse e pense quem o lia e o lê, e entendia e entende…  Um Mestre compulsivo, muitas vezes Mestre !

À sua vistosa maneira, Eça também é um hábil desconstrutor do pensamento dominante à sua época apesar de, para isso, fugir à sua própria circunstância, ele, um diplomata que sempre pertenceu às classes dominantes da época. Um artista !

Viva Eça fora do Panteão !  Continue a fazer parte (crítica ou não) das nossas Vidas !

 

 

 

Autor: João Dinis

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