Altamente perturbadora, a imagem da criança morta por afogamento, que deu à costa numa praia da Turquia, simboliza a desumanidade que grassa no mundo contemporâneo, gerando um quadro de barbárie, próprio do fim de uma civilização, a que assistimos praticamente em directo, através dos meios de comunicação, que, em função da modernização tecnológica, cada vez mostram mais daquilo que acontece, deixando-nos chocados e impotentes.
Fugindo da violência, da opressão, da pobreza extrema e da guerra, são milhares e milhares de pessoas que, sem nada a perder, fogem da Síria, da Somália, do Iraque ou da Eritreia, tentando chegar à Europa pelo mar nas condições mais perigosas e desumanas. E o mais estranho é que esses miseráveis não encontram acolhimento nos principais países europeus, à excepção da surpreendente Alemanha de Angela Merkel – uma mulher, afinal, com sagacidade política, que demonstra saber, perfeitamente, que ao receber os refugiados de braços abertos não mata dois, mas, sim, três coelhos com uma só cajadada: elimina eventuais movimentos de extrema-direita no seu país, evitando o que acontece, por exemplo, na França; isola os discursos e práticas xenófobas de França e Grã-Bretanha, definindo, assim, quem manda na Europa; e tenta resolver a questão da baixa natalidade na própria Alemanha.
Pelo contrário, uma boa parte dos países europeus estão mergulhados sobre si mesmos, numa cultura divisionista, justamente contrária ao espírito de uma Europa unida, solidária e multicultural – o que se viu plenamente a propósito da crise grega. Ora, separados pelo egoísmo, os países europeus são mais fracos. Não contribuem, por isso, para a criação de uma força militar ocidental que, de uma vez por todas, acabe, por exemplo, com esse monstro chamado Estado Islâmico, que, selvaticamente, tem espalhado o terror, a morte e a destruição do património mundial.
Fotografia: Massimo Sestini
Luís Paulo Rodrigues é jornalista e consultor de comunicação. É autor do blog “Comunicação Integrada”: http://luispaulorodrigues.blogspot.pt/