Correio da Beira Serra

Trabalhadores da Socongo “sem trabalho e sem dinheiro”

O fantasma do desemprego paira sobre a empresa oliveirense Socongo. A empresa interrompeu a construção de uma estrada no concelho de Elvas e aos mais de 20 trabalhadores que somam mês e meio de ordenados em atraso e um elevado montante em subsídios, não restou outra solução que não fosse a suspensão dos contratos de trabalho.

“Sem trabalho e sem dinheiro”. É assim que se encontram os mais de 20 trabalhadores da Socongo – Sociedade de Construções Gouveia, que desde há cerca de oito meses procediam à construção de uma estrada no concelho de Elvas e que, no início de junho, receberam ordem de regresso a Oliveira do Hospital. A motivar a retirada da empresa oliveirense do território alentejano, onde a empresa também deixa seis trabalhadores nas mesmas condições está, de acordo com o Sindicato da Cerâmica e Construção do Centro “o incumprimento do contrato estabelecido com a Câmara de Elvas”. “A Câmara não os aceita mais a trabalhar”, afirmou o coordenador do Sindicato Luís Almeida depois de esta manhã reunir com os trabalhadores em plenário realizado à porta da empresa, na zona industrial de Oliveira do Hospital, seguido de reunião com o advogado da administração.

Sem trabalho, os mais de 20 funcionários da empresa que se dedica à abertura e alcatroamento de estradas vêem-se também a braços com salários e subsídios em atraso. “Está por pagar meio mês de abril e o mês de maio e vários subsídios desde 2005”, explicou o coordenador do Sindicato, denunciando também o gozo incompleto dos períodos de férias a que cada trabalhador tinha direito. Motivos que, explicou Luís Almeida, levaram já a maioria dos trabalhadores a optar pela suspensão dos contratos de trabalho, como forma de mais rapidamente acederem ao subsídio de desemprego.

A agravar o mau momento por que passam a empresa e os trabalhadores, está também a desconfiança de que a administração iniciou um processo de descapitalização da Socongo, encaminhando dinheiro e património para uma segunda empresa unipessoal. “Temos certeza de que está a ser desviado dinheiro para outra empresa”, contou esta manhã um dos trabalhadores mais antigos da Socongo , entendendo ser aquela a explicação para a repentina falta de dinheiro da empresa, numa altura em que a Câmara Municipal de Elvas adiantou 200 mil Euros destinados à construção da estrada. “Aquela Câmara pagava e agora não sabemos para onde foi o dinheiro”, continuou Estevão Oliveira que, com 28 anos de casa, nunca viu a empresa passar por um momento tão difícil como este. “Só sei que viemos sem dinheiro e sem trabalho”, desabafou o trabalhador que à entrada da reunião com o advogado da empresa se mostrou pouco confiante na retoma da laboração.

Há oito anos a trabalhar na empresa que abriu portas no concelho há cerca de três décadas e foi responsável pelo alcatroamento de grande parte da rede viária municipal, Graciano Mendes também não está mais otimista. “O material na obra já andava a faltar há algum tempo”, contou o trabalhador que também suspeita das “más intenções” da administração que, recentemente mandou retirar os autocolantes publicitários de todas as viaturas e máquinas da empresa e que se encontram localizadas nos estaleiros de Oliveira do Hospital, Gouveia e Castelo de Vide. Com 38 anos e uma filha pequena para criar, o trabalhador não augura nada de bom e teme por aquele que vai ser o seu futuro próximo, porque o ordenado da esposa não chega para fazer face a todas as despesas.

No processo que conduziu à paragem da laboração e já conduziu à suspensão de grande parte dos contratos de trabalho há ainda a registar a falta de comunicação por parte da administração. “Só nos diz que não tem dinheiro”, queixou-se António Silva, lamentando a falta de diálogo e de contacto. Uma postura que, segundo os trabalhadores, sempre foi própria da administração, mas que foi sendo colmatada com o pagamento assíduo dos salários. “Mas agora não há dinheiro, nem trabalho à nossa volta”, lamentou o trabalhador de 57 anos, que sem grandes encargos financeiros às costas teme pelo mau momento por que passam os colegas mais novos e que todos os meses têm “200 e 300 Euros para pagar ao fim do mês”. “Sem receber como é?”, questiona.

O correiodabeiraserra.com tentou estabelecer contacto com a administração da Socongo, mas por se encontrar ausente das instalações da unidade empresarial, tal ainda não foi possível.

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