A Europa foi desde sempre procurada por povos de outras regiões por verem neste continente uma oportunidade.
O drama dos refugiados, vindos do norte de África que, por todos os meios, tentam chegar à Europa das mais diversas formas, mesmo sabendo que nesta sua caminhada em busca de melhores condições de vida arriscam a própria vida e dos seus na travessia do Mediterrâneo, não pode deixar-nos indiferentes.
A Europa e os seus governantes não podem lavar as suas mãos e ficarem apenas pela fiscalização das zonas marítimas de modo a tentarem impedir que aqueles que não querem morrer pela guerra se arrisquem a morrer em naufrágios.
A Europa não pode deixar à sua sorte estas gentes e crianças inocentes que não têm culpa do que está acontecendo nas suas terras. A Europa decidiu, tarde de mais – mas mais vale tarde que nunca – dar a mão a estas pessoas, propondo-se receber aqueles que nada têm.
Não é por pena que a Europa deve receber esta gente, mas sim porque também os europeus, por diversas circunstâncias, ao longo da História, foram e continuam a ser recebidos por outros povos.
Não nos podemos esquecer da quantidade de portugueses que, na década de sessenta, foi de “assalto” para outros países para fugirem à guerra nas ex-colónias.
É o momento de sabermos ser reconhecidos. É chegada a altura de darmos porque também já recebemos.
Porém, não podemos tratar este assunto de ânimo leve e ao sabor da corrente. É preciso preparar com muito cuidado a integração destas pessoas que falam uma língua diferente da nossa, têm cultura, hábitos alimentares, religião diferente mas sobretudo uma grande esperança, apesar de nada exigirem à partida.
Os cuidados de saúde, de subsistência, de segurança, de empregabilidade, de habitação condigna, de educação… não podem ser deixados ao acaso e têm de ser garantidos à partida, para estes refugiados. Não é uma questão de caridade no seu sentido mais comum, mas de direitos humanos.
Não menos importante é a sensibilização, e porque não dizer, a preparação das populações que possam vir a receber estes refugiados. Não se podem criar conflitos nem qualquer mal estar com o argumento de que temos pessoas a viver mal em Portugal, sem emprego, sem habitação condigna… culpabilizando quem possa chegar pelo facto de alguns não terem aquilo a que também têm direito. É verdade, mas não é menos verdade que estes refugiados que a Europa se propõe agora receber, nada têm e se cada um de nós der um pouco daquilo que não nos faz falta será muito e o suficiente para ajudar quem nada tem a não ser o medo de morrer e a grande esperança de conseguir fugir à própria morte e ao terror.
É importante sublinhar que há programas específicos para apoiar estes refugiados e que é a própria Europa a pagar a sua integração, não retirando nada àqueles que já cá estão.
A escolha é deixar morrer estas pessoas ou estender-lhe a mão.
Contudo, não posso deixar de me questionar sobre o modo como algumas vezes tentamos resolver os problemas. É que nem sempre as coisas são devidamente acauteladas. Basta vermos o que está a acontecer com campos de refugiados na própria França.
Para recebermos estas gentes temos que nos sentar todos à mesma mesa e, em conjunto, tomarmos decisões assertivas que têm que ser, forçosamente fruto de um amplo consenso.
Usarmos o drama dos refugiados como arma de arremesso ou de aproveitamento político não dignifica ninguém e se eu estivesse no lugar destas pessoas não sei se aceitaria ser ajudado por alguém que apenas quisesse tirar dividendos da minha precária situação de vida.
Estas pessoas merecem o nosso maior respeito. Sabem que a morte os espreita a qualquer momento e fogem dela. São gente corajosa.
A integração tem consequências e, por isso, os decisores políticos devem pensar muito bem onde, como e que condições têm para lhes oferecer. É preciso um enorme trabalho de acompanhamento permanente e uma retaguarda facilitadora da sua integração. Integração não pode ser igual a desconfiança e a conflitualidades. A integração deve ter como horizonte dotar estas pessoas de mecanismos de subsistência porque não precisa de pena, de favores… Precisam apenas de ver garantidos os seus direitos como pessoas iguais a nós.
Será que este assunto antes de sair para a comunicação social não deveria primeiro ser analisado e discutido com todas as forças políticas e sociedade civil? Mas a discussão já está lançada e as pessoas começam a emitir opiniões e juízos de valor que devem ser aproveitados para que a decisão final seja a mais acertada.
Ainda estamos a tempo.
Autor: António Manuel Nunes Soares,
Presidente da Junta de Freguesia de Travanca de Lagos.