O presidente da Câmara Municipal de Tábua, Ricardo Cruz, pediu recentemente ao Governo que implemente um processo de discriminação positiva para os territórios do interior, contemplando medidas que fixem empresas e pessoas. Confesso que quase não queria acreditar. Depois de tanto tempo no executivo camarário, será que só agora tomou consciência das dificuldades do concelho de Tábua e da região? Há mais de uma década que alerto para o facto destes territórios se encontrarem, dia após dia, mais desertificados e com menos condições de vida. E não é com festas ou palmas que se promove o seu desenvolvimento. É necessário trabalho sério e uma gestão adequada às necessidades que há muito são conhecidas.
Como se explica que apenas agora, depois de anos de presidência, e tendo feito parte de anteriores executivos, reclame atenção para as carências deste território? E mais: estamos a falar da mesma pessoa que, durante o mandato de António Costa como primeiro-ministro, permitiu silenciosamente a degradação progressiva deste concelho.
A área da saúde, a justiça, a educação e as infra-estruturas, entre outras, sofreram retrocessos significativos, bem conhecidos por todos nós. Também não podemos esquecer as promessas feitas em campanhas eleitorais pelos representantes do Partido Socialista para o desenvolvimento do concelho. Lamentavelmente, a maioria dessas promessas não se concretizaram. Ainda assim, esperamos que projectos como a escola, o centro de saúde e a habitação a custos controlados venham a ser uma realidade.
Contudo, também aqui há motivo de preocupação. Em Março de 2023, foi anunciada a intenção de investir 17 milhões de euros na construção de 93 novos fogos, nas tipologias T2 e T3, destinados ao arrendamento com custos controlados. Quanto desse montante foi realmente investido? E, se foi, porque não se vêem resultados? Agora foram anunciados mais quatro milhões de euros, perfazendo um total de 21 milhões de euros para apoio à habitação a custos controlados. Existem obras feitas ou projectos em curso neste valor no concelho de Tábua? Eu desconheço. Não terá havido propaganda a mais e trabalho a menos?
Deixo aqui um conselho: senhor presidente, prometa menos e faça mais. Aliás, sugiro que não prometa. Simplesmente faça. Esta última abordagem parece-me a melhor para o bem-estar da população, que deve ser o foco principal de quem foi eleito para defender os interesses de quem já enfrenta os problemas inerentes a um território de baixa densidade. Senhor presidente, aproveite bem as verbas do PRR.
Porém, o que mais surpreende, antes deste súbito despertar, é a ausência de voz do senhor presidente em relação a temas importantes, como os lesados pelos incêndios de Outubro de 2017 ou a perda de serviços. Onde estava a sua preocupação na altura? O que tivemos foi um silêncio ensurdecedor, que, a meu ver, visava não melindrar o seu Partido Socialista, que, na altura, governava o país.
É evidente que, na política do actual executivo, as prioridades estão invertidas. Os benefícios partidários têm sido colocados à frente dos interesses da população. Lamento profundamente que esta seja a sua opção. Mas é um facto que este é o caminho trilhado pelo Partido Socialista na liderança da Câmara Municipal de Tábua.
E pobre do povo tabuense, que tem de suportar esta “democracia” e conviver com aumentos nos custos de água, saneamento, entre outros. Para quando a devolução de parte do IRS aos munícipes tabuenses? Para quando o apoio à natalidade? Um executivo sem ideias transforma o concelho num deserto.
Autor: Fernando Tavares Pereira