– “Eusébio.
Havia nele a máxima tensão. Como um clássico ordenava a própria força – sabia a contenção e era explosão – havia nele o touro e a corça”.
– Extracto de um poema de Manuel Alegre, sobre Eusébio.
…
Faz agora 82 anos sobre a data do nascimento de Eusébio, o nosso “King” (Rei). Nascido no seio de uma modesta família, em uma singela povoação, de Moçambique.
Sim, prefiro muito mais assinalar a data dos nascimentos do que as datas da morte. E tudo aquilo que eu possa escrever sobre Eusébio não conseguirá reproduzir em intensidade e emoção o que ele representou e representa para mim e para o futebol em geral. Eusébio foi, e continua sendo, o meu grande ídolo, desde a criança que eu fui.
Marcou-me de forma incontornável, fez-me benfiquista, amante do futebol e proporcionou-me das maiores alegrias – em alegria pura, simultaneamente íntima e colectiva ! – de toda a minha vida que já tem umas décadas.
Como “jogador da bola” – como ele gostava de designar os futebolistas – Eusébio foi um dos melhores de sempre, aliás muito bem acompanhado pelos Colegas da sua equipa de uma vida, o Benfica e também na Selecção Nacional, sobretudo na década de sessenta e início da de setenta.
Eusébio foi – e será – um dos maiores rematadores do futebol, com um remate potente e colocado que todos os adversários temiam e com razão. Os seus “arranques” em direcção à baliza adversária, a sua velocidade, os seus “tiros” certeiros, o seu estilo atlético e felino, a sua inteligência prática em campo, constituem um exemplar acervo de obras da arte futebolística a que ele por norma juntava uma forma própria e exuberante de comemorar os melhores golos. Alcunharam-no de “Pantera Negra”. Com mais golos marcados que o número de jogos oficiais por ele jogados, apesar das graves e precoces lesões nos joelhos, em especial no joelho esquerdo. Por tudo isso e por mais ainda, eu não discuto Eusébio e simplesmente recuso-me a compará-lo com outros futebolistas. Para atalhar razões, travo à nascença conversas do tipo e afirmo :-“atenção, para mim Eusébio é outro campeonato ! Se Eusébio jogasse hoje valia mil milhões de euros e o Benfica não o deixava sair de cá !” – concluo categórico… Enfim, naturalmente que reconheço toda a imensa valia de Cristiano Ronaldo e a “máquina de fazer golos” que ele é. Mas nem de longe Cristiano me empolga como Eusébio me empolgava e mesmo me emocionava. Eis uma diferença inestimável, de foro mais íntimo e pessoal.
Lamentavelmente para mim, só vi Eusébio por duas vezes, ao vivo, em competição. Mas desde os meus nove anos de idade que o segui, primeiro nos relatos da rádio e depois pela televisão. De muitas dessas partidas retenho ainda sons e imagens na minha memória, como se fossem gravações. Não sou coleccionador, mas vou guardando muitas “coisas” sobre Eusébio e vou revisitando imagens e sons nos muitos vídeos que andam na NET. Ainda bem que é tão acessível rever imagens daquele fantástico jogador da bola em acção ! Ainda não visitei o “Museu do Benfica” , no Estádio da Luz mas já fui dar um beijo, em genuflexão, na bota da estátua do Eusébio, cá fora. Segui emocionado, pela televisão, o seu funeral. Está muito justamente no “Panteão Nacional” e se fosse eu a mandar colocava o seu túmulo nos Jerónimos, podem crer !
Grande jogador ! Homem modesto apesar de saber que era grande na arte do jogo da bola !
Curtos retalhos da vida de um fantástico “jogador da bola” – Eusébio !
Uma vez, uma equipa das “Velhas Glórias” do Benfica veio disputar um jogo com uma equipa local numa Povoação do nosso Concelho. Eusébio também veio a acompanhar embora já bastante debilitado fisicamente. Deu o “pontapé de saída” desse jogo e, nisso, ouviu-se o maior aplauso do dia. Houve “comes e bebes” depois do jogo e a organização local fez questão em oferecer a Eusébio um presunto e uns enchidos sem que os Colegas se apercebessem…que Eusébio era Eusébio… Quanto a mim, o que mais me preocupou, até o conseguir, foi obter um autógrafo de Eusébio, escrito numa foto sua ! Grande “troféu” !
De outra vez, assisti via televisão, a um apontamento de certa forma engraçado. Eusébio brincava com um netito – a “Panterinha” como ele lhe chamava – com uma bola de futebol, dentro de casa e, a dada altura, o netito volta-se para o avô e diz-lhe sem gaguejar:-” ó Avô, dá cá a bola para mim que tu não percebes nada disso !” – e Eusébio ria-se todo “babado” apesar da ironia do caso e da própria vida….
Diz-se que “mais vale uma boa imagem que mil palavras!”. Para provar isso mesmo, divulga-se aqui, uma foto que mostra Eusébio em posição de alto índice aerodinâmico, todo ele ainda no ar, enquadrado no seu estilo vigoroso e felino, imediatamente após um remate fulminante. Foi esta foto tirada durante uma final da “Taça dos Clubes Campeões Europeus da FIFA”, final disputada entre o Benfica e o Milan, em Maio de 1963, no “velho” Estádio de Wembley (Londres) e que o Milan venceu por 2 – 1. A bola já se não vê na foto mas pode adivinhar-se a levantar as redes no fundo da baliza adversária. Por curiosidade, pode também ver-se, ao lado de Eusébio, um jogador do Milan, o Giovanni Trapattoni – que viria a ser treinador do Benfica e campeão nacional, em Portugal, na época de 2004 /05. Vendo com cuidado um vídeo dessa final, é muito provável que, na sequência desse chuto espectacular, Eusébio tenha feito o golo madrugador (19 minutos de jogo) mas insuficiente do Benfica. Não sabemos quem foi o fotógrafo mas foi feliz ao parar e conservar, no tempo e no modo, o gesto futebolístico ímpar de Eusébio ! Obrigado Fotógrafo !
E principalmente, obrigado Eusébio por tudo aquilo que me (nos) deste !
Viva Eusébio ! Viva os jogadores da bola !
João Dinis, Jano