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OPINIÃO: a ocupação do território…

 

Não é preciso ser-se especialista na matéria – basta sensibilidade e bom senso – para se perceber que o município está hoje, de norte a sul, com muitas paisagens destruídas por causa da construção selvagem que foi sendo feita com o selo branco da câmara municipal.

No início dos anos 90, quando acompanhava um candidato em campanha eleitoral às eleições autárquicas – Lusitano dos Santos –, aquele especialista em urbanismo proferiu uma frase que sempre me ficou na memória. Foi mais ao menos assim: “É preferível a câmara municipal ceder projetos de construção às associações e ligas de melhoramento, do que estar a dar sacos de cimento e outros materiais” para que as pessoas, aos fins-de-semana, continuem a fazer sem acompanhamento técnico – nas suas terras – todo o tipo de mamarrachos, desenquadrados da paisagem, e sem o mínimo de estética.

Na verdade, a Câmara Municipal tem urgentemente que pôr em prática um conjunto de medidas cautelares que impeça a devassidão da paisagem. E, sobretudo, quando estão em causa centros históricos ou sítios com valor paisagístico.

Em Viseu, por exemplo, a autarquia de Fernando Ruas nem sequer consente que os aparelhos de ar condicionado sejam colocados nas fachadas principais dos edifícios das artérias que compõem o centro histórico da cidade.

Não é possível que em Alvôco das Várzeas, Aldeia das Dez, Avô – ou em qualquer outra zona dos vales do Alva e Alvôco – se continue a construir a bel-prazer das pessoas que, nalguns casos, até importam a arquitetura dos países onde viveram emigrados.

O que distingue o Alentejo do resto do país são as suas casas caiadas de branco com a tradicional faixa azul ou amarela. O que tem que distinguir Alvôco das Várzeas – uma zona com forte aptidão turística – do resto do país, por exemplo, tem forçosamente que ser as suas casas construídas com utilização do xisto. É uma questão de coerência e harmonia arquitetónica… é assim que se faz nos países que têm respeito pela sua arquitetura.

Os vales do Alva e Alvôco, que só num país como Portugal é que continuam de fora das rotas do turismo, estão hoje cheios de mamarrachos e de muita mimosa.

Agora, gerou-se um movimento contra a localização de uma estação de tratamento de águas residuais a escassos metros de um dos mais selvagens e cristalinos rios do país. Com aquela construção, a paisagem ficará irremediavelmente danificada.

É certo que, embora valha mais tarde do que nunca as pessoas acordaram tarde para o problema, já que a obra se encontra em curso e estão lá gastos cerca de 100 mil euros. Mas acordaram, e tenho a certeza que nada ficará como dantes.

Hoje, com as redes sociais – entre nós o Facebook é a mais popular – o nosso poder de denúncia e de protesto aumentou exponencialmente. Na sociedade de informação em que vivemos, os cidadãos têm cada vez mais a possibilidade de fazer contra-poder e obrigar o poder político a evitar ou corrigir o que está mal e põe em causa o interesse coletivo.

Na Venezuela – um verdadeiro “case-study” –, o presidente Hugo Chavez, quando apareceu o Twitter “estrabuchou” e teve vontade de censurar aquela rede social. Hoje – rendido ao poder da internet – Chavez está entre os homens do mundo com maior número de seguidores – cerca de 10 milhões – e até já resolve inúmeros problemas dos venezuelanos via Twitter.

Estou, por isso, certo de que o recente movimento criado no Facebook – intitulado “Salvem Alvoco” – pode afirmar-se como um dos primeiros “guardas digitais” daquele lindíssimo território. E se a moda pegar, poderemos ter um guarda digital em cada freguesia, pois o poder político precisa – e deve – ser vigiado e escrutinado.

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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