Muitas vezes temos a necessidade de realizar uma pausa na política activa. Particularmente, quando vemos aqueles que exercem o poder ignorar as necessidades básicas da região que representam. E outros que já representaram. Para quem, como eu, sempre procurou defender os territórios de baixa densidade e a sua população, esta é uma opção difícil. Porém, necessária. Irei fazer uma pausa na vida política activa, limitando-me a cumprir o mandato de vereador para que fui eleito há cerca de três anos. É uma medida que tem o valor que tem.
Mas posso e quero acreditar, por pouco que seja, que esta minha atitude poderá ter a virtude de alertar as consciências dos responsáveis de alguns concelhos desta região que infelizmente foram eleitos por este povo e, que na maioria dos casos, não cumpriram aquilo que prometeram, como seja defender, entre outras áreas, a saúde, a justiça, a educação, assim como os tão prometidos ICs 6, 7 e 37. Houve quem fizesse a ameaça de deixar a política caso os ICs, ou pelo um ou dois, não fossem construídos para o desenvolvimento desta região. Mas a dura realidade é que nada disso foi cumprido. Nem os ICs foram construídos, nem os autarcas ou deputados da região se demitiram ou fizeram o que teriam de fazer: não há ICs, não há candidatos políticos.
Vamos deixar de bater palmas a estes políticos irresponsáveis que deixaram uma região, que já foi um centro de grande desenvolvimento, a definhar graças a quem tem comandado os destinos de alguns destes municípios e representado os distritos no Parlamento. Passaram pela política alguns ministros, secretários de Estado, deputados e presidentes de Câmara. A maioria deles nunca se preocupou com a terra onde nasceu e com o povo que sempre os respeitou.
O momento não é fácil. É necessário lançar um alerta. Neste momento, estes territórios encontram-se com um tecido empresarial quase todo destruído. É fácil de ver a desertificação e o abandono em que está esta região tem sido sujeita, tendo estes concelhos perdido mais de 15 por cento da sua população. Isto assim não vale. Não podemos dizer que tudo está bem, quando na verdade alguns dos políticos se limitaram a enganar o seu povo, com promessas que não passaram de mentiras.
“Quem me conhece, sabe que nunca virei costas ao que quer que seja”
Este é o motivo pelo qual eu decidi fazer uma pausa na política. Que seja, ainda que pequeno, um grito de alerta, pois, como toda a gente sabe, a política nunca foi a minha actividade profissional. Entrei na política para defender a minha terra e toda a região do interior. Poderei um dia voltar. Mas apenas quando tivermos na região algumas condições de desenvolvimento, como já atrás referi, pelo menos um dos ICs (6, 7 e 37) concluído, assim como, entre outros, as áreas da saúde, da justiça, recuperadas. É preciso, repito, alertar que na nossa região também somos portugueses de primeira. Tanto em deveres, como em direitos.
Espero que este Governo coloque a mão na consciência, embora não tivesse realizado promessas, e que, no mínimo, executem a inauguração de pelo menos um dos traçados que atrás referi, ajudando à recuperação e desenvolvimento regional. Nesse caso, poderei voltar à política activa e social destes territórios.
Quem me conhece sabe que nunca virei costas ao que quer que seja. Assim, volto a desafiar os políticos da região para um debate para terminar com o mito de que só falo nos jornais. Já o escrevi algumas vezes, mas nunca ninguém teve a coragem de debater frente a frente comigo as necessidades que nos dias de hoje afectam a nossa região. Não vejo os nossos políticos locais preocupados com as populações.
Quem manda tem gasto milhões de euros em projectos para os ICs. Mas o avanço no terreno é nulo. Há uns anos, o Núcleo de Desenvolvimento Empresarial do Interior e Beiras (NDEIB), um organismo do qual fui um dos promotores, conseguiu reunir autarcas e empresas da região no antigo hotel São Paulo. Nesse encontro foi acordado a demonstração do empenho na construção dos ICs para o desenvolvimento empresarial da região. A iniciativa foi agraciada por todos. Mesmo pelo Governo da altura, a quem foram entregues as conclusões da reunião. Mas também nada se concretizou.
O NDEIB poderá regressar e ser uma voz a ter em conta. Não nos podemos esquecer que esta estrutura teve um papel decisivo em projectos para a região. Cito o exemplo da BLC3 que esta instituição ajudou a desenvolver com o apoio do Governo da época e os muitos empresários da região.
Por enquanto, vamos aguardar que o nosso interior deixe de ser esquecido. Resta-nos esperar que este novo Governo faça aquilo nos é prometido há dezenas de anos. Até lá, ficamos por uma pausa da política activa. Não podemos incentivar a nossa população a bater palmas à mentira.
Autor: Fernando Tavares Pereira