A SAD do FC Oliveira do Hospital regressou aos oliveirenses. O desfecho, embora esperado por alguns, levanta questões essenciais: como se chegou a este ponto? Algo falhou no processo. Quando se firma um contrato, é fundamental conhecer as intenções de ambas as partes, antecipar dificuldades e garantir que os compromissos assumidos tenham bases sólidas.
Talvez tenham sido feitas promessas. Talvez se tenha dito que um novo estádio seria erguido na cidade. Se assim foi, o município falhou redondamente. O estádio não existe. Mas há um investimento avultado nos balneários de um recinto que, paradoxalmente, não pode acolher a principal equipa da cidade que disputa a Liga 3.
A SAD viu as suas despesas aumentar, sem qualquer contrapartida, jogando sempre fora de casa, uma vez que os jogos que deveriam realizar-se em Oliveira do Hospital acontecem em Tábua. Isto afasta os adeptos e fragiliza o apoio ao clube.
Os investidores que chegaram apostaram no clube errado, no momento errado. E agora recordo as promessas eleitorais que levaram o PS ao poder municipal. Uma delas, feita pelo candidato vencedor das eleições de 2009, assim como pelo actual presidente, era a construção de um centro desportivo multifuncional, que servisse não só o futebol, mas várias modalidades. Até hoje, nada aconteceu. Promessas não cumpridas, mais uma vez. Estamos fartos de palavras vazias, de políticos que falam com convicção em campanha, mas que não cumprem quando chegam ao poder.
No futuro, qualquer novo investidor — caso exista — deve-se acautelar. Em minha opinião, só deve avançar quando a Câmara Municipal, após as eleições, der início às obras do novo estádio. Com o actual executivo, tenho dúvidas de que essa empreitada se concretize. Depois de tantas promessas ao povo de Oliveira do Hospital, como pode um investidor acreditar que as novas infra-estruturas serão construídas? O interesse dos oliveirenses tem sido constantemente desconsiderado. Esta e outras promessas, que seriam uma mais-valia para o concelho, nunca se materializaram.
O problema não é exclusivo no desporto. Veja-se o que aconteceu após os incêndios de 2017, que devastaram a região. Muitos perderam as suas casas e outros bens essenciais, e ainda hoje há milhares de pessoas sem apoio — algo do conhecimento das autoridades e responsáveis locais, que se esqueceram de milhares de lesados. Agora, com o início das feiras do queijo Serra da Estrela, pergunto: onde estão muitos dos antigos produtores? Alguns perderam os seus rebanhos e nada ou quase nada receberam. Resistiram, com dificuldade. Alguns, até aos dias de hoje, apenas tiveram o apoio de amigos, quando esse apoio deveria ter vindo do Estado. Mas o Governo da época quase nada fez. Durante as campanhas eleitorais, os autarcas, por seu lado, surgiam, batiam-lhes nas costas e diziam: “Estamos convosco”. Mas depois das eleições desapareceram.
O que se passa em Tábua é outro exemplo de desvario. A Câmara insiste em instalar uma incubadora de queijo Serra da Estrela numa antiga escola primária, contra a vontade da população. A proximidade de uma casa funerária torna a escolha ainda mais insensata. A Irmandade de Santa Ana tem gerido aquele espaço com sucesso. Mesmo sem grande apoio municipal, conseguiu transformar aquele local num ponto de encontro e convívio da população. Em vez de se preocupar com o saneamento e as acessibilidades das aldeias do concelho, a autarquia investe tempo e recursos em projectos que contrariam o povo.
Uma incubadora de queijo, diga-se, faz sentido, mas deve ser bem planeada, num local adequado e com espaço para crescer. Há terrenos tomados pelo vegetação junto aos rios Seia e Mondego que serviriam bem esse propósito. Mas se o problema for a falta de terreno, ofereço parte de uma das minhas propriedades para que Vila do Mato possa receber esta infra-estrutura, até porque se inclui no território do concelho (freguesias da Póvoa de Midões, Midões ou União de Freguesias de Covas e Vila Nova de Oliveirinha) que pertence à zona demarcada de produção do queijo Serra da Estrela.
Promessas, decisões erradas e falta de visão. Eis o retrato de Oliveira do Hospital, de Tábua e de grande parte dos concelhos desta região. O futuro exige mais do que palavras. Exige trabalho, dedicação e respeito.
Autor: Fernando Tavares Pereira