A Câmara Municipal de Oliveira do Hospital e os elementos ainda em funções da Junta de Freguesia de Avô vão reunir amanhã, pelas 19h30, na sede da autarquia daquela vila para resolver o dilema criado com a demissão do presidente Afonso Jorge. O encontro deverá contar com o presidente do município José Carlos Alexandrino, o presidente da Assembleia Municipal, António José Rodrigues Gonçalves, os dois elementos daquele executivo ainda em funções, José Martins e António Antunes, bem como com a presidente da Assembleia de Freguesia. A reunião pretende solucionar o impasse de uma Junta de Freguesia repleta de casos insólitos: o presidente demitiu-se, após cerca de oito meses de mandato; as três forças políticas eleitas constituíram, após as eleições, um executivo de união sólido, como se fosse apenas um partido; no acto eleitoral, a lista do PSD só perdeu, porque os seus cabeças de lista e familiares votaram noutras freguesias.
Os resultados eleitorais foram, desde logo, peculiares. Afonso Jorge, eleito nas listas do PS, obteve 130 votos, elegendo três mandatos, enquanto o social-democrata José Carlos Martins (127 votos – dois mandatos) e o movimento independente, liderado por António da Silva Antunes, ficou-se pelos 93 votos (dois mandatos). Constituir um executivo viável parecia um caso complicado. Nada disso. Foi surpreendentemente pacífico. As três forças políticas uniram-se e repartiram os três cargos entre si. Afonso Jorge ficou como presidente, José Carlos Martins como tesoureiro e António Antunes como secretário. “Formámos uma Junta em que todas as decisões eram tomadas em conjunto e sem divergências. Funcionávamos na perfeição”, explicou o líder que a 28 de Julho resolveu sair “para ir curtir a vida”.
Mas o insólito não se ficou por aqui. O Partido Socialista venceu por três votos ao PSD. Uma margem que teria sido facilmente anulada se os elementos principais sociais-democratas votassem na freguesia. Tanto o líder da lista como a esposa votaram em Oliveira do Hospital, o mesmo acontecendo com o terceiro elemento, a quem, além da esposa, se juntava mais um filho. No total, seriam cinco votos, o que teria permitido ganhar as eleições. “São coisas que acontecem, mas nunca mudaria a residência só por causa do voto”, explica o líder social-democrata, Carlos Martins. Este enfermeiro de profissão refere, porém, que se conseguiu criar um consenso entre todos, o que dificilmente se conseguiria com um só partido. “Todos colocámos a Freguesia como o objectivo fundamental. Foi isso que fizemos e nunca houve o mais pequeno conflito entre nós. Não podia correr melhor”, esclarece, sem compreender ainda muito bem o que levou Afonso Jorge a afastar-se.
O consenso foi total. Mesmo nas votações dentro da Assembleia de Freguesia nunca houve um voto contra qualquer das propostas apresentadas e aprovadas. “As ideias não eram de um, mas sim de todos. Antes de serem apresentadas, eram discutidas e chegávamos facilmente a um acordo, porque todos tínhamos como objectivo primordial o bem-estar das pessoas que votaram em nós”, contou ainda o demissionário Afonso Jorge. O homem, que vai fazer 73 anos, resolveu “ir curtir a vida”, como gosta de referir entre sorrisos, mas deixou um problema para resolver. A reunião de amanhã deve lançar luz sobre o futuro.