O Norte da Serra da Estrela, abrangendo concelhos como Celorico da Beira, Gouveia, Seia e Oliveira do Hospital, tem assistido a um processo de declínio prolongado. Décadas de perda de serviços públicos. O encerramento de centenas de empresas ao longo de todos estes anos sem que a maioria dos políticos locais e nacionais se tenham preocupado ou mostrem actualmente preocupações. São estes aspectos que definem o retracto de uma região esquecida. A recente decisão de eliminar as portagens na A23 e A25, uma medida muito positiva, ameaça acentuar ainda mais o isolamento e a desertificação da região Norte da Serra da Estrela.
A verdade é esta: não há um único acesso moderno e eficiente ao Norte da Serra da Estrela capaz de atrair investimentos ou recuperar os serviços públicos e privados perdidos. Durante cerca de 40 anos, foram prometidas particularmente acessibilidades, mas nunca se concretizaram. O cenário que prevalece é o aumento de cartazes com a inscrição “vende-se”. Recentemente, mencionei que estes concelhos perderam mais de 20 mil eleitores em apenas duas décadas. O que têm feito os presidentes de câmara e outros políticos? Que forças estão, de facto, empenhadas em travar esta espiral de abandono? Que futuro se perspectiva para este território? Mais desertificação, mais perda de identidade e o contínuo esvaziamento de vida? Provavelmente.
O Parque Natural da Serra da Estrela, que de natural tem pouco, está hoje confinado a uma rigidez incompreensível. Qualquer projecto de construção ou requalificação são travados por entraves burocráticos e restrições excessivas.
O governo não pode continuar a negligenciar esta realidade, como o fizeram sucessivamente os anteriores executivos, mas também ministros, secretários de Estado, deputados e autarcas provenientes da região. Enquanto o Sul da Serra da Estrela — como a Covilhã, Fundão e Belmonte, e também a região de Viseu — beneficia claramente da abolição das portagens, os concelhos do Norte permanecem à margem deste mecanismo de apoio ao desenvolvimento. A cidade da Guarda poderá ser a excepção, pela proximidade com a A23 e A25, mas mesmo isso é insuficiente.
É necessário concretizar os ICs há muito anunciados e nada está feito. É tempo de pensar em alternativas ousadas, como a criação de uma também já prometida Estrada Verde, ligando a Guarda à Lagoa Comprida, em Seia, com passagem por Folgosinho, no concelho de Gouveia. Esta infra-estrutura poderia revitalizar o turismo e dinamizar o sector hoteleiro, criando novos polos de atracção, desde que a concessionária do turismo na Serra da Estrela, a Turistrela, não seja mais papista que o Papa, que nada se tem feito devido aos privilégios desta empresa.
Fica o apelo: não nos deixem afundar ainda mais no esquecimento. Esta região merece mais do que promessas adiadas. Precisa de acção, respeito e dignidade.
Autor: Fernando Tavares Pereira