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“O poder local tem de estar perto, não das festas, mas dos centros de negócios”

João Miguel Pais acredita que Oliveira do Hospital tem potencialidades para atrair empresas e inverter a perda de jovens quadros…

Licenciado em próteses dentária, com uma pós-graduação em direito e gestão da saúde e a frequentar dois mestrados, João Miguel Pais, 26 anos, é vice-presidente da Juventude Popular, faz parte de um executivo autárquico jovem na Freguesia de Alvoco das Várzeas e defende uma visão estruturante para o concelho de Oliveira do Hospital. Considera fundamental uma aposta na criação de estruturas para atrair empresas e “nómadas digitais” e fala de concelhos do interior que têm conseguido trilhar esse caminho. “O poder local tem de estar perto, não das festas, mas dos centros de negócios. Isso faz toda a diferença”, diz em entrevista ao CBS, explicando que está a ser importante a sua experiência como jovem autarca. “Na política local ganha-se conhecimento de causa. É preciso servir para depois liderar”, conta.

CBS – Alvoco das Várzeas tem uma Junta de Freguesia constituída por jovens. Esse aspecto tem marcado a gestão da autarquia?

João Miguel Pais ­- É a primeira vez que somos autarcas, incluindo a presidente da Assembleia de Freguesia. Somos todos muito novos. Até me arriscaria a dizer que somos o executivo mais novo do pais. A nossa candidatura surgiu num clima de mudança. Um dos nossos slogans é que, além da experiência profissional que cada um tem, a nossa mais valia vem da experiência do associativismo académico que permite uma nova gama de contactos, o que nos ajuda a impulsionar a Junta. Esses contactos permitem-nos criar protocolos que acabam por dinamizar a localidade. As Juntas de Freguesia são o parente pobre da democracia portuguesa. O nosso orçamento não nos permite fazer obras avultadas, por isso temos de seguir outro caminho. Já estabelecemos protocolos com a Associação Académica de Coimbra, temos em vista o mesmo com a AA da UBI e já tivemos aqui a Associação Missão País [um projecto católico de universitários]. O nosso objectivo é chamar instituições, grupos de jovens ou associações para que venham e divulguem Alvoco. Queremos colocar Alvoco das Várzeas no mapa e estamos a conseguir. As pessoas que passam por cá acabam por deixar a sua marca, por divulgar a localidade e por voltar.

Quais foram as obras mais relevantes que realizaram?

Há uma parte do nosso trabalho que é invisível para as pessoas e que se prende com os processos administrativos. Foi um passo muito importante. Resumindo: colocamos a Junta de Freguesia no século XXI. Foi criado um site e mantemos uma forte presença nas redes sociais. São locais onde as pessoas, principalmente aqueles que são naturais daqui, mas que se encontram fora, se podem informar sobre actividades na localidade. Regulamentámos a celebração de protocolos e a gestão dos espaços físicos. Criamos o ciclo INteriorizar, que é um conjunto de conferências que foi criado para promover o debate sobre temas que impactam a vida das gentes destes territórios. Já foi realizado um workshop sobre alimentação saudável e uma conferência sobre como captar jovens para o ensino superior. Vamos ter outras temáticas, como a floresta, a saúde ou o suporte básico de vida em colaboração com os bombeiros voluntários. Ou seja, queremos trazer literacia a esta comunidade. Não só para os jovens, mas também para que exista um envelhecimento activo.

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O Arraial Social de Alvoco das Várzeas é também uma das nossas bandeiras. É uma festa diferente, em que as receitas vão para a requalificação do salão polivalente do Centro de Recreio de Convívio de Alvôco das Várzeas (CERCAV) que é um espaço muito importante para uma freguesia com muito associativismo.

E para o futuro…?

Vamos requalificar o rés do chão da junta. É algo muito necessário, até para comodidade da população. Neste momento, temos os correios, o balcão SNS 24, a parte administrativa da Junta e, possivelmente, vamos ter cá um balcão do cidadão. E só temos uma pessoa para todas essas áreas. Portanto é importante centralizar os serviços, oferecendo facilidade de acesso a pessoas com alguma idade e com problemas de locomoção.  Queremos também avançar com a área de reabilitação urbana. Vamos ver se é possível, principalmente para que a zona histórica de Alvoco das Várzeas possa funcionar como futuro albergue de nómadas digitais que pretendam instalar-se em Alvoco. Outra ideia que poderá avançar é a de um Cool-living [trata-se de uma abordagem da vida, onde se valoriza o equilíbrio entre trabalho, lazer e bem-estar], mas não temos património material ou financiamento. Mas estamos em conversações com as Aldeias de Montanha. É um projecto ainda muito embrionário, mas que pode fazer a diferença no futuro, ajudando, entre outros aspectos, o Coworking a crescer. Estamos também empenhados em instalar fibra óptica que ainda não temos. Além disso, vamos fazer intervenção na Rua do Baraçal, no caminho das Eiras e pretendemos requalificar o cemitério velho. Temos também um projecto para um novo parque de estacionamento com acesso ao Açude da Moenda e outro jardim lazer mais para a zona do Açude da Volta. Queremos dotar a freguesia de serviços, mas também obras que fiquem para o futuro.

E como tem corrido esta experiência?

Na política local ganha-se conhecimento de causa. É preciso servir para depois liderar. Uma junta de freguesia com as idiossincrasias de Alvoco é um desafio exigente. Não temos quadros administrativos. E, muitos dos autarcas, neste tipo de junta, mais do que cargos executivos, exercem funções laborais, seja organizar os caixotes do lixo seja a limpar muitas vezes a rua. É uma base para o futuro, mesmo que não passe pela política.

O seu futuro passa por Alvoco?

É difícil. Gosto muito de Alvoco, mas quero constituir família dentro de alguns anos e não vejo que tenha aqui oportunidades profissionais. Oliveira do Hospital tem uma geração que não se esqueceu das suas origens. Esta desertificação não é uma fatalidade. Veja-se o exemplo dos concelhos de Bragança e do Fundão que, apesar da sua interioridade, conseguiram atrair empresas, investimento, quadros e segurar os seus jovens. O Fundão tem as suas freguesias povoadas por engenheiros. Portanto, repito, o actual momento que se vive em Oliveira Hospital é reversível. Há formas de inverter este estado de coisas.

Como?

Contactos. Interesse pelo desenvolvimento. O poder local tem de estar perto, não das festas, mas dos centros de negócios. Isso faz toda a diferença. A Câmara Municipal, e tenho o máximo respeito institucional pelo actual executivo, não pode estar focada apenas na EXPOH e na Feira do Queijo. Tem de ter uma visão que se constrói de dentro para fora e não de fora para dentro. E temos oliveirenses que não estão permanentemente em Oliveira do Hospital, mas que gostariam de ajudar. Devíamos olhar para eles.

Isso não tem acontecido?

Vou-lhe dar o exemplo aqui de Alvoco das Várzeas. Foi construído o espaço Coworking para atrair nómadas digitais. É uma boa aposta. Mas quem quiser vir para aqui não tem habitação. Não há casas para arrendar. Quando se pensou neste espaço, o projecto devia logo ter-se feito acompanhar incentivos para os privados recuperarem habitações que estão abandonadas e arrendá-las. Mas essa parte foi esquecida, o que limita a capacidade de atrair pessoas que realizam teletrabalho, apesar da beleza natural das nossas freguesias. No Fundão, insisto, existiu um investimento da autarquia que criou todas as condições para que o concelho fosse atractivo para pessoas e empresas. Em Oliveira do Hospital, mais do que festas e eventos, também precisamos de um executivo municipal com uma visão estruturada. Não podemos ser um concelho em que a política se faz aos fins-de-semana, com o executivo camarário presente em todos os acontecimentos.

 Como interpreta esta viragem do concelho “à direita” nas legislativas?

Este foi um sinal claro de que há um degaste enorme no PS de Oliveira do Hospital. As próximas autárquicas vão ser muito interessantes porque há muitos presidentes de junta que devido à limitação de mandatos não se podem recandidatar. Esse será mais um problema para o PS que tem de se renovar e não sei onde irá encontrar nomes.

A Aliança Democrática contava com dois nomes de Oliveira do Hospital na lista. Isso influenciou o resultado?

Penso que sim. O facto da professora Sandra Fidalgo e eu estarmos na lista da Aliança Democrática ajudou. E demonstrou o cansaço das pessoas em relação ao PS que tinha José Carlos Alexandrino, que apesar surgir no final da lista, não deixou de fazer campanha, tal como o presidente da Federação Socialista concelhia, Daniel Costa. E o PS ganhou no Distrito, mas sofreu uma derrota pesada em Oliveira do Hospital. Além disso, devo dizer que fiquei muito satisfeito com a escolha de Rita Júdice para ministra da Justiça. Acredito que irá defender as nossas lutas. É uma pessoa com uma grande capacidade de aprendizagem, competente e que gosta de ouvir. Não tem a postura altiva e sobranceira de alguns.

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