Home - Desporto -  “Se pudesse pedir alguma coisa a alguém, pedia um relvado natural para o nosso estádio para podermos jogar aqui os nossos jogos. Era um prémio merecido”

 “Se pudesse pedir alguma coisa a alguém, pedia um relvado natural para o nosso estádio para podermos jogar aqui os nossos jogos. Era um prémio merecido”

Nuno Pedro foi o treinador que manteve o FC Oliveira do Hospital na Liga 3, a única do interior do país, “todas as outras caíram” …

 Nuno Pedro, técnico de 41 anos, natural do concelho oliveirense, foi um dos pilares para manter o FC Oliveira do Hospital na Liga 3. Uma manutenção garantida no minuto 89 do derradeiro jogo em Setúbal, depois de uma temporada em que a equipa andou quase sempre na parte superior da tabela. “Esse golo veio trazer justiça ao que fizemos durante a época”, conta o técnico do FC Oliveira do Hospital em entrevista ao CBS, mostrando-se um defensor da Liga 3, mas não do actual formato da prova que na próxima temporada só contará com 20 clubes. “Não faz sentido uma equipa disputar um campeonato, terminar a meio da tabela e depois ir jogar um ‘play-off’ que pode deitar tudo a perder. Esta prova tem imensos benefícios, em termos de promoção das localidades, crescimento de jogadores, mas este formato não deve continuar”, explica. Nuno Pedro espera que o clube “mantenha a sua identidade e não venda as suas ideias”. “Se as coisas forem tratadas a tempo e a direcção se mantiver coesa, o sucesso está praticamente assegurado”, salienta, apelando, por fim, a quem de direito que coloque relva natural no estádio para o clube começar a jogar em sua casa e que o clube não venda os seus ideais.

CBS – Demorou a recuperar das emoções dos derradeiros jogos dos “play-off”?

Nuno Foi um campeonato muito difícil. Defrontámos equipas históricas do nosso futebol. Nesta fase final tínhamos o Setúbal e o Sporting. A última semana foi angustiantes, porque acompanhamos a prova e estávamos a ver coisas que não dignificam o futebol. Em situações normais já estaríamos com a manutenção garantida, mas fomos para a última jornada com tudo por decidir. Era tudo o que não queríamos. Sabíamos que íamos apanhar um estádio do Bonfim cheio e um adversário (V. Setúbal) poderosíssimo, mas depois fomos muito fortes nos instantes finais. Conseguimos encostar a equipa adversária lá atrás e fizemos um golo que, apesar da derrota (2-1), nos manteve na Liga 3 (vantagem no confronto directo, uma vez que o Setúbal perdeu em Tábua por 2-0). Foi justo.  Até porque durante a fase regular estivemos sempre do meio da tabela para cima. Estivemos próximos dos quatro primeiros. Na Taça de Portugal fizemos um percurso fantástico, eliminamos da I Liga (Rio Ave) e outra da II Liga (E. Amadora) e chegámos à quarta eliminatória. Aquele golo em Setúbal na fase final da partida veio trazer justiça ao que fizemos durante a época.

A três jornadas do fim deste “play-off” da manutenção bastava um ponto para assegurar a manutenção, mas perdeu os três jogos. O que é que se passou?

O que parecia quase impossível aconteceu. Houve situações do futebol, mas também extrafutebol. O jogo do Real frente ao Setúbal não correspondeu à verdade desportiva. Aconteceram coisas muitas estranhas. Infelizmente em Portugal acontecem em quase todas as divisões. O FC Oliveira do Hospital sentiu essas forças adversas com particular intensidade por ser um clube pequeno, do interior e de ter na sua série muitas equipas muito fortes. Repare que as duas equipas que subiram directamente à II Liga, o Belenenses e a União de Leiria, estavam na nossa série. No final fez-se justiça. Mas também houve, provavelmente, alguma ansiedade da nossa parte. O facto de faltar só um ponto e com três jogos para disputar talvez nos tenha desestabilizado um pouco. Mas, felizmente, acabou tudo bem.

Tem dito que orientou a equipa com o orçamento mais baixo das Liga 3…

Nós gastamos muito em viagens e estadias e se contabilizarmos isso talvez não seja. Mas em termos de plantel foi claramente o mais baixo. E não há como dar a volta a essa situação porque a direcção tem de reservar uma parcela forte do orçamento para estágios e viagens. Somos uma equipa deslocada. Longe de todos os adversários com quem vamos jogar.

O FC Oliveira do Hospital também paga o preço da interioridade?

Claramente. Não é por acaso que somos a única equipa da Liga 3 do interior que se manteve. Todas as outras acabaram por cair e ainda temos a dificuldade de jogar num campo emprestado. Que não é nosso. Não podemos lá treinar sempre. Vamos lá uma ou duas vezes por semana. São muitos entraves. Treinamos num sintético e depois vamos jogar num relvado a 20 quilómetros de casa. Houve uma fase em que estivemos cerca de dois meses sem lá treinar porque foram necessários tratamentos. Mas este grupo, incluindo direcção e adeptos, conseguiu transformar estas adversidades em força e união. Essa foi a nossa grande mais-valia.

“Interessa-lhes ter as equipas históricas, com nome… e sentimos que se passaram situações atípicas que não deviam existir”

A falta de um estádio em Oliveira do Hospital capaz de receber os seus adversários é uma desvantagem grande? É urgente resolver esse problema?

É. Se eu pudesse pedir alguma coisa a alguém, pedia um relvado natural para o nosso estádio para podermos jogar aqui os nossos jogos, com o apoio do público. Penso que não seria assim tão caro. E o sintético para a formação poderia ser colocado noutro terreno. Era um prémio merecido para uma equipa que vai para o terceiro ano na Liga 3. A nossa força nos jogos em casa seria completamente diferente. Se conquistámos muitos pontos em casa, tenho a convicção que conquistaríamos bem mais a jogar em nossa casa. Os adeptos muito próximos de nós. Não há comparação. Este é um estádio emblemático. Fomos sempre bem recebidos em Tábua. Mas era no nosso estádio que deveríamos jogar.

As equipas dos territórios de baixa densidade são tratadas de forma diferente?

Esta é uma prova em, que a Federação Portuguesa de Futebol está a apostar muito. É a prova máxima da Federação em futebol masculino sénior. Há uma forte aposta no marketing, nas transmissões televisivas, procurando dar-lhe uma forte visibilidade, o que tem sido conseguido. Tem sido feito um trabalho extraordinário. Mas também lhes interessa ter as equipas históricas, com nome, que podem trazer mais adeptos à prova e jogos em grandes centros. Nós conseguimos contrariar isso. Não nos deixámos abater. Mas sentimos situações atípicas que não deviam existir. Isso é inegável.

Como é que um treinador consegue gerir uma equipa com um orçamento curto e “perdida” no interior?

Ao contrário daquilo que se poderá pensar este clube é conhecido no meio e goza de uma boa fama de cumprir os acordos que estabelece com os jogadores, cumprindo com os salários a forma séria e honesta como gere os seus compromissos. É conhecido por isso. E é algo que nos facilita a vida. Esta é uma cidade acolhedora. E os jogadores, antes de virem, informam-se. E o retracto do clube que existe é esse. Também já começa a ser respeitada nesta prova. Já vai para a terceira participação. Os jogadores sabem que podem vir para cá e valorizar-se, como aconteceu com um jogador que este ano foi transferido para o Guimarães. Depois, eu também conheço o meio. O outro lado da moeda são os valores que podemos pagar, inferiores aos dos nossos adversários, e a localização.

O que se pode esperar do FC Oliveira da próxima temporada?

Espero que as coisas sejam organizadas mais rápido. Mas será uma equipa fortíssima com esta identidade e ADN e sem vender as suas ideias a ninguém, mantendo-se fiel à sua identidade. Se assim acontecer o sucesso está praticamente assegurado.

E o seu futuro?

Não tenho nada definido. A própria direcção penso, por aquilo que tenho lido, que ainda não está definida, nem se sabe o que vai acontecer com o clube. Estão a dar esses passos. Quando a direcção estiver definida irão começar a delinear a próxima época. Espero que sem os erros do passado em que as coisas foram planeadas demasiado tarde, como aconteceu nesta época que terminou. Até se falou na possibilidade de não entrar na Liga 3. Se voltar a acontecer poderá ser fatal e poderá colocar em causa a prestação da equipa numa prova que de ano para ano será sempre mais difícil. Na próxima temporada só terá 20 equipas, menos quatro que este ano.

Mas vai continuar?

Não é certo, mas admito que sim. Nasci aqui. Tenho muito amor pelo clube. Joguei aqui nas camadas de formação. Como sénior não o fiz, embora tivesse essa oportunidade, porque também, confesso, não fiz as melhores opções na gestão da minha carreira. Felizmente foi-me dada a oportunidade de ser treinador e é um orgulho muito grande ter regressado, treinar o meu clube e conseguir este prémio que foi a manutenção para todos nós oliveirenses. Foi maravilhoso.

Aos 41 anos quais são as suas ambições?

Tenho a pretensão de chegar a uma liga profissional, mas com passos firmes. Se isso acontecer é um sonho realizado. Se não acontecer quero ser feliz onde estiver e continuar a conquistar objectivos.

Tem sido um defensor da Liga 3…

Sim. Sempre defendi a Liga 3. O formato da competição em si é que não gosto, nem eu, nem a maior parte dos meus colegas. É um formato diferente das melhores ligas. Não premeia a regularidade. Não faz sentido existir um “play-off”, depois de se realizar um campeonato intenso, difícil, e no qual se termina no meio da tabela ou no primeiro lugar e pode não valer de nada. Porque é que não sobe logo directamente. Se fica a meio da tabela porque é que não garante logo a manutenção em vez de ir para um “play-off” que pode desvirtuar todo o campeonato. No resto, a competição em si, como está a ser trabalhada, é fantástica.

“Este clube tem uma característica muito própria: é dono das suas ideias. Não deixou entrar ninguém que mande pelas pessoas que cá estão”

Defende um campeonato com uma única série?

Sim. Na próxima época são apenas 20 equipas. É um número que podia permitir uma série. Mas penso que na próxima época serão ainda duas séries de dez e na seguinte, então sim, uma só série de Norte a Sul.

Esta competição já oferece uma forte visibilidade. Isso é muito importante para uma cidade como Oliveira do Hospital…

É muito relevante para a região, para o concelho, para a cidade. Leva o nome da nossa terra a todo o país. Era importante que isso fosse valorizado pelo município e empresários que têm aqui a possibilidade de se darem a conhecer ao país e ajudar a colectividade. Depois, é uma prova que pode ajudar ao crescimento do nosso futebol.

É a favor das SADs? Gostaria de ver o FC Oliveira do Hospital enveredar por esse caminho?

Não e não. Este clube tem uma característica muito própria: é dono das suas ideias. Não deixou entrar ninguém que mande pelas pessoas que cá estão. Tem uma direcção há muitos anos, coesa, que dá estabilidade a quem trabalha no clube. Isso depois vê-se nos resultados. Há muitos emblemas que estão a perder identidade própria, a vender-se, acredito que por necessidade. Espero que o FC Oliveira do Hospital se possa manter com as suas próprias ideias. Com as pessoas que fazem dele um clube diferente e unido. Poderá manter-se assim por muito mais tempo? Não sei. Não é a minha área. Como adepto, espero que esta direcção se mantenha ou que venha outra com as mesmas ideias.

Tem formação em psicologia. Isso é uma mais valia enquanto treinador de futebol?

Tenho um mestrado em psicologia clínica pela Universidade de Coimbra. E, sim, é uma mais-valia. A psicologia está direccionada para qualquer área e muito ligada ao futebol. Mas também já tenho alguma experiência, depois de dez anos a treinar, sete dos quais nos campeonatos nacionais.

LEIA TAMBÉM

Joaquim Silva conquista Grande Prémio de Mortágua – Pedro Silva

O ciclista Joaquim Silva, da Efapel Cyclin, venceu, hoje, o Grande Prémio de Mortágua, prova …

Insólito: 15 jogadores do Las Palmas perderam o avião antes do jogo com Sevilha para La liga

15 jogadores do Las Palmas perderam o avião antes do jogo com Sevilha. A situação …