Ciclismo em Estrada.
A nível internacional (categoria máxima da “UCI – World Tour” – União Ciclista Internacional – Volta ao Mundo), a época do ciclismo foi mais do que dominada pela equipa da UAE – Team Emirates, (Equipa dos Emirados Árabes Unidos) e, individualmente, pelo seu “piloto-capitão” Tadej Pogacar. Mas, no seu todo, a equipa é já uma autêntica selecção mundial de talentos em que se incluem uns 4 ou 5 Portugueses com o João Almeida à cabeça. Tem esta equipa, e de longe, o maior orçamento financeiro disponível de entre todas as restantes equipas, com os dinheiros do “petróleo” árabe a subsidiar. Pudera…
É evidente que há nisso grandes vantagens comparativamente com a larga maioria das outras equipas que não dispõem, nem pouco mais ou menos, de tantos recursos financeiros para poderem contratar tanto dos mais caros “recursos humanos” ao nível dos ciclistas, equipas técnicas bem como “markting” (publicidade-propaganda), influências várias, etc.
Em consequência, essa espécie de “ditadura financeira” da UAE repercute-se a nível da “ditadura desportiva/industrial” que a equipa exerce corrida a corrida. Enfim, apesar de tudo, na época anterior (2023), foi a equipa da Team Visma – Lease a Bike, que hegemonizou as corridas por etapas quando ciclistas seus ganharam o Giro (Roglic – a Volta a Itália), o Tour de France (Vingegaard – a Volta a França) e a Vuelta ( Sepp Cuss – a Volta a Espanha). Este ano já não foi assim, como disse.
Tadej Pogacar, com 26 anos, já é um “mito” e pedala para vir a ser o maior de sempre.
Embora a coisa deva ser como o próprio diz:- “deixem-me terminar a minha carreira e depois façam esse tipo de avaliações em se sou ou não melhor que Eddy Merckx”, o facto é que é permanente a vontade em se fazer essa comparação. Ou seja, com apenas 26 anos de idade, “Poggy” (Pogi) – como é afectivamente tratado Pogacar – já está no “pódio” daquela meia dúzia dos melhores ciclistas de sempre. E é mesmo caso para isso.
Esta época então, foi avassalador o domínio pessoal que exibiu nas estradas, corrida a corrida, vencendo várias etapas em cada uma das corridas por etapas, da Volta à Catalunha, ao Giro e ao Tour. Enfim, não correu a Vuelta a Espanda, senão… E corridas “clássicas” de um só dia, várias dessas também, incluindo o Campeonato do Mundo em estrada.
Estamos a revê-lo (em vídeos, claro) quando, a dado momento da corrida e mesmo inesperadamente (momento/Km) embora se espere sempre pelo momento em que Pogi “salte” do pelotão, ele se levanta do selim a ecelera brutalmente, logo deixando para trás todos os outros. E, a seguir, são 30 – 50 – 80 – 100 quilómetros (foi assim consoante a corrida) em autênticos contra-relógios, sem nunca mais ser alcançado até à meta ! Nesses percursos “a solo”, é Pogi contra Pogi e os outros passam a ser ”figurantes”. Pogi obteve 25 vitórias individuais esta época, duas das quais em Portugal (Fevereiro, na corrida da Figueira da Foz e na Volta ao Algarve) ! Pessoalmente, eu espero que Pogi tente bater o recorde mundial da hora (em pista) como, por exemplo, fez Eddy Merckx na sua época. São obviamente muito diferentes os tempos em que um e outro correram – e em que agora corre Pogi – mas subsistem os números, os recordes individuais e mesmo colectivos. Estão nisso muito próximos e Pogi ainda tem pela frente mais 10 anos de corridas, dos quais 5 ou 6 ao mais alto nível e, isto, caso não surja algo de inesperado na sua vida desportiva… As quedas são sempre do pior que pode acontecer a um ciclista…
A discussão faz-de cá fora das corridas em torno de conjecturas várias. As corridas com Pogi perdem interesse competitivo ?… Que fazer então ? Pogi utiliza ou não estimulantes e de que tipo provável ? – que paira dentro das nossas cabeças o triste exemplo do Lance Armstrong vencedor do Tour de França por sete vezes seguidas e depois desclassificado por uso sistemático de “doping” (estimulantes)…
Outros ciclistas, incluindo alguns campeões, reconhecem – pudera ! – a sopremacia demonstrada por Pogi e, isto, para lá da supremacia da equipa da UAE. Recentemente, foi o seu compatriota Roglic (35 anos de idade), por exemplo, quatro vezes vencedor da Vuelta a Espanha, vencedor do Giro, derrotado por Pogi no contra-relógio final em que perdeu o Tour em 2020, Roglic (há anos que eu sou fã dele) que veio ironizar ao dizer que vai esperar pela confirmação do calendário competitivo de Pogi para só depois estabelecer o seu próprio calendário, assim procurando evitar a competição directa com Pogi… Creio ser este o tipo de “tentação” que atravessa as perspectivas da maioria dos outros ciclistas…sobretudo daqueles que viram Pogi em prova a passar por eles todos, assim como se eles tivessem parado de pedalar e a dizer-lhes enqunto sorri:-”tchau, encontramo-nos na meta!”…
Há também o âmbito do jogo das apostas usuais neste tipo de competições. Quando há Pogi em prova quem é que se atreve a apostar contra ele? Pois então, assim também perde o jogo das apostas e isso não é pequeno problema no contexto, entenda-se… Creio que, pelo andar das bicicletas, um dia destes se vai começar a apostar no quilómetro de corrida em que Pogi vai fugir; quantos minutos dá ele de avanço, na meta, ao segundo classificado, etc…
– Jonas Vingegaard – Remco Evenepoel – Mathieu Van der Poel –
Destaco estes três que para Primoz Roglic a idade (35 anos) já começa a pesar muito… Nas corridas por etapas – por exemplo no Tour – Vingegaard já provou ser capaz de ombrear com Pogi. Aliás, para mim, constituiu um momento marcante a nível desportivo e emocional também, aquela espectacular vitória de Vingegaard sobre Pogi na etapa 11 do Tour deste ano. Eu estive do lado de Vingegaard na emoção que ele transmitiu logo após esta sua vitória tão notável quanto dramática. Como é sabido, Vingegaard foi vítima de uma tremenda queda na Volta ao País Basco (início de Abril) que quase o matou. Daí até ao Tour (Julho), foi toda uma longa e penosa fase de recuperação física e mental que Vingegaard teve de enfrentar. Ao que parece, fê-lo com êxito mas seguramente também com muito esforço, sacrifícios e expectativas. Então, ver aquela sua figura, que até aparenta (aparenta…) fragilidade física, vencer um Pogi confiante, e aparecer frente às televisões emocionado, a chorar lágrimas afinal de satisfação, isso foi inesquecível ! Bravo Vingegaard ! Faço votos que te apresentes outra vez em grande forma que Pogacar e nós, fãs do ciclismo, todos merecemos o espectáculo dessa desejável competição !
Remco Evenepoel continua fortíssimo nos contra-relógios – é campeão Olímpido e Campeão Mundial, 2024 – e é forte em corridas de um só dia. Tem melhorado nas corridas por etapas e tem-se batido contra Pogi embora ainda sem hipóteses finais. Vamos a ver como evolui que é um jovem (24 anos)…
Mathieu Van der Poel é outra formidável máquina de pedalar. É mesmo talvez o mais completo ciclista da actualidade pois farta-se de ganhar grandes provas no ciclocrosse e no ciclomontanha, para além de algumas provas de um só dia na estrada. Por norma, no domínio do ciclocross, tem um adversário de monta em Vout Van Aert. As grandes corridas em estrada contam com ambos e também eles capazes de contrariar favoritismos ocasionais de Pogi. Vamos a ver…
Câmara Municipal de Oliveira do Hospital atribuiu 15 mil euros (?!) à Vuelta a Espanha, 2024.
Pois a informação disponibilizada diz que a Câmara Municipal atribuiu 15 mil euros à Vuelta a Espanha deste ano que, como estaremos lembrados, passou “a correr” (Agosto) pelo Vale do Alva e Alvôco. De nossa parte, ficámos até (agradavelmente) surpreendidos que não imaginávamos o “negócio” desta Vuelta assim tão “barato” para o orçamento municipal…
Porém, subsiste esse tipo de opção pelo apoio à Vuelta a Espanha sabendo-se do (mau) estado em que tem andado a Volta a Portugal em Bicicleta, esta uma competição clássica que tem sido “desclassificada” mesmo entre nós, o que até atenta contra a dignidade nacional. Prestigiar e dignificar a Volta a Portugal em Bicicleta é pois um desígnio nacional o qual também deve merecer toda a prioridade a nível municipal aliás como já aconteceu há uns anos atrás.
“Pedalemos” pois !
Outubro de 2024