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Presidente da Câmara de Seia: “O prestígio do queijo da serra tem de ser aproveitado para alavancar outros produtos endógenos”

A 38ª edição da Feira do Queijo da Serra da Estrela de Seia arranca este sábado e prolonga-se até terça-feira. O município liderado por Carlos Filipe Camelo aposta num evento que pretende aproveitar o Queijo Serra da Estrela para alavancar outros projectos endógenos. Apesar dos custos controlados para as actividades de 2016, 200 mil euros (incluindo já o investimento nesta Feira do Queijo), o autarca considera que a Feira do Queijo vai conseguir atrair em quatro dias 20 mil visitantes. A explicação para o sucesso passa, em boa parte, por dar palco àquilo que é a realidade que o concelho tem para oferecer. Não esconde que em sua opinião, muitos dos certames similares realizados na região não são feitos da melhor forma. “Há municípios que têm orçamentado para a Feira do Queijo o correspondente a metade daquilo que temos alocado a todas as actividades anuais”, conta em entrevista ao CBS, adiantando que tem de existir “muita atenção às finanças dos municípios”, mas que isso “não é impeditivo” de apresentar um certame que promove verdadeiramente o concelho, explica este autarca que afirmou também ter muitas dúvidas que o IC6 seja concluído a curto prazo. “Acabámos por morrer na praia em 2009 quando havia todas as condições para solucionar o IC6, IC7 e IC37 não foi feito. Mas não desistimos”, afirma Carlos Filipe Camelo que tem o sonho “de fazer de Seia um concelho referência do ponto de vista ambiental”.

CBS – Qual a importância da Feira do Queijo, que já vai na 38ª edição, para um concelho como Seia?

Enorme. A Feira do Queijo é uma tradição neste concelho e um evento identitário deste território de montanha, dedicado a uma ampla promoção do queijo da serra e de outros produtos endógenos. Vamos ter cerca de 150 expositores. É uma mostra que resulta num excelente retorno para a economia local. Permite ajudar na criação de sinergias e de parcerias público privadas instigadoras de desenvolvimento regional. O Queijo da Serra é o produto rei, mas esta feira seria um desperdício se não fosse aproveitada, a partir do prestígio do nosso queijo, para divulgar outros produtos endógenos que são extremamente importantes na economia da região, como o mel, a lã, o pão. São produtos que começam a ganhar credibilidade e que estão a dinamizar um conjunto de empresas na região. Hoje, temos empresas que colocam os seus produtos nas grandes superfícies como é o caso do nosso pão. O vinho, por exemplo, tem crescido a nível nacional e internacional. O mesmo se pode dizer do mel, do azeite, da lã ou da fruticultura, uma área onde agora está a existir um investimento significativo, incluindo no concelho de Oliveira do Hospital. Isto é multiplicador de emprego a nível regional. O dinheiro é um recurso escasso para desperdiçarmos uma oportunidade como esta para mostrar aquilo que de melhor temos para oferecer.

Carlos Filipe Camelo – A aposta, olhando para o programa, passa muito por uma aposta na prata da casa…

Apostámos na participação das nossas instituições para que consigam criar valor e consigam ajuda para financiar as suas actividades ao longo do ano, melhorando também a sua relação com a população. Além disso, este é um evento para alavancar os nossos produtos. Penso que temos trabalhado bem. Os termos em que outros realizam as suas festas ou feiras, e esta é apenas a minha leitura, não serão efectivamente os melhores. Mas cada um sabe de si. Nós procuramos dar palco efectivo àquilo que é a realidade do concelho. Temos uma quantidade de valências que pretendemos que os visitantes apreciem, como é a paisagem e um conjunto enorme de ofertas complementares vastas e diversificadas, como o museu da electricidade ou do pão. Se reparar, dentro do horário da feira que propusemos tivemos o cuidado que o mesmo ofereça às pessoas a possibilidade de traçarem os seus roteiros pelo concelho. O tempo tem-nos dado razão e nota-se um crescendo de ano para ano.

Quantos visitantes esperam neste certame?

Uma média de cinco mil visitantes dia, num total de mais de 20 mil durante toda a feira. Estes números são os nossos objectivos e o desejo daqueles que ali estão connosco, para que se sintam confortáveis com o investimento que estão a realizar. Acreditamos naquilo que fazemos, oferecendo um conjunto de actividades que consideramos interessantes a quem nos visita.

Quando fala em investir 200 mil euros em actividades culturais ao longo de 2016, nesse valor está incluído o investimento na Feira do Queijo?

Sim, o dinheiro é escasso. Há municípios que têm orçamentado para a Feira do Queijo o correspondente a metade daquilo que temos alocado a todas as actividades anuais. Mas cada um sabe das suas vidas. Estamos numa espécie de “Big Brother” financeiro. Estamos em desequilíbrio e os 200 mil euros fazem parte de um orçamento que é fruto de um trabalhado demorado e criterioso. Temos de ter muita atenção às finanças dos municípios, apresentando, ainda assim, um evento de qualidade superior que promove o município. Apostamos em fazer mais e melhor, gastando de forma mais razoável e com parcerias, sem as quais o evento seria praticamente impossível. O Skyroad, por exemplo, consome 1200 a 1250 euros, talvez mais qualquer coisa, dos fundos municipais, mas o retorno de promoção da região é incomensuravelmente superior. Temos de gastar o dinheiro de uma forma muito mais eficaz. Ou encontramos parcerias ou temos de sacrificar algumas actividades.

Quais as razões dos concelhos não se unirem e realizem um grande evento em vez de mitigar a feira do queijo em várias iniciativas pelos concelhos da região?

Sou apologista dessa teoria. Já fizemos uma experiência do género em que a feira foi realizada em 2011 em Seia, 2012 em Gouveia e 2013 em Fornos de Algodres. Ganhámos palco, partilhámos custos, mas a população não ficou satisfeita com o evento ser realizado fora do seu concelho. Daí entender que cada um deve realizar a sua. No entanto, uma união de esforços noutros palcos faz todo o sentido. Porque não realizar um grande evento, por exemplo, no Porto ou em Lisboa? Tinha toda a lógica. Penso que estamos mais preparados para esse tipo de acção. Seria uma maneira de chamar a atenção para a realidade destes territórios e para o facto de existirem cada vez menos pastores e ovelhas. Seria um esforço para que sejam tomadas políticas ao nível do poder central a fim de inverter esta tendência.

Fala muito no combate à desertificação e a fraca natalidade…

São duas das nossas grandes preocupações e não se resolvem com uma varinha mágica. Os apoios municipais que temos dado em termos de natalidade e à terceira idade não são suficientes. Esperamos que este processo tenha uma paragem e uma inversão. Para isso temos de criar melhores condições de vida aos nossos munícipes, às pessoas queiram vir viver para Seia e investir neste concelho. Precisamos de criar emprego e aproveitar estas potencialidades que a montanha nos oferece e que nenhuma outra zona do país possui. Temos que apostar na paisagem, no património natural e no construído. Quero fazer de Seia um concelho referência do ponto de vista ambiental. Não podemos prescindir desta área empresarial, naquilo que é o desenvolvimento do concelho. Na “venda” do território há três questões fundamentais: a montanha, o ambiente e produtos endógenos. Têm uma força económica notável. Hoje há milhões de euros que são facturados nesta área e é um dos sectores que agrega um conjunto de pessoas que não é desprezível quando falamos em termos de emprego na região.

Os acessos e a falta deles continuam a ser dos grandes problemas desta região, que muitos autarcas apontam como entrave ao desenvolvimento. Acredita que a conclusão do IC’s, nomeadamente o IC6, vai ser concretizada a breve prazo?

Gostaria, mas tenho alguma dificuldade em ver isso concretizado no curto prazo. Acabámos por morrer na praia em 2009 quando havia todas as condições para solucionar o IC6, IC7 e IC37. Duplicámos por esse país muitas vias. Gastou-se mal o que era o nosso dinheiro. Fizeram-se essas obras todas, mas esta zona ficou esquecida, apesar de promessas, com 30 e 40 anos, que nunca se concretizaram. Não vamos baixar os braços. Temos solicitado audiências com este Governo, porque o anterior também nos aturou. Chegou mesmo a pedir que os autarcas chegassem a um acordo. Fizemos isso. Não se podiam fazer os três IC’s, então a nossa proposta passava por concluir o IC6, como estava projectado, e depois levar o IC7 até Fornos de Algodres. Na prática, apesar deste acordo, nada foi feito. Mas não desistimos. Vamos continuar a falar com a tutela para que principalmente o problema do IC6 seja resolvido nos próximos tempos, pelos problemas a que temos assistido não me parece que seja fácil.

Seia também apresenta um programa cultural e de actividades muito forte ao longo do ano. Alguns deles são já conhecidos fora da região. O que o leva a manter esta aposta?

A cultura é uma aposta fundamental no sentido de transformar este território mais atractivo. É vista por nós como um investimento e não como uma despesa. É uma aposta para criar melhores condições de vida aos nossos munícipes, para quem quer vir viver e investir em Seia. A minha filosofia passa, por um lado, na aposta no turismo da natureza. Acredito no factor diferenciação. O Ultratrail e o Skyroad são iniciativas relacionadas com um território único. Procuramos apresentar, em termos de montanha, o que existe de melhor nas quatro estações do ano, não apenas durante a época da neve. Depois temos actividades culturais diversas, como o XII Seia Jazz & Blues ou o CineEco.

Qual o impacto destas actividades?

O XII Seia Jazz & Blues, em Março, é um produto inclusivo. O objectivo deste festival é proporcionar ao público local e da região a oferta destes géneros musicais, o Jazz e o Blues. Conta com a participação de grupos locais, mas também tendo como cabeça de cartaz Carvin Jones, um dos maiores guitarristas da actualidade. Em Junho, o Oh meu Deus Ultratrail Serra da Estrela já está referenciada entre os dez melhores eventos do género no mundo. Já temos neste momento cerca de três centenas de inscritos, mas esperamos chegar aos 500 ou 600. Com atletas franceses, japoneses e já está inscrito um malaio. Vêm de vários países e continentes. O Skyroad Serra da Estrela, em Julho, no ano passado acolheu 1200 participantes. É algo de significativo. Temos também o CineEco (Festival Ambiental da Serra da Estrela), que vai na sua 22ª edição e é o único festival de cinema de ambiente em Portugal. O prestígio internacional deste festival é inquestionável. Conta habitualmente com mais de 600 documentários, provenientes de mais de 30 países. Tem uma temática que comunga com a estratégia de Seia enquanto referência ambiental. O seu objectivo é a divulgação dos valores naturais e ecológicos. É membro fundador da Associação de Festivais de Cinema e Meio Ambiente – Environmental Filme Festival Network. É uma referência e experiência única no panorama cultural do país. É algo que nos orgulha e que ajuda a divulgar a região.

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