Correio da Beira Serra

Seia quer assumir a liderança da região

 

 

Correio da Beira Serra – O senhor presidente é já uma espécie de dinossauro político… está aqui desde 1993…
Eduardo Brito – ….
(risos). Muito obrigado….sabe que isso é um termo que só se usa em Portugal. Em todas as democracias consolidadas por essa Europa e por esse mundo fora, esse termo não é usado. Claro que a culpa não é dos jornalistas…

CBS – Ok… é um dos autarcas da região que está há mais anos no poder…
EB –
Sim. Estou na Câmara de Seia desde 1980, com vários intervalos. Fui da maioria, passei para a oposição e nem sempre estive com funções executivas. Perdi uma vez, quando concorri, fui tratar da minha vida e passei para a oposição. Nessa matéria, sou muito britânico: quem ganha governa, quem perde vai para a oposição.

CBS – Mas na presidência do município está desde 1993.
EB –
Na presidência, faço este ano 15 anos e, no próximo, dezasseis…

CBS – Ainda tem hipóteses de se recandidatar e fazemos-lhe precisamente essa pergunta: volta a recandidatar-se nas autárquicas de 2009?
EB –
O PS vai ter eleições para a comissão política dia 4 de Abril – aparentemente parece que só há uma lista – e eu sou candidato. Portanto, só depois disso é que tomarei decisões. De qualquer maneira, posso dizer-vos de que tenho a noção exacta do que deve ser feito e de como é que as coisas devem ser conduzidas. Essa é também uma razão pela qual sou candidato à comissão política, que é para manter a estabilidade e tomar as medidas que se impõem tomar. Mas, neste momento, não posso – por consideração com os meus correligionários do PS – adiantar mais nada sobre isso. O que vier a acontecer, terá que ser feito como muita antecedência que é para se fazerem as coisas bem.

CBS – Portanto, é um “nin”… nem abre a porta nem a fecha…
EB –
Não, neste momento esse problema não se põe. Não é o tempo para nos concentrarmos nisso mas, a seguir às eleições para a comissão política, haverá depois condições para se começarem a tomar decisões sobre essa matéria.

CBS – Quais são os seus principais objectivos políticos, ao nível do desenvolvimento do concelho de Seia, nesta fase final do seu mandato?
EB –
Neste momento, a nossa estratégia apoia-se em três questões fundamentais: conseguir mais emprego e emprego mais qualificado; combater algumas situações de exclusão social e de pobreza que existem sobretudo na área da habitação, onde estamos envolvidos com resultados já bem visíveis – na semana do 25 de Abril vamos entregar mais um conjunto de casas recuperadas e vamos criar uma coisa nova, que é a oficina sénior. Os idosos portadores de um cartão, ligam para a Câmara e há um carro que vai a casa dos idosos fazer reparações…

CBS – Pequenas reparações…
EB –
Sim. Nós hoje temos isso muito bem caracterizado através de estudos e sabemos que o idoso – às vezes pela sua própria condição –, desleixa-se. Não compõe a torneira, não arranja a luz, o frigorífico está a funcionar mal. É preciso combater estas situações. São pequenos trabalhos, pequenas coisas, mas que se inserem numa estratégia mais vasta – isto não é uma medida isolada – e que são importantes numa política de apoio aos idosos. Depois temos as acessibilidades, já que a questão da saúde está resolvida e muito bem. O novo hospital está pronto, vai ser inaugurado este ano. Portanto, é no domínio das acessibilidades que se situa a nossa grande aposta para os próximos anos. E aí, não daremos tréguas ao governo enquanto as decisões não forem tomadas. Já se tomou uma decisão importante, que foi abrir o concurso para a execução do IC6 desde a Catraia dos Poços até perto de Vendas de Galizes. Há pouco tempo o governo lançou o concurso para o estudo dos IC 6, IC 7 e IC 37, embora com muito prazo. São 300 dias, é muito tempo.

CBS – Até 12 de Maio…
EB –
É muito tempo… o governo não está a olhar com tanto empenho para esta região como olha para outras do país. Espero que corrija essa situação – estou a referir-me exclusivamente às acessibilidades – porque se agora dá 300 dias para o estudo e depois mais 300 para o projecto, isso não pode ser, porque a nossa afirmação como um território nesta região – falo dos concelhos de Tábua, Oliveira, Seia e Gouveia até Fornos, nesta linha da estrada da Beira – depende dos acessos. Eu não quero que me dêem mais nada porque o resto temos que fazer nós. O governo tem obrigação – e deve ser muito claro nisso – de nos dar os mesmos instrumentos que já deu a outras regiões do país. E eu estou a ficar preocupado – devo dizer isso, apesar de ser optimista – porque noutras regiões do país vejo as coisas a andarem com uma maior rapidez e, aqui, ainda com alguma lentidão. Apesar de se estarem a cumprir um conjunto de calendários, mas com prazos muito dilatados. O Governo tem que rever esta situação e andar a um ritmo mais acelerado, apesar de reconhecer que nunca se fez tanto em tão pouco tempo ao nível destes três eixos (IC6, IC7 e IC 37).

CBS – Nota-se que o presidente está com grande urgência em ver Seia ligada a Viseu. Há alguma razão especial para isso?
EB –
É por ali que recebemos uma grande parte do tráfego que vem à Serra da Estrela, como é óbvio. Essa é uma das razões porque eu não morro de amores pela questão dos túneis. Nós temos que estar em pé de igualdade com o lado de lá da serra. Veja que a Covilhã já tem a A 23; a Guarda tem a A 23 e a A 25 e este território aqui no meio – Tábua, Oliveira, Seia, Gouveia – foi completamente ignorado, é uma espécie de território de ninguém…não existe. Está perto de tudo, mas ao mesmo tempo está longe. Estamos perto de Viseu e Coimbra, mas demoramos um “tempão”. Este é um problema que tem que ser resolvido porque este território tem potencialidades. Veja o caso de Seia: mesmo com estas adversidades dos acessos, temos vindo a subir a escalada. Temos conseguido modernizar o concelho, criando mais emprego, mais equipamentos e atraindo mais empresas. Sabemos que a concorrência entre municípios é feroz – não é só nos jornais (risos) –, mas, comparando isto a uma prova de ciclismo, enquanto nós vamos com uma pasteleira antiga, daquelas que pesam 50 quilos, os nossos vizinhos da Guarda, da Covilhã e Viseu concorrem com uma daquelas bicicletas novas e modernas, que pesam 6 quilos. É preciso perceber por exemplo que entre Seia e Oliveira – apesar de sermos de uma NUT diferente – as casas não se despegam. Se repararem, há ali um hiatozito em Torrozelo, mas passado um bocadito está logo na Povoa das Quartas.

CBS – Essa é que é uma grande questão. Nós de Oliveira do Hospital aqui à Câmara, demorámos cerca de 15 minutos. Não acha que os autarcas da região – incluindo aqui, porventura, também o presidente da Câmara de Seia – têm uma noção de território algo restritiva e lidam mal com a intermunicipalidade?
EB –
Vejo isso com grande desprendimento e não sofro desse complexo. Eu só fui eleito para ser presidente da Câmara de Seia. O que falta aqui é a regionalização, que é uma coisa completamente diferente. Eu não tenho nada que estar a pensar em Oliveira, nem o meu colega estar a pensar em Seia, ou o de Tábua ou o de Gouveia. Claro que em termos de acessos devemos estar unidos e quero dizer que quer eu, quer o presidente de Oliveira temos sido dos que mais têm puxado por estes acessos. Eu e o Mário Alves temos há muito tempo posições muito claras sobre esta matéria. Mas a verdade é que nós somos presidentes de Câmara para gerir um território. O que faz falta no nosso país é a regionalização, com cinco regiões. Não escondo que cada um procura tratar do seu problema, mas não devemos ficar preocupados se cada um de nós olhar mais para a sua terra porque é para isso que está cá.

CBS – Às vezes o que eu noto é que até há algum bairrismo doentio. Vou por exemplo dar-lhe o seguinte exemplo: Ainda há tempos, quando se discutia a possibilidade de Oliveira do Hospital ficar sem atendimento médico nocturno, por via do encerramento do SAP, o presidente da Câmara de Oliveira do Hospital afirmou nos jornais que não estava a ver os oliveirenses a deslocarem-se para o hospital de Seia…
EB –
Pronto, está bem. É a opinião dele. Mas o problema da saúde não é uma questão da câmara de Seia. Quem desenhou isso foi o Governo. Agora, se os utentes de Oliveira vêm ou não a Seia, isso depende da qualidade de serviço que o hospital presta. Se o hospital de Seia for bom e tiver um atendimento de qualidade – como eu espero – não é o presidente de Câmara de Oliveira, eu ou outro qualquer, que vamos proibir as pessoas de vir cá. Nós, na saúde, procuramos o que é melhor e mais rápido.

Nós hoje, temos que perceber que a concorrência entre municípios é muito parecida à concorrência entre as empresas. Quem não quiser aceitar esta lógica, é melhor mudar de ramo. Eu estou cá para tornar o concelho de Seia o melhor concelho do país – sei que não consigo, de um momento para o outro ! –, mas sem atropelar ninguém tenho que me empenhar todos os dias para afirmar o meu território. Isso faz parte do dia-a-dia dos autarcas.

CBS – Tem-se notado, por algumas intervenções que tem feito, que pretende que Seia possa vir a constituir-se um dia como o grande pólo de desenvolvimento desta região…
EB –
Com modéstia e não querendo ser juiz em causa própria, estou convencido que Seia é o concelho e a cidade que tem melhores condições para se assumir como esse pólo entre Guarda e Coimbra e Viseu e a Covilhã. Sem menos consideração por os outros, penso que com os níveis de desenvolvimento que Seia já atingiu em várias áreas – nos serviços, na cultura, no ensino, nos equipamentos culturais, no emprego –, existem todas as condições para que Seia tenha um papel de liderança neste território. É um processo longo – leva décadas – e não é fácil. Nós, para percebermos onde estamos hoje, temos que saber de onde é que partimos. Há 14 anos, as ruas de Seia eram povoadas todos os dias por mais de mil pessoas com bandeiras negras e salários em atraso. Estávamos no auge da crise têxtil. Nós, em meia dúzia de anos, perdemos 4 mil postos de trabalho. Loriga, por exemplo, perdeu todos os postos de trabalho que tinha. Mudar isto, recuperar psicologicamente as pessoas e incutir-lhes que temos futuro – no clima péssimo, em que o país tem vivido nos últimos anos –, não é fácil. Portanto, Seia tem andado neste processo de alteração do seu tecido empresarial – e vai continuar – há mais de uma década, seguramente.

CBS – Seia é um dos concelhos da região com maior desemprego…
EB –
Tem um nível de desemprego muito semelhante à média nacional, na ordem dos 7/8 por cento. Depende…

CBS – Mas no contexto da região, Seia está nessa situação… tem mais de dois mil desempregados…
EB –
É uma situação que me preocupa, sobretudo a situação dos mais jovens, que são aqueles que chegam ao mercado de trabalho e não têm emprego. Esse é que é o nosso drama. Agora, sabemos que isso não se resolve só pela acção do Estado. Tem que haver iniciativas privadas e, se há coisas que o interior precisa – como é o nosso caso e os concelhos aqui à volta –, é de investimento privado. O Estado, quando fizer os acessos, praticamente fez tudo o que havia a fazer. Temos os hospitais, as ruas, o saneamento, os museus, os tribunais, as casas da cultura… o que é que há mais para fazer? Só conservação e manutenção e dedicar-se ao apoio social, ou combater a exclusão. Quer dizer: em termos de infra-estruturas, mais uns anos os problemas estão resolvidos. Nós às vezes esquecemo-nos disso e nós os políticos, aí, temos algumas responsabilidades. Nos nossos discursos temos às vezes a tendência de transmitir a ideia de que o Estado tem uma capacidade ilimitada e não tem. Aliás, se há coisas que nós percebemos nos últimos anos, é que o Estado é limitadíssimo. Portanto, nós precisamos é de apelar a capacidade de engenho e arte dos nossos cidadãos. Ainda há pouco tempo lançámos um gabinete de apoio ao empreendedorismo – já tínhamos um gabinete de apoio ao investimento – e agora remodelámos, inovámos e partimos para um funcionamento em rede com as escolas. Nós temos que perceber que talentos é que saem das escolas. Um empresário é a mesma coisa que um artista ou jogador de futebol, é uma pessoa dotada e não é empresário quem quer. Portanto, se fizermos essa ligação em rede com a Escola Profissional, a Escola Superior de Turismo e a Escola Secundária, podemos ter acesso a boas ideias e criar condições para que possam ter sucesso. É nisso que vamos apostar nos próximos anos.

CBS – Seia tem assistido ao aparecimento de algum investimento privado com significado?
EB –
Sim. A EDP transferiu-se para cá com o seu “call-center”, há quem diga que é trabalho precário, mas o que interessa é que a maior empresa portuguesa coloca em Seia 200 postos de trabalho. A EDP não é propriamente uma dessas empresas, que vêm para estar cá um ano ou dois e depois vão embora. A EDP tem relações há mais de 100 anos com o concelho de Seia, mas para os cativarmos a investir em Seia tivemos que trabalhar muito, embora a decisão fosse deles. O nosso parque industrial foi feito numa altura difícil, mas nós não podíamos ser presos por ter cão e presos por não ter. Isto é: não tínhamos indústrias porque não tínhamos parque e não tínhamos parque porque não tínhamos indústrias. Acabámos com isso: está aqui o parque e ele está a fazer o seu caminho. Daqui por cinco ou seis anos – se não for antes – está cheio. Eu acredito que, apesar da EDP, o tecido empresarial de Seia tem que ser muito diversificado: pequenas empresas e muitas. Apostamos muito nisso. Claro que o turismo também tem um papel importante, mas não é a chave dos problemas todos. Isso é uma ilusão que se andou aí a criar…

CBS – Não acha que o futuro de Seia está indissociavelmente ligado ao turismo e à Serra da Estrela?
EB –
Acho que é uma mola e um sector estratégico importante, mas só por si não resolve o problema. Veja que criar 200 postos de trabalho na área do turismo, não se faz de um dia para o outro. É preciso criar muitos hotéis, muitas pensões, muitas coisas e isso não se faz de um dia para o outro. Mas nessa área, está a decorrer um processo de uma empresa de um grupo espanhol que está já a investir em Seia para a construção de um campo de golfe e um resort. Há já passos concretos, reuni-me há dias com eles e já foram comprados – sinalizados – cerca de 60 por cento dos terrenos desta zona da baixa da cidade, desde a Arrifana até ao aeródromo. É um investimento estruturante e nós precisamos aqui de empresas que tenham o contacto com os grandes mercados europeus e que tragam gente. Estamos muito entusiasmados e vemos que há sinais no horizonte de que as coisas estão a mudar. Aqui há dez anos, os meus amigos vinham a Seia e pediam: – façam-me aí um programa. O programa era Seia-Torre, Torre-Seia. Vinham para baixo e ponto final. Hoje, não. Nós temos condições nesta área – às vezes até envolvendo concelhos limítrofes como Oliveira do Hospital e o Piódão – para fazer um programa turístico de três dias, sem se repetir. Só o Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE) ocupa-lhe quase um dia, se quiser.

CBS – Lá está a intermunicipalidade também neste campo…
EB –
Com certeza! Mas o que falta aí – e eu não me importo de dizer isso – é mais agressividade das empresas de hotelaria e turismo, que não podem estar à espera que o Estado faça tudo. Se eu tenho a minha empresa, sou eu que tenho que a promover e ganhar dinheiro com ela. Não posso estar à espera do Estado! Há uma certa ideia assistencialista de que o Estado é que tem que fazer tudo, mas as empresas do ramo da hotelaria e turismo têm que ser mais agressivas e competitivas. Têm que servir melhor, com mais profissionalismo e têm que contratar gente qualificada, que existe. Nós temos uma Escola Superior de Turismo, uma escola profissional. Há que contratar jovens qualificados e não continuar no “rame-rame” do desenrascanço. Nós temos as nossas responsabilidades – não as enjeitamos – e estamos a investir forte na área da promoção: novas brochuras, novos letterings, várias coisas… temos que nos esmerar. Eu se for a um bom restaurante e for bem tratado, está ali um embaixador. Portanto, há aqui muita coisa que tem de melhorar, mas os particulares também têm que fazer esse esforço. Mas estou muito optimista e confiante nos resultados que a Escola Superior de Turismo e a Escola Profissional possam trazer a esta área.

 'A cultura tem que ser vista numa perspectiva de rentabilidade'

 

CBS – A Escola Superior de Telecomunicações e Turismo não tem tido alguns problemas, ao nível da captação de alunos?
EB –
Tem, como todas as escolas do interior do país. Aqui no interior tudo é mais difícil…

CBS – Está muito aquém das expectativas a Escola?
EB –
Não. O número de alunos é compatível. A escola já tem quatrocentos e tal. Não preencheu a vertente das telecomunicações, mas na área específica do turismo tem feito o seu caminho e é preciso continuar porque não é fácil. Compete com outras escolas de Aveiro, Estoril, Manteigas…aí está, a concorrência é feroz. E o que é que determina se um aluno vem para aqui o não? Qualidade da escola, qualidade da cidade, segurança da cidade… são esses aspectos que muitas vezes levam hoje um pai a aconselhar um filho no sentido de ir mais para aqui ou mais para acolá. Agora, se a escola e a cidade não forem atractivas tudo é mais complicado.

CBS – Não teme que a falta de oportunidades de emprego para os jovens aqui na região possa vir a gerar um fenómeno de desertificação?
EB –
Esse é um problema grave que temos pela frente, mas não temos outro remédio senão sermos positivos e optimistas para podermos ultrapassar a situação. Você poderá dizer que isto é um bocado lírico, romântico, mas não se pode ter outra atitude. Eu sei bem os problemas com que nos debatemos, mas se nós metermos a viola no saco e deixarmos de tocar, não resolvemos nada. Eu estou convencido – há aqui alguma dose de idealismo, mas eu faço política com convicção – que as zonas do interior e o mundo rural, neste século, vão ter uma outra presença. As pessoas procuram fugir dos grandes centro, por causa do stress, da segurança e todo um conjunto de factores, e acho que há futuro por aí. Estas coisas não se mudam de um dia para o outro, mas há alguns sinais. Quase todos os meses recebo cartas de pessoas que trabalham em câmaras de outros sítios e que queriam mudar para Seia. Claro que nós não vamos nisso e quem nos dera empregar os que nós cá temos. Mas isso significa o movimento que se está a dar. Por outro lado, as acessibilidades e a facilidade com que hoje se vai a Lisboa ou ao Porto, leva a que haja aqui uma segunda residência. Naquelas aldeias ali de Vide e que confrontam com o Piódão, aqui há uns anos, as pessoas vinham na Páscoa, no Verão e no Natal. Hoje não: vêm quase de 15 em 15 dias. E isso explica até o número de restauro de casas que tem acontecido naquela zona.

CBS – Tem havido muitos pedidos de licenciamento para obras de restauração em casas de aldeia?
EB
– Impressionante. E nós sabemos que são segundas residências. Por isso, não pagam licenças nem uma série de coisas. Eu defendo a ideia de que temos que tornar os núcleos da sede do concelho muito fortes, do ponto de vista competitico. Isto é como um motor: se vocês tiverem um motor muito forte, leva a água onde querem; se o motor é fraco, não se leva a água a mais de 100 metros. Portanto, se os centros do concelho forem fortes, atractivos, competitivos e com dinâmica económica e social, acabam por contaminar as aldeias. Agora, pensar que é possível ter os mesmos níveis de desenvolvimento na sede do concelho e nas aldeias, isso não é possível. O concelho de Seia tem 29 freguesias.

CBS – É adepto de que a maior fatia do investimento municipal, deve ser canalizada para a sede do concelho?
EB –
Em termos do tecido económico, com certeza. Porque se dispersamos o investimento, não resolvemos absolutamente nada. É preciso dotar as freguesias de boa qualidade de vida – escolas, ruas, saneamento básico, tudo isso está feito –, mas se a sede do concelho for muito forte acaba por puxar pelo resto.

CBS – Hoje a Câmara de Seia deverá ser um dos principais empregadores do concelho, não?
EB –
Não, primeiro está a ARA, a Beiaralã… Sim é o terceiro ou quarto.

CBS – Quantos postos de trabalho tem a Câmara?
EB –
Duzentos e trinta.

CBS – E em termos de finanças? A Câmara de Seia sempre esteve conotada com alguns problemas…
EB –
A Câmara de Seia vive sempre no limite. Cumprimos as regras que o Governo agora impôs – muito mais restritivas –, mas não escondo que vivemos sempre no limite. Mas se queremos fazer alguma coisa, temos que viver sempre no limite! Por que é que nós agravámos a nossa dívida? Porque gerimos bem o último quadro comunitário de apoio. Eu acho que os munícipes não nos perdoariam se não tivéssemos aproveitado esses recursos. Se não fosse assim, nunca teríamos feito o CISE, não teríamos feito o saneamento básico todo ou um conjunto de estradas que fizemos. Por isso, vivemos sempre no limite.

CBS – Qual é a dívida do município?
EB –
Neste momento não sei porque só segunda-feira é que é apurada a Conta de Gerência. Mas não é muito diferente da do ano passado. Deverá andar na ordem dos 35 ou 40 milhões de euros.

CBS – Qual é o seu conceito de cultura, enquanto autarca do interior do país?
EB –
A cultura, para mim, é sempre um acto de criação e de liberdade. Aqui há uns 10 anos atrás, investir nalguns equipamentos culturais era uma coisa difícil, porque as pessoas viam que não tinham estradas, nem saneamento e perguntavam:então este cavalheiro põe-se agora aqui a gastar 40 mil contos na recuperação de um solar para fazer um museu, por exemplo… havia uma certa perspectiva de que a cultura era uma coisa despesista. Hoje em dia, para além de ajudar a projectar um território, a cultura dá um contributo enorme ao desenvolvimento económico. A cultura tem que ser vista, também, numa perspectiva de rentabilidade e de criação de postos de trabalho. Dou-lhe o exemplo do CISE, do museu do brinquedo e do CINE-ECO, que é hoje um cartaz já com grande capacidade de afirmação em termos europeus. Portanto, a cultura não só gera riqueza como também provoca desenvolvimento. Todos os anos vêm entre 30 a 40 mil pessoas ao museu do brinquedo. Essas pessoas têm que comer e beber e gastam cá dinheiro. Nós queremos tornar-nos numa cidade e num concelho muito qualificado no âmbito dos equipamentos culturais. Brevemente, por exemplo, vamos lançar o Museu da Agricultura e da Alimentação, a partir de um solar em Sandomil, e estamos a diligenciar junto do Governo para que nos ceda uma fábrica têxtil, que fechou em Vila Cova, para instalarmos um museu vivo. Temos um grande espólio ligado à indústria têxtil que, nestes últimos anos, fomos comprando.

Henrique Barreto
Liliana Lopes

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