A Associação Humanitária dos Bombeiros de Lagares da Beira foi informada de que deixará de efetuar serviço de transferência de doentes. A notícia caiu que nem uma “bomba” no seio do corpo de bombeiros, por colocar em risco postos de trabalho e a viabilidade da própria corporação.
Às portas daquele que é o o grande evento organizado pela AHBV de Lagares da Beira- o Carnaval da Beira Serra- todas as atenções se centram na recém chegada notícia que não augura nada de bom para o presente e futuro da corporação. Em causa está o anúncio de que a corporação deixará de fazer serviços de transferências de doentes a partir do Serviço de Atendimento Permanente do Centro de Saúde de Oliveira do Hospital e que, na prática, implica uma redução drástica do serviço que é prestado pelos bombeiros lagarenses, com consequente perda de receita.
“De um dia para o outro, passamos de uma faturação mensal de 9 mil Euros, para zero”, referiu angustiado o presidente da direção da AHBV de Lagares da Beira. Ao correidabeiraserra.com, António Amadeu disse ter sido informado da situação numa reunião tida no dia 23 de janeiro, no centro de Saúde de Oliveira do Hospital pelo próprio presidente do ACES do Pinhal Interior Norte, Avelino Pedroso, que justificou a medida com um decreto lei de 2012 que determina que a transferência de doentes seja assegurada pela corporação mais próxima. “Fomos apanhados de surpresa, porque fomos à reunião com o intuito de que nos fosse pago um montante em dívida de quatro mil Euros e não tínhamos conhecimento de que afinal o assunto da reunião era outro”, explicou o responsável máximo da corporação lagarense.
Naquele encontro, o anúncio logo colheu a contestação da responsável pelo Centro de Saúde, que terá proposto a continução do atual modelo de repartição dos serviços entre as duas corporações. “O tempo que demoramos até ao SAP nunca foi problema. Fazemos este serviço há 20 anos e nunca houve uma queixa”, continuou António Gonçalves que, se mostra ainda mais indignado, com a forma como os dirigentes da AHBV de Lagares da Beira foram tratados numa reunião posterior tida na Administração Regional de Saúde do Centro, no dia 14 de fevereiro, com seis técnicos daquela estrutura, onde “foi posto em causa o próprio centro de saúde e os médicos” e foi feita “ameaça de auditoria”. Em causa está o número de transferência de doentes do SAP para Coimbra e que será considerado “excessivo” por aquele conjunto de técnicos.
“Estão a fazer com que um corpo de bombeiros esteja bem e com que outro tenha que fechar portas. Isto traz-nos sobressaltados”
“Não foram sensíveis ao que nós consideramos justos”, queixa-se o responsável pela corporação lagarense que não vê de bom grado “a machadada” que estão a dar à AHBV de Lagares da Beira. “Estão a fazer com que um corpo de bombeiros esteja bem e com que outro tenha que fechar portas. Isto traz-nos sobressaltados”, avisa António Gonçalves que mensalmente se vê a braços com uma carga salarial de 12 mil Euros, sendo que só nove mil são provenientes do serviço de transferência de doentes.
Para além de considerar tratar-se de uma injustiça, António Gonçalves alerta para o facto de a medida ser impraticável, visto que atendendo à média mensal de transferência de doentes – mais de duas centenas – a corporação da cidade não tem condições para assegurar sozinha aquele serviço. “A medida entrou em vigor às 00h00 do dia 5 de fevereiro e às 13h30 já nos estavam a chamar para fazer transferência de um doente”, contou o responsável, contando que desde aquela data a corporação tem continuado a assegurar aquele serviço, aguardando por decisão final da ARS.
No relacionamento que tem tido com os responsáveis regionais pela Saúde, António Gonçalves tem a registar o clima de constante imposição para com a AHBV de Lagares da Beira. Neste processo, o responsável deposita confiança nas conversações que o presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital já iniciou com o presidente da ARS Centro, José Manuel Terezo que até agora nunca reuniu com a direção da corporação lagarense. Também o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses manifestou solidariedade para com a AHBV de Lagares da Beira que vive dias de “aflição” por desconhecer o que o amanhã lhe reserva.
A esta altura, António Gonçalves lamenta que os Bombeiros só sejam levados em conta no período de incêndios ou quando algum chega a perder a vida. “Felizmente não morreu ninguém, mas querem matar a Associação Humanitária”, refere angustiado o responsável disponível para “defender a Associação Humanitária com unhas e dentes”. Num processo difícil, António Gonçalves espera é que nos restantes corpos de bombeiros “haja solidariedade e não queiram cravar facas nas costas uns dos outros”. “Que os mais protegidos tenham solidariedade para com os que têm menos posses”, defendeu.
A comunicação de que deixará de efetuar transferência de doentes foi feita numa altura em que a AHBV de Lagares da Beira dá sinais de recuperação da sua situação financeira. “Passámos de um saldo negativo de 50 mil Euros para um positivo de 25 mil Euros”, contou António Gonçalves, notando que tal se deveu ao empenho da direção, apoio da Câmara Municipal que levou por diante um plano de saneamento financeiro e a dedicação dos bombeiros que forma “inexcedíveis no trabalho”.