As principais críticas são contra o PS e o movimento de eleitores independentes.
Correio da Beira Serra – Disse recentemente que os eleitores não o vão castigar e não o vão eleger para a Câmara Municipal. Parte para esta candidatura com o sentimento de derrota?
João Dinis – Não, pelo contrário. Nós temos a nossa candidatura, à Câmara e Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital, baseados nas provas dadas pela gestão CDU no município, em particular na freguesia de Vila Franca da Beira e Meruge, onde o trabalho feito pelos eleitos pede meças até a outras regiões de país.
O que é também um facto, por outro lado, é que grande parte dos eleitores do concelho ainda não vê na CDU uma alternativa aos partidos maioritários como o PSD, o PS e o CDS-PP que, há mais de 30 anos, governam e desgovernam o país e o município. Este é um problema e, por isso, a CDU ainda não vai vencer as eleições para a Câmara e Assembleia Municipal. Não é porque não o mereça. O próprio programa que a CDU apresenta – um projecto de desenvolvimento integrado para o município de Oliveira do Hospital que vai para além dos quatro anos de mandato – também pede meças junto das outras forças políticas. Aliás, há até o caso curioso da actual maioria PSD que nem se quer apresenta programa, porque tem a concepção de que o município é o presidente da Câmara, mas isso também dá mau resultado.
Não é que a CDU não mereça ser maioria, porque se o fosse governaria bem, como governam outros presidentes de câmara do nosso país.
CBS – Estaria, porventura, mais confiante se continuasse a contar com António Lopes no seu projecto político?
JD – Já falámos sobre isso várias vezes. O António Lopes está noutra, nós mantemo-nos no nosso projecto… cada um está onde está. Estamos onde estamos, sabemos para onde queremos ir, temos um projecto de desenvolvimento integrado para o município…é isso que interessa aos eleitores.
António Lopes está de facto noutra. Ele decidiu e isso é lá com ele. Continuamos porque somos necessários. Tivemos uma intervenção muito forte na Assembleia Municipal nos últimos quatro anos e, não foi pelo facto de António Lopes ter saído que a CDU deixou de ter essa intervenção, não tem é passado na Comunicação Social…é a vida.
CBS – Ainda no rescaldo das eleições legislativas, que avaliação faz aos 2,3% (307) dos votos – mais 50 que em 2005 – que a CDU conquistou no concelho de Oliveira do Hospital, com a particularidade de esta força política também não ter conseguido sair vitoriosa em freguesias de tradição CDU como Vila Franca da Beira e Meruge?
JD – A CDU aumentou 25 % em Oliveira do Hospital, nestas legislativas, ou seja, mais 50 votos. O PS perdeu a nível nacional mais de meio milhão de votos, perdeu 24 ou 25 deputados, perdeu 8 % comparativamente a 2005. Em Oliveira do Hospital, o PS perde 10 %, perde mais no concelho do que a média nacional, perdeu 500 votos.
Também é um facto que nestas eleições autárquicas a música é outra. Os resultados vão ser completamente diferentes. Há quatro e há oito anos, a CDU foi maioritária para a freguesia de Vila Franca da Beira e, nas legislativas e para o Parlamento Europeu não ficou à frente dos outros partidos, nomeadamente do PSD que a nível de legislativas está tradicionalmente implantado.
As pessoas ainda não vêem na CDU a alternativa eleitoral. Reconheçam que a CDU trabalha quando é chamada a governar e que tem o máximo de respeito pelas pessoas.
A nível nacional, a CDU continua a crescer e a política de direita do PS foi severamente derrotada, ao contrário do que fizeram fazer crer, até a própria comunicação social. É perfeitamente ridículo que o PS acabe de perder 500 votos e a maioria absoluta e não perca o seu gesto de propagandista e de aldrabilhas políticas, em que de facto é perito. Se se chamasse Pinóquio teria o nariz muito mais comprido.
Correio da Beira Serra – Que diferenças encontra entre a candidatura da CDU e as demais candidaturas (PS, PSD e Independentes)?
JD – Somos de facto diferentes. A CDU tem um projecto integrado que vai para além dos quatro anos, não se confunde, não faz das eleições lutas de galos, nem conflitos de personalidades. Quando se entra em conflitos de personalidade e lutas de galos limita-se a alternativa… isso está a acontecer bastante.
A característica das eleições de 11 de Outubro em Oliveira do Hospital é que há duas candidaturas do PSD. Há a candidatura do PSD com maioria actual na Câmara e Assembleia Municipal através do actual presidente da Câmara. E há a candidatura do PSD ressabiado em que o CDS apanhou boleia. Uns e outros agora travestiram-se de independentes, mas de facto, são tão independentes como eu. Também a candidatura do PS usa esse truque que é de se afirmar com os cabeças de lista como independentes, mas estiveram antes das legislativas a dinamizar e a assumir a propaganda do Partido Socialista. Também por aí merecem ser castigados, porque quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.
Correio da Beira Serra – Das suas palavras depreende-se que João Dinis é apologista da continuidade de Mário Alves na presidência da Câmara Municipal…
JD – Das quatro candidaturas a melhor é a da CDU. Mas, isto não é essencialmente uma luta de galos. Eu sou amigo de todos os outros candidatos e vou continuar a sê-lo, embora eu assuma claramente que sou adversário de todos.
A candidatura do actual presidente da Câmara enferma de dois ou três equívocos políticos que são fáceis de desmontar. O primeiro, é que ele entende que é o município e nem precisa de programa eleitoral. Ele diz que as pessoas confiam, mas isto nem é democrático, nem é transparente. Não se pode pedir aos eleitores cheques em branco e é o que está a fazer, outra vez, o actual presidente da Câmara. Ele assume que sabe tudo, que manda em tudo, que é ele o município e reduz até os seus parceiros a meros figurantes e isso é negativo.
Naturalmente, que também tem aspectos positivos e eu quero aqui ressalvar um. Em Oliveira do Hospital, a gestão da actual maioria PSD tem-se oposto a determinado tipo de interesses ilícitos nomeadamente ao nível do urbanismo e da especulação urbana. E eu tenho dúvidas de que as outras candidaturas, pelos apoios que comportam e que estão a receber, tenham depois capacidade para fazer frente a esses interesses ilícitos. É evidente que com a CDU esse tipo de interesses não tinha a mínima hipótese, até porque Oliveira do Hospital ainda está a tempo de ser preservada dessas situações.
Nós sabemos que o José Carlos Alexandrino é independente, mas quem é que lhe paga a campanha? Teve necessidade de se candidatar pelo PS porquê? Ele tem que ter a noção que com a participação no PS está a ajudar a lavar as más políticas que tanto deram cabo da vida dos professores, trabalhadores, pequenos e médios empresários e reformados. Eles estão a dar a cara por um mau projecto e, por aí também se arriscam a a ser castigados pelo voto dos eleitores e sê-lo-ão decididamente.
Ao contrário do que tem sido a prática do actual presidente, o projecto da CDU aposta num relacionamento transparente e igualitário com os presidentes de Junta de Freguesia, na base de contratos-programa, de transferência de verbas e competência e não do eu quero, posso e mando. Este é um traço muito negativo da actual gestão da Câmara Municipal.
CBS – No caso concreto da ESTGOH, qual a sua opinião para resolver o impasse das novas instalações?
JD – O governo respondeu à Câmara Municipal, através de ofício, dizendo que a nova ESTGOH não constituía uma prioridade para o Partido Socialista. De repente a CMOH engendra uma candidatura que a CDU considera clandestina, tentando fazê-la passar como se fosse contrabando, para as arruinadas instalações da ACIBEIRA. O governo chumbou essa candidatura, mesmo depois de ela ter tido parecer favorável da Comissão de Coordenação da Região Centro. Há aqui dois falhanços.
Curiosamente, o candidato do PS à CMOH disse, em entrevista, que não conhece ainda se os terrenos que a Câmara comprou por 450 mil euros comportam o projecto das novas instalações da ESTGOH. Estranho que o José Carlos Alexandrino ainda não conheça o ante-projecto que a própria ESTGOH tem para instalar a escola nos terrenos. Ele próprio votou a favor, emAssembleia Municipal, para a compra dos terrenos. Estranhamos como é que ele não sabe. Nós CDU já fomos saber e era o que ele já deveria ter feito.
Tudo o que seja levar a ESTGOH para fora da freguesia de Oliveira do Hospital é um grande erro estratégico. A CDU sempre disse isto em todo o lado e fizemos aprovar moções na Assembleia Municipal reclamando ao governo apoios para a ESTGOH. Levámos a votação à discussão do Orçamento de Estado por mais do que uma vez, para dotação de verbas para a ESTGOH em PIDDAC, e os outros partidos todos votaram contra e, agora eles que assumam a sua própria responsabilidade.
A Câmara falhou, porque se deixou enredar pelo grave erro estratégico de querer levar a ESTGOH para fora da zona urbana de Oliveira do Hospital. De facto, é aqui que ela deve ser construída de raiz, com o objectivo de libertar a ESTGOH da verdadeira prisão onde está coagida a trabalhar e onde os professores, alunos e funcionários fazem verdadeiros milagres diariamente.
CBS – Como avalia o parque escolar do concelho? Quais as suas propostas? JD – Nós somos contra o encerramento de escolas desde que elas tenham alunos. Uma escola que tenha 10 alunos merece continuar aberta e se não há condições, elas devem ser criadas pela Câmara e pelo Governo. É sempre preferível fazer deslocar um professor à escola, do que levar 10 crianças para outra escola.
Entendemos que o que foi feito na EB1 da cidade foi um implante de recurso e deveria ter havido, de facto, outra solução como se fala em outros sítios de pólo escolar. Mas, isso que não signifique que concentrar crianças de tenra idade, umas em cima das outras, é bom para elas.
Eu estive com os encarregados de educação de Senhor das Almas e outros populares e a vontade deles é que seja construído um novo salão, seja melhorado o refeitório e as aulas continuem em Senhor das Almas. A vontade das pessoas deve ser respeitada, não pode vir um iluminado da CMOH e dizer que o futuro desta escola é fechar. Temos que dizer não a essa gente, que vem com essas ideias de fechar escolas, urgências, maternidades, serviços públicos….o PS fechou a Zona Agrária e quer fechar o Tribunal da Comarca e só não fechou o SAP porque a resistência das pessoas foi grande. Mas esses perigos subsistem. A população e os autarcas que se ponham muito a pau, porque os projectos estão em cima da mesa e eles vão voltar à carga se tiverem força para isto.
CBS – E ao nível empresarial? Qual entende como a melhor solução para inverter a tendência de encerramento de empresas e captar novos investimento?
JD – Por um lado, temos a situação de crise nacional que só muda quando mudarem as políticas nacionais. Adianta pouco o actual candidato do PS vir dizer que vem promover a vida empresarial, quando a política do governo mais não fez do que asfixiar a vida empresarial. De pouco adianta ao PSD na autarquia e aos três vereadores do PS e aos candidatos do PSD e do PS andarem para aí a falar das incubadoras de empresas, que são incubadoras de nados-mortos e que nós chamamos de chocadeiras. Isto é um truque de propaganda para encobrir o essencial. São necessárias outras políticas económicas. Por exemplo, neste momento é inconcebível que se permita que a Galp continue a subir os combustíveis, que a EDP continue a manter caríssimos os preços da energia, que a banca continue a asfixiar as pequenas e médias empresas, quando recebeu 20 mil milhões para apoiar o tecido empresarial português.
Critica-se o facto de a Zona Industrial de Oliveira do Hospital estar parada há anos, e está e até poderia estar melhor. Mas se formos, hoje, aí dar uma volta vemos empresas que fecharam entretanto, empresas que estão com salários em atraso e, empresas que só ainda não fecharam porque estão a viver à custa da Segurança Social.
CBS – Não responsabiliza, por isso, a CMOH por não conseguir captar novos empresários para o município?
JD – A CMOH tem responsabilidade. Em primeiro lugar entendemos que devem ser mudadas as políticas nacionais. A Câmara podia fazer mais, porque ainda não desembrulhou cabalmente várias situações na zona industrial e no Pólo da Cordinha. Mas, a Câmara não é a principal culpada, são as políticas de direita do governo socialista. E os tempos que aí vêm, ainda vão ser mais preocupantes nesta matéria.
CBS – É também conhecida a sua luta em prol da construção de caminho-de-ferro desde a Lousã até Celorico. Quer explicar o fundamento da sua proposta, já que mais nenhuma força política a entende como prioritária?
JD – Porque as outras forças políticas não conseguem ver um pouco à frente do próprio nariz. É falta de visão estratégica dos outros candidatos. O caminho-de-ferro – e não estamos a falar de TGV, que isso é outra discussão – é uma das mais antigas aspirações deste solo beirão. Hoje, é mais estratégico construir caminhos-de-ferro do que era há 100 anos atrás. O nosso concelho e região produzem muitas matérias pesadas como a pedra e a madeira e, é muito melhor o caminho-de-ferro do que andar por aí em camiões a poluir. Para além disso, continuamos a não ter acessibilidades rodoviárias e há uma coisa que é o aquecimento global que é um problema civilizacional.
Destacar também outro dos falhanços do secretário de Estado das Obras Públicas e Comunicações e candidato à AM de Oliveira do Hospital que, em 2005, prometeu, em declarações públicas, que o governo tinha por dias o projecto de requalificação da estrada Oliveira do Hospital – Felgueira Velha. Mas, da parte do governo: zero. Mais tarde, em depoimentos aos Correio da Beira Serra, garantiu que em 2008 tínhamos o IC6 no município. Não! E agora, até já veio tudo, outra vez, à estaca zero porque a alternativa que o município escolheu com a passagem do IC6 a Norte da cidade parece que já não é bem assim…andamos aqui a encanar a perna à rã e prometer coisas que não se cumprem. Isto é aldrabice política e quem aldraba é aldrabilha.
CBS – Apesar de comentada, a alegada “aliança” entre PSD e CDU na freguesia de Meruge, nunca foi desmentida. Tendo em conta que os sociais-democratas nem sequer concorrem àquela freguesia, existe de facto um recíproco apelo ao voto entre as duas forças políticas?
JD – Este assunto foi levantado por um dirigente do PSD que, para fazer guerra ao PSD autárquico, resolveu vir com isto para a comunicação social. Ele está a usar isto como arma de arremesso contra a maioria social-democrata que é candidata à CMOH, mas esse é um problema do PSD. Eles não são capazes de resolver os próprios problemas internamente e andam sempre a tratar-se mal uns aos outros.
Se o PSD não concorre a Meruge, isso deve ser perguntado ao PSD, quer ao bom, quer ao mau. Na realidade o PSD, travestido de independente, tem lá uma lista, em que entram militantes do PSD e do CDS.
Penso que a maioria PSD da Câmara não concorre em Meruge, tal como também não concorre na Lajeosa e onde existe uma lista que junta militantes do PS e do PSD contra a lista do PS. Dessa ninguém fala.
Acho que em Meruge, os militantes do PSD, do PS, do CDS-PP e as pessoas que não têm partido têm todas as razões e mais algumas para apelar ao voto na CDU, porque tem uma obra ímpar na freguesia. E envio aqui um forte abraço ao meu camarada João Abreu, seguramente o melhor presidente de Junta de Freguesia de toda a região e um dos melhores do país. E quem quiser saber alguma coisa do trabalho de uma Junta de Freguesia que vá fazer um, dois ou três estágios a Meruge.
As pessoas têm todas as razões para votar na CDU quer para a Câmara, quer para a Assembleia. Mas, as pessoas é que ainda não vêem na CDU um partido alternativo. O PSD não concorre em Meruge para não apanhar uma abada eleitoral, como vão apanhar o PS, o PSD e o CDS travestidos de independentes. A CDU ganha tranquilamente as eleições para as freguesias de Meruge e Vila Franca da Beira. O João Abreu não se recandidata a presidente, mas continua no projecto. Ele teve com ele gente que trabalha muito bem.
CBS – Indissociável de toda esta questão, está também a sua recandidatura à Junta de Freguesia de Vila Franca da Beira. Quando se depara com duas candidaturas adversárias, como é que antevê o sentido de voto dos vilafranquenses?
JD – Ainda bem que há mais candidaturas. Vamos ganhar com toda a tranquilidade, porque temos o exemplo da nossa gestão nos últimos oito anos. Temos conhecimento, temos experiência e um projecto a que pretendemos dar continuidade. As pessoas acreditam no projecto da CDU, porque têm visto o trabalho realizado. Se nós ganhássemos inesperadamente a CMOH, as pessoas iam ver…
N.R.: O candidato do PSD, Mário Alves, não se disponibilizou para uma entrevista a este jornal.
Liliana Lopes