O Presidente da Câmara da Guarda defende que a requalificação da Estrada Verde, projecto intermunicipal que une três concelhos na ligação à Serra da Estrela, terá um impacto estruturante. O projecto, que liga os concelhos da Guarda, Celorico da Beira e Gouveia, promete, segundo o autarca, ser uma das mais relevantes intervenções em curso na região. Em entrevista, o presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, sublinha o alcance do projecto e os benefícios que trará para o território.
CBS – Qual será o impacto da requalificação desta estrada no turismo do concelho da Guarda e na região da Serra da Estrela?
Sérgio Costa – O impacto da requalificação desta estrada verde será profundamente estruturante, trazendo benefícios concretos e sustentáveis a toda a região da Serra da Estrela. Este projecto é muito mais do que uma simples pavimentação; é uma infra-estrutura que irá alavancar significativamente o turismo sustentável e de natureza, que é precisamente aquilo que a nossa região necessita para ser devidamente valorizada. Ao criar uma ligação pavimentada, segura e com capacidade suficiente para que viaturas possam circular nos dois sentidos, estamos não só a melhorar substancialmente a acessibilidade à Serra da Estrela estabelecendo uma nova porta de entrada, como também a criar novas oportunidades para a valorização económica e social das aldeias e localidades envolventes, tais como Videmonte, Linhares da Beira, Folgosinho e Manteigas, mas também o acesso a locais únicos como o Alto da Portela, Calçada dos Galhardos e Senhora da Assedasse. A zona Norte da Serra da Estrela passará, desta forma, a assumir-se ainda mais claramente como um polo estratégico de entrada privilegiada no Parque Natural da Serra da Estrela, permitindo um fluxo turístico mais regular e estruturado.
Quais são as vantagens dessa acessibilidade para as localidades envolventes?
O projecto desta Estrada Verde surge no âmbito do Plano de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela, cujo objectivo central é precisamente fixar e reaproximar as pessoas deste valioso património natural. Acredito que a humanização e a ocupação sustentável deste território são fundamentais para combater o despovoamento e para prevenir incêndios florestais, criando condições para que a Serra seja vivida, protegida e valorizada ao longo de todo o ano. Também é importante destacar que esta estrada permitirá diversificar a oferta turística local. Abrimos portas para o turismo ligado ao património histórico-cultural, ao turismo de aventura, à prática de desportos ao ar livre, às actividades de lazer e de bem-estar, e ao turismo gastronómico. Com este novo acesso, reforçamos o potencial de dinamização económica local, criando oportunidades para pequenos empreendedores e para a fixação de população em áreas de baixa densidade, contribuindo directamente para o desenvolvimento económico da nossa região. Uma observação importante é que os municípios de Celorico da Beira, de Gouveia, da Guarda e de Manteigas não querem um turismo de massas, mas sim regrado e sustentável.
Que outros benefícios relevantes esta estrada irá proporcionar?
Representa igualmente uma melhoria significativa em matéria de segurança e prevenção de incêndios florestais. As autoridades locais, Protecção Civil e bombeiros passarão a dispor de um acesso rápido e eficaz ao coração do Parque Natural, permitindo uma intervenção mais imediata e eficiente na protecção deste património natural único. Em conclusão, esta estrada verde traduz-se num investimento estratégico e visionário, que vai ao encontro daquilo que defendemos como o futuro para o nosso território: sustentabilidade, valorização económica, turística e social, e acima de tudo, uma Serra da Estrela viva, dinâmica e próxima das pessoas.
Para quando está prevista a conclusão da requalificação da Estrada Verde?
A previsão que temos, de acordo com o planeamento que estabelecemos com os municípios parceiros de Gouveia e Celorico da Beira, é que o projecto de execução esteja concluído até ao final deste ano. A nossa expectativa é lançar a empreitada no início do próximo ano, com uma duração estimada para as obras de cerca de um ano e meio.
O que pode afectar essa previsão?
Esta calendarização depende também da abertura, por parte da CCDRC e do próximo Governo, do aviso que nos permita candidatar o financiamento da obra. Estamos convictos de que este processo decorrerá conforme previsto, para que possamos entregar esta infra-estrutura à população, aos turistas e à região, reforçando significativamente a Serra da Estrela já num horizonte muito próximo.
Como será financiado este projecto?
Este projecto representa um investimento significativo e estratégico, mas não terá custos para os munícios envolvidos. Será financiado integralmente pelo Plano de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela como foi negociado com o anterior Governo, no âmbito das verbas disponibilizadas pelo próximo quadro de financiamento.
Qual a importância da colaboração entre municípios para o desenvolvimento turístico da região?
A colaboração entre os municípios é absolutamente determinante. Esta união permite-nos ter escala suficiente para implementar projectos de maior dimensão, capazes de impulsionar não só o turismo como também a economia local e regional. Trabalhar em rede permite-nos potenciar os recursos existentes em cada concelho, promovendo uma oferta turística mais forte, integrada e apelativa, colocando a Serra da Estrela no lugar que merece no panorama turístico nacional e internacional. Este espírito de cooperação representa também um forte sinal político: mostra que os municípios, unidos por objectivos comuns, são capazes de ultrapassar fronteiras administrativas e políticas, garantindo um desenvolvimento equilibrado e sustentável da região. Juntos, reforçamos a atractividade turística, económica e social do nosso território, gerando impacto positivo e duradouro para as nossas comunidades.
Esta requalificação terá impacto na mobilidade dentro da Serra da Estrela e nas ligações entre os municípios da região?
Sem dúvida. Esta requalificação representa um avanço decisivo na mobilidade sustentável no maciço central da Serra da Estrela, e é precisamente por isso que é um projecto estratégico para os municípios envolvidos, particularmente para a Guarda, Gouveia e Celorico da Beira. Ao criarmos uma via pavimentada, segura e confortável com cerca de 25 quilómetros, estamos efectivamente a abrir uma nova ligação entre localidades importantes destes três concelhos e, por extensão, também com o município vizinho de Manteigas. Estamos a falar de um percurso que não só facilita a deslocação de residentes e turistas, como também melhora significativamente as condições de segurança rodoviária e aumenta a acessibilidade das equipas de protecção civil e bombeiros em situações críticas, como o combate aos incêndios florestais.
Esta nova via abre a porta para uma zona menos visitada da Serra da Estrela…
Sim. Esta requalificação representa também a abertura de uma nova porta de entrada ao maciço central da Serra da Estrela, numa zona que até agora permanecia praticamente desconhecida e pouco explorada turisticamente. Estamos a falar de um percurso que liga localidades com enorme potencial, como Videmonte, Linhares da Beira e Folgosinho, que passam assim a ter uma nova e privilegiada visibilidade.
Como se pode descrever a experiência que a estrada proporcionará aos visitantes?
Este caminho, que poucos conhecem, é na verdade um tesouro escondido no coração da Serra. Com a nova Estrada Verde, vamos revelar paisagens únicas, património natural extraordinário, e proporcionar aos visitantes uma experiência completamente nova na Serra da Estrela. É uma oportunidade única para descobrirem uma serra ainda mais autêntica, proporcionando uma vivência mais próxima, mais genuína, e potenciando uma economia local mais desenvolvida. Este projecto será, certamente, um marco na história recente da Serra da Estrela e dos nossos municípios, contribuindo decisivamente para reforçar a atractividade e a identidade desta região ímpar em Portugal.
Que outro projecto estruturante considera essenciais para melhorar a acessibilidade e promover um turismo sustentável na zona Norte da Serra da Estrela?
Um outro projecto estruturante que destacamos como absolutamente essencial é a construção da Barragem do Alto de Videmonte. Esta barragem representa um investimento estratégico fundamental para a região da Serra da Estrela e outras regiões adjacentes, permitindo assegurar uma reserva hídrica significativa que irá beneficiar directamente o abastecimento público, a agricultura e o desenvolvimento turístico e económico sustentável da nossa região.
De que forma esta estrutura vai impactar a região e o seu desenvolvimento?
Com esta infra-estrutura, vamos poder dar resposta às necessidades locais relacionadas com a escassez hídrica, potenciando novos sistemas de regadio que apoiarão a agricultura de proximidade, e simultaneamente criar condições para o desenvolvimento de actividades turísticas e recreativas ligadas à albufeira resultante. Acresce ainda o potencial energético, nomeadamente na produção de energia renovável, alinhado com as políticas de sustentabilidade ambiental que defendemos. Importa também sublinhar que esta barragem está inserida no Plano de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela, um plano integrado e pensado precisamente após os incêndios de 2022, com o objectivo de preparar o território para enfrentar os desafios das alterações climáticas e do despovoamento, promovendo uma gestão mais eficaz e sustentável dos recursos naturais. Este projecto, associado ao reforço das ligações ferroviárias da Beira Alta e Beira Baixa, permitirá criar uma rede estruturante de acessibilidade e sustentabilidade, que tornará a Serra da Estrela um território ainda mais atractivo e resiliente no futuro. Paralelamente, considero essencial reforçar a criação de percursos pedestres e cicláveis devidamente sinalizados e equipados, estimulando uma mobilidade suave e sustentável, permitindo a descoberta da Serra de uma forma ambientalmente responsável. Estes percursos são fundamentais para captar visitantes com interesse em experiências de turismo activo e natureza.
Que outros projectos visam a valorização do património cultural e a identidade do território?
Em Maçainhas, teremos o Centro Interpretativo do Cobertor de Papa, peça identitária da nossa região, que será um espaço de homenagem aos tecelões e à tradição da lã, onde se cruzam memória, inovação e criatividade. Na freguesia de Gonçalo, berço da cestaria em vime, será criado o Centro Interpretativo da Cestaria Tradicional, que permitirá valorizar este ofício secular, dar-lhe novas perspectivas comerciais e torná-lo um atractivo turístico com demonstrações ao vivo, oficinas e exposições. Nos Trinta, será criada a Aldeia da Lã, um projecto inovador que reforça a centralidade da Guarda na história da lã e da pastorícia, com percursos interpretativos, experiências imersivas e ligação a toda a rede museológica da Serra da Estrela. Por fim, em Vale de Estrela, está previsto o Centro Interpretativo da Água — um espaço dedicado à relação entre o território e os recursos hídricos, com especial enfoque na importância da água na geografia, na agricultura, na cultura e no ambiente da nossa região. Estes quatro centros interpretativos serão peças-chave na construção de uma verdadeira rede de turismo cultural e de natureza profundamente ligada à identidade e singularidade do território, com impacto directo na coesão social, na economia local e na atracção de visitantes durante todo o ano. São projectos que unem tradição e futuro, e que espelham a nossa visão de um concelho dinâmico, autêntico e sustentável.
Quais outras acções estão a ser planeadas para o futuro?
É essencial reforçar projectos no âmbito da protecção e valorização ambiental, nomeadamente no apoio à gestão florestal, recuperação ecológica após incêndios e criação de infra-estruturas de observação e interpretação da natureza. Esta aposta na preservação activa dos recursos naturais permite um desenvolvimento turístico equilibrado, sustentável e responsável, respeitando sempre a identidade única da Serra da Estrela. São estas acções, articuladas e implementadas em rede, que garantirão um futuro turístico mais sustentável, mais próspero e mais acessível à zona Norte da Serra da Estrela, consolidando o nosso território como um destino de excelência.