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Por favor, ajudem-nos. Autor: Fernando Tavares Pereira

Depois de ter chamado, em vários textos, a atenção do Executivo que se encontrava no poder à data, para a necessidade de implementar medidas de discriminação positiva para o Interior de forma a evitar encerramentos e despedimentos, verifico que nada foi feito e que as consequências, infelizmente, começam agora a fazer-se sentir de forma cruel. Algo que poderia ser evitado com uma atenuação atempada da carga fiscal e com medidas para mitigar o aumento brutal das taxas de juro neste interior esquecido. Mas não houve coragem de tomar políticas que fossem ao encontro das dificuldades do tecido empresarial e das famílias destes territórios que permaneceram votados à sua sorte. Abandonados, com mais desemprego, mais fome e mais desertificação. Registo apenas dois exemplos: a multinacional alemã de calçado Ara Shoes, em Seia, despediu no mês passado (Março) 130 funcionários e, em Oliveira do Hospital, a IRSIL pediu insolvência e deixou cerca de 180 colaboradores no desemprego. E não contabilizamos aqui as dificuldades de empresas de menor dimensão. Que são muitas.

Foi este o legado que o Governo Socialista nos deixou em termos de Coesão Territorial. Um Governo cujos elementos, agora na oposição, exigem que o novo executivo faça em meses aquilo que eles não fizeram em 17 anos de Governo do país nos 24 anos deste século. Lamento muito que agora se queiram fazer passar por vítimas, quando muitos deles, quando podiam fazer a diferença, apenas se preocuparam em engordar a reforma que seria bem mais curta se a actividade profissional fosse outra. Desgraçados dos empresários e funcionários que têm perdido quase tudo devido à elevada carga de impostos e aos juros indecentes. Mais triste ainda quando a maioria dos bancos têm os cofres cheios e não se preocupam com as dificuldades que deixam muitas famílias e empresas de joelhos. Mais a mais, como todos sabemos, foram os impostos de todos os portugueses que salvaram algumas das instituições bancárias nacionais que, por má gestão própria, estavam à beira da falência. Não seria altura de os bancos responderem, apoiando as empresas e as famílias de acordo com as suas necessidades? Penso que sim. E não seria um favor, seria justiça social.

E agora procuram empurrar responsabilidades para o lado. Como é que quem tem mandado em muitas destas Câmaras Municipais do Interior não se preocupou com as empresas e as pessoas, deixando desaparecer firmas dos seus concelhos? Agora com os estilhaços da falência de uma das maiores e mais antigas empresas oliveirenses é que se lembram que é preciso sensibilizar o Governo central para o problema das firmas do concelho e do interior. Como se costuma dizer na gíria: “A cavalo morto, cevada ao rabo”. Lamento muito esta desonestidade intelectual.

Temos de inverter este ciclo. Espero que os deputados eleitos pelos círculos eleitorais do interior se unam a fim de fazerem aquilo que outros deputados não fizerem. Que pressionem o Governo para se lembrar que estes territórios também fazem parte integrante do nosso Portugal. Por favor, ajudem-nos.

Recordo aqui parte de um dos vários artigos que escrevi sobre esta temática desde 2022 a esta parte. Nessa altura, já eram claros os sinais da crise que estamos a atravessar nos territórios de baixa densidade:

O aumento de impostos nos últimos anos, municipais e nacionais, entre outras penalizações, aliado ao aumento dos juros, é algo que está a complicar ainda mais o dia-a-dia das famílias e do tecido empresarial do interior. É um caso em que urge tomar medidas. Infelizmente, não vejo os políticos, particularmente aqueles que foram eleitos pela nossa região, defenderem a população e as empresas que representam. Temos, por exemplo, um deputado bem nosso conhecido, a quem não se lhe conhece uma ideia sobre este tema. Não teve, que se saiba, uma intervenção digna de registo em defesa do interior. Nada. Mas a região precisa de quem dê a conhecer as suas dificuldades. E de quem lute para que o ‘poder’ encontre as soluções necessárias.

Para superar a dificuldade da escalada dos juros, por exemplo, acredito que uma medida simples, que não afectaria estruturalmente nenhuma das entidades envolvidas, seria suficiente para mitigar o problema: o alargamento do prazo de amortização por dois anos dos financiamentos concedidos das famílias e empresas. Este período seria o suficiente para manter as mensalidades em valores aceitáveis. Seria uma medida que salvaguardaria famílias, empresas e não prejudicaria a banca que receberia no futuro com juros o valor que não é liquidado no momento. Teria ainda mais-valia de evitar falências e a degradação social”.

Infelizmente tinha razão. Por favor, ajudem-nos.

 

 

 

Autor: Fernando Tavares Pereira

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