Um dos principais objectivos da actividade de governança pública, aos vários níveis, é o de promover a convergência entre o interesse público e os interesses privados. Ou seja, não deve haver antagonismos entre estes polos que devem ser de autêntico desenvolvimento integrado. Porém, não é fácil consegui-lo. E necessário aplicar, com firmeza, muita sabedoria alicerçada em técnica apurada, aconselhamento avisado e experiência prática.
Porém, a experiência já transcorrida indica que, exactamente, a subordinação do poder político-governamental – público – ao (grande) poder económico – privado – tem sido um factor muito negativo a perverter mesmo muitas das dinâmicas que afectam a nossa vida quotidiana. Ficou tristemente célebre aquele epíteto – “o que manda nisto tudo” – colocado a um dos ex-detentores do grande poder financeiro e económico e que deu no que deu com nefastas consequências para nós e para o nosso País. Mas ao que parece tal não serviu de emenda a quem de direito…
A de longe maior empresa em Oliveira do Hospital não deve ser a mais favorecida pelos poderes públicos…
Paulatinamente, a grande fábrica em causa tem aumentado bastante a sua área de implantação num terreno apertado para tanta edificação industrial a ponto de ter secções “em cima” de habitações da Povoação em que se situa. Aliás, unidades da empresa praticamente até já encostaram ao Santuário da Senhora dos Milagres!…
E se nos vierem dizer que aquela zona está consignada como “zona de expansão industrial” nós diremos que até poderá estar mas que não devia ser assim. Mas a fábrica expandiu-se mesmo muito, inclusive para outro lado da estrada pública que desce desde a EN 17 para dentro de S. Paio de Gramaços ! De alguma forma podemos dizer que esta fábrica gigante se tem expandido como se fosse um “tumor” sem controlo…
E também afirmamos que tudo aquilo que for bom para essa empresa, que é uma grande multinacional, não é automaticamente bom para o município de Oliveira do Hospital
Parque de painéis solares fotovoltaicos a instalar pela mesma empresa no Vale do Alva será outro caso de erro grave praticado também pela Câmara Municipal.
É muito recente a aprovação em sessão de Câmara Municipal pela maioria absoluta do PS, de um grande Parque de Painéis Solares Fotovoltaicos a instalar pela mesma empresa agora na vertente que desce para a margem direita do Rio Alva mais ou menos por cima de Caldas de S. Paulo. Aliás, a Câmara Municipal mais não faz do que alinhar com a política de permissivas autorizações saídas de vários governos.
Ora, e venha lá quem vier contar-nos “estórias” de embalar incautos, “plantar” por vários hectares, alguns milhares de Painéis Solares nunca será como plantar lá Árvores daquelas ditas “autóctones” como houve e ainda vai havendo na zona em causa… Já dissemos, e repetimos, que esses Painéis Solares destinados a produzir “luz”, afinal vêm é “escurecer” o belo Vale do Alva… Nós não estamos de acordo com isso !
A este propósito, chega mesmo a ser pura propaganda à dita empresa, algumas das declarações muito recentemente divulgadas pela Câmara Municipal cuja maioria partidária se viu forçada a vir a público dar algumas pretensas justificações sobre a aprovação deste projecto das Fotovoltaicas. Enfim…
Há alternativas. Haja vontade e capacidade para as aproveitar !
É óbvio que a empresa titular do projecto das Fotovoltaicas lá terá as suas razões para decidir como entender. Ainda por cima estão em causa mais uns “milhões” de dinheiros públicos do PRR (vulgo “Bazuca”). Mas, do outro lado, há o interesse público que é necessário e muito legítimo defender e promover. Claro que para isso é necessário haver vontade e coragem políticas que não é nada “corajoso” ceder aos tais grandes interesses económicos. E, com firmeza e habilidade, é de encontrar alternativas que, bastas vezes, até o simples bom senso aconselha. E isso seria possível, e útil, também neste caso.
Por exemplo e “só” como sugestão que não somos o Presidente da Câmara, será que o projecto destas Fotovoltaicas não poderia ter sido concebido, e agora será que não pode ser adaptado, para instalação conjunta (ou não) com o outro projecto agora também apresentado pela Câmara Municipal para os Painéis Solares Fotovoltaicos junto à Zona Industrial em Oliveira do Hospital ? E aqui sim, até se justificaria uma “parceria” entre a grande empresa e a Câmara por forma a que esse Parque Fotovoltaico também, também, fornecesse energia eléctrica a Indústrias instaladas ou a instalar na Zona Industrial ? E ainda lá há mais terrenos para instalar um Parque com área suficiente para maior produção de energia. E assim não iam “poluir” a paisagem do Vale do Alva…
Trata-se, isso sim, de pelo menos tentar compatibilizar, com outra dignidade e mais eficácia, o interesse público com o(s) grande(s) interesse(s) privado(s).
Já agora, afirmar que, caso a empresa em causa não quisesse encarar alternativa ao Vale do Alva para instalação do Parque de Painéis Solares Fotovoltaicos, então bem poderia ir instalar um Parque desse tipo noutro Município… Enfim, em vez de ter lucros de dezenas e dezenas de milhões de euros, teria um pouco menos e daí não nos viria qualquer mal a nós…até porque não somos accionistas!
Autor: João Dinis, Jano