Muito abordada, e reconhecida, está a decisiva intervenção do então Capitão Salgueiro Maia no êxito das operações militares do 25 de Abril de 1974.
Entretanto, muito subvalorizada está a sua intervenção posterior, por exemplo no abortar do “golpe” do 11 de Março de 1975 que foi comandado pelo então General António de Spínola e seus cúmplices a partir do polígono militar de Tancos.
Na manhã desse 11 de Março de 1975, já lá vão 50 anos, o “golpe” ocorria de forma agudizada junto ao então RAL 1, Regimento de Artilharia 1, em Sacavém, Lisboa. Este RAL 1 (depois RALIS) fora cercado e atacado por terra e ar por paraquedistas e alguns aviadores e pilotos de helicóptero. Houve tiroteio a provocar um morto e vários feridos, sobretudo dentro do quartel assim atacado.
Cá fora, juntava-se muita gente que se envolvia em contactos directos com os militares atacantes e os defensores do RAL 1. Episódios, até insólitos, que foram divulgados por rádio e televisão em tempo real e constituem hoje dos mais espantosos documentos do dia registados para a posteridade.
Plenário de oficias da EPC frustra o “golpe”.
Nessa mesma manhã de 11 Março, a partir das 10 horas, tinha sido convocado pelo Comando da EPC, Escola Prática de Cavaria, em Santarém, um plenário de oficiais desta Unidade. Também compareceu, claro, o Capitão Salgueiro Maia, então comandante directo do Esquadrão de Carros de Combate, da EPC, – um sector muito móvel com grande poder de fogo.
Nós também estivemos lá, sentados no anfiteatro da EPC, no meio dos outros militares de patente abaixo de Major.
O Comando ocupou a Mesa do plenário e, daí, “lançou os dados” do momento, dramatizando e falseando a situação real em torno do RAL 1 por forma a levar a tropa da EPC a aderir ao “golpe” spinolista, saindo prá rua em armas e pronta para o que desse e viesse. E, assim, o Comando da EPC ia aprontando uma decisão desse tipo e já com alguns “cabeças quentes”, oficiais subalternos, a proporem as instigadas acções militares…
A “coisa” avançava pois nessa direcção “golpista” que, entretanto, tinha sido lá assumido, pelo Comando, o objectivo de derrubar o governo do então Primeiro-Ministro, o General (graduado) Vasco Gonçalves.
Nós próprios tínhamos perguntado, desde a plateia, o que se pretendia com o “golpe” em curso e quem estava por trás a comandá-lo. A resposta desde a Mesa foi esclarecedora e aumentou, ainda mais, os níveis, já altos, da nossa preocupação…
É então que o Coronel e Comandante da EPC interpela directamente o Capitão Salgueiro Maia o qual, visivelmente inquieto, permanecia de pé, na parte mais alta do anfiteatro. E o Comandante pergunta de caras a Salgueiro Maia qual era a posição dele quanto à saída da tropa da EPC a aderir ao “golpe”. Note-se que o tal Esquadrão de Carros de Combate era um sector de grande mobilidade operacional e grande poder de fogo também. Era mesmo largamente dominante no contexto…
É aí que Salgueiro Maia responde dizendo que a sua posição era “contra” a saída da tropa da EPC para a rua em armas que, concluiu, “não ia contra os Camaradas que, com ele, tinham feito o 25 de Abril”!…
Ah, grande e avisado Salgueiro Maia !
Ainda hoje sou capaz de saborear o alívio formidável que estas palavras de Maia provocaram em mim ! Eu “tremia” só de pensar em andar aos tiros, a matar e a morrer… Tudo, menos isso!
Claro que outros mais dos presentes reagiram imediatamente em apoio a Salgueiro Maia cujo prestígio e influência logo levaram a que o Comando da EPC terminasse aquele plenário e abortasse a saída da EPC como pretendia e com que o próprio Spínola contava.
Sim, a posição assumida naquela situação muito “quente” levou a que o “golpe” militar do 11 de Março falhasse sem mais confrontos armados e que Spínola e seus cúmplices, militares e civis, cedo fossem derrotados nos seus intentos golpistas.
Viva Salgueiro Maia !
Na tarde deste 11 de Março, ainda Maia teve que ir a Tancos, a cumprir ordens directas do Comando da EPC, (nós também assistimos a este episódio dentro da EPC) com o objectivo, aliás conseguido, de “safar” Spínola das sérias 8ameaças que sobre ele já exerciam, em Tancos, elementos dos paraquedistas entretanto sublevados.
Note-se que, além do mais, Maia “não podia” com Spínola por causa de uma grande “maldade” cometida por este na Guiné envolvendo Maia e seus soldados que lá estavam em comissão “de guerra”, comissão essa que Spínola lhes prolongara no tempo de forma abusiva e para eles muito dolorosa.
Portanto, falar no 11 de Março de 1975 sem realçar a influência directa que nele exerceu Salgueiro Maia – evitando confrontos militares que teriam causado muitas vítimas inocentes – é passar ao lado da História desses acontecimentos.
Aliás, temos mesmo a convicção que os “ressabiados” e invejosos da sua acção fiel ao espírito do 25 de Abril, não lhe perdoaram a seguir ao 25 de Novembro de 1975, ao tentarem comprometer-lhe o prestígio granjeado e a própria carreira militar.
A História de Portugal tem outras valorosas vítimas dessas invejas e ingratidões. Mas foram os Heróis e seus feitos que ficaram reconhecidos para a História e não aqueles que lhes ladraram às canelas…
Viva Salgueiro Maia ! Grande Herói nacional !
Autor: João Dinis, Jano
Foto: Alfredo Cunha