Home - Opinião - “Vive la France !” (Viva a França !)   –  e que eu não me canse… Autor: João Dinis

“Vive la France !” (Viva a França !)   –  e que eu não me canse… Autor: João Dinis

Surfemos na espuma das horas e dos dias a perscrutar a percepção  mais imediata das coisas.  A construção contínua da vida, no caso vida colectiva, exige mais do que isso, várias vezes, mas comemoremos entretanto!

Como diz o Povo, “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”… Folguemos pois.

Vêm estas reflexões a propósito dos resultados da segunda volta das eleições de Domingo, 7 de Julho, em França, para a Assembleia Nacional deste País.

Acontece que a grande comunicação social e os seus “politólogos de serviço” (papagaios de serviço ao sistema) – em França e pelo menos nesta Europa em que nos engavetaram – desde um mês antes, portanto logo após as eleições para o Parlamento Europeu de 9 de Junho passado, e sobretudo após a primeira volta (30 Junho) destas mesmas Eleições Legislativas Francesas, as grandes cadeias de (des)informação logo pretenderam criar a percepção de que a “extrema direita” ou, dito mais em “soft”, a “direita radical”, reagrupada e disfarçada na coligação “Reagrupamento Nacional”  (Rassemblement National) sob a égide da família le Pen e do seu “manequim” Bardella, iria obter a maioria e até a maioria absoluta na Assembleia Nacional Francesa que tem 577 Deputados.

É a partir desta “construção” política e partidária, pré-fabricada, que outros sectores partidários e sociais resolvem juntar-se – com fins prioritariamente eleitorais – e            criar uma outra coligação, a “Nova Frente Popular” (Nouveau Front Populaire, NFP) também esta logo classificada como sendo “das esquerdas” que, a seguir à primeira volta das Eleições, juntou em convergência os 4 partidos: “França Insubmissa – Partido Socialista Francês – Partido Comunista Francês  –  Verdes”.

Alegadamente, lá pelo meio, uma outra coligação – ”Juntos” (Ensemble) –  formou-se a partir do partido “Renascimento” (Renaissance), este  reunido em torno do Presidente da República, Macron, que assim, não sendo candidato a deputado como é óbvio, tutelou e tutela esta coligação “Juntos”, também dita “do Macronismo”, coligação que se instalou para estas Eleições Legislativas antecipadas que o foram por decisão de Macron.

Porém, as urnas falaram a 7 de Julho e determinaram outras arrumações eleitorais, “surpreendentes” porque não era tal que os “mandões” em França encomendaram e esperavam obter…  A dita “coligação das Esquerdas” acabou por ganhar as Eleições ao obter a maioria, ainda que relativa, dos Deputados.  No segundo lugar, ficou a coligação “do Macronismo” – que fora a primeira nas anteriores Eleições Legislativas em 2022 – e em terceiro lugar em Deputados ficou a coligação da “extrema direita” da Marine le Pen e do Bardella.

Bem, o sistema eleitoral Francês provoca grandes distorções na relação entre o número de votos e o número de Deputados – princípio da proporcionalidade –  até numa votação em segunda volta.  Há candidatos a Deputados por círculos eleitorais uninominais, sendo que só transitam para a segunda volta os Candidatos com mais de 12,5 % dos votos expressos e para se ser eleito logo na primeira volta é necessário ter pelo menos 50% dos votos mais um voto.  Ora, este sistema uninominal permite desistências, com os partidos com Candidatos desistentes a aconselharem o voto num dos outros candidatos que também passem à segunda volta.

No caso, foram acordos políticos que assentaram na aritmética simples de juntar hipóteses de voto neste ou naquele dos opositores aos candidatos da extrema direita em cada um dos círculos eleitorais.  E foi isso que na prática aconteceu, aliás com uma precisão notável, entre os votantes iniciais no partido e nos candidatos “do Macronismo” (elegeu 168 Deputados)  e nos da “Nova Frente Popular” (182 Deputados) que, portanto,  agora somam ambos, 350 Deputados = 60% do total da Assembleia Nacional Francesa.  Todavia e a reter, a coligação da extrema direita, apesar de ficar em terceiro lugar com 143 Deputados, foi a força  que teve mais votos de per si e até ficou com mais 50 Deputados do que os que teve em 2022…  Então, e como “aviso à navegação”, fica para os próximos tempos a declaração de Marine le Pen segundo a qual a sua vitória partidária apenas foi adiada…

Na verdade, e tal como aconteceu, o sistema eleitoral por círculos uninominais provoca entorses de peso que falseiam mesmo a vontade dos Eleitores, partido a partido concorrentes. Aliás, em Inglaterra é ainda mais injusta e desequilibrada a desproporção entre os votos  e os Deputados obtidos, partido a partido.

São processos destinados a “fabricar” maiorias artificiais, parlamentares ou outras, e pouco democráticas em essência.  Aliás, diga-se, é isso mesmo que também pretendem conseguir em Portugal os arautos deste tipo de sistemas eleitorais uninominais. E, no contexto, por analogia, nem sequer os inibe de insistir em tais teorias espúrias o sistema eleitoral proporcional mais completo – com repescagem para novo escrutínio de um certo número de votos “desaproveitados” – que se pratica nas eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, e comparativamente com o sistema proporcional (método d´Hondt) usado cá do Continente para a Assembleia da República…

Mas voltando nós ao princípio desta crónica, a percepção a valorizar é que a extrema direita foi (pelo menos por agora…) mais uma vez derrotada e travada em França na sua gula de poder e de ataque a princípios que são civilizacionais mas que põem em causa e ainda nem sequer despiram (lá como cá, aliás…) a sua (deles) pele de cordeiro…

Presidente Macron já veio dizer que ninguém venceu estas Eleições…

Pois, pois, aquilo que Macron se prepara para instalar é um novo/velho (des)governo que sufrague as suas políticas fiéis aos grandes grupos económicos e militaristas de França “e arredores”.

Enfim, ao Povo e aos Democratas Franceses em primeiro lugar compete tirar as necessárias conclusões deste processo e de reafirmaram as suas principais exigências também em matérias de políticas concretas mais justas e socialmente mais eficazes.  Única forma de derrotar permanentemente a extrema direita neofascista.  Nestas coisas, a França costuma dar exemplos a ter em muita conta.

Julho de 2024

 

 

Autor: João Dinis, Jano

 

 

 

 

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