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A escola ou a escolinha (?). Autor: António Ferro.

Durante várias décadas, fui assistindo às mudanças (algumas drásticas e escusadas) no sistema de ensino em Portugal. Lembro-me do livro da quarta classe do meu avô e ficava atónito com a quantidade e qualidade do material exposto. É lógico que não concordo com a obrigatoriedade de se saber as linhas de comboio de Angola e Moçambique, mas quem terminasse a quarta classe, com muitos conhecimentos  somava. Uma coisa é certa, todos sabiam escrever bem o português e todos sabiam fazer bem contas (somar, diminuir, multiplicar e dividir)!!!

Quando ingressei na primária tive o azar de ter um professor imprestável que nos zurzia com uma régua, razão porque a maior parte das vezes, o almoço ficava nas pedras da calçada, no caminho para a escola. Entrei para a Escola Industrial Machado de Castro,  revoltado com a escola e pelo facto de não ter uma situação financeira melhor, pois nesse caso teria concorrido para o Liceu Pedro Nunes.

Decorreram assim cinco anos da minha vida a frequentar um curso de mecanotecnia (o qual de nada me serviu), com disciplinas estúpidas e a ter que limar um cubo de metal também estúpido, até à exaustão… Depois de terminar o curso, ainda assisti a algumas aulas pela televisão, mas rapidamente a música falou mais alto.

Aos vinte e um anos – ainda na tropa – tive a minha primeira experiência como professor (de música), foi um desastre! Deixava os alunos fazer o que lhes apetecia e fiquei rouco (algumas vezes roxo) de tanto gritar… Troquei de escola e de comportamento. Os meus alunos gostavam das minhas aulas e muitas vezes colegas que não tinham tido aulas, pediam para assistir. Foi uma óptima experiência, até um dia ser chamado ao conselho directivo.

Fui criticado, por ter pedido aos meus alunos, para recortarem imagens dos grupos de música da sua preferência, os colarem numa cartolina e assim decorarem as paredes vazias da nossa sala de aulas… Os argumentos que sustentaram as críticas eram:  eu estava a  encaminhá-los para o rock, vejam bem! Na altura, eu tocava no Quinteto da Maria João e tocava jazz! No final do ano lectivo ensaiei com os meus alunos, convidei um guitarrista e um baterista, e comigo no baixo demos um show e pêras! Quando o Conselho Directivo me abordou para continuar na escola, disse-lhes que era o meu último ano como professor… Por essa altura, saiu uma lei estúpida do Ministério da Educação, a qual proibia os professores de corrigirem os testes a vermelho, pois isso poderia ter efeitos traumatizantes nos alunos… Como é possível, meu Deus?!

Sabem por que razão nasceu o Hip-Hop?

O Hip-Hop nasceu nas ruas de Harlem (comunidade negra) e não é mais do que uma escola de rua. Se não vejamos: MC = Disciplina de Português; Graffiti = Disciplina de Audio Visuais; DJ = Disciplina de música e Breakdance = Disciplina de Educação Física.

Sabem por que a escola é uma chatice?

É uma chatice para os professores (Têm que aturar meninos mal criados e pais ainda mais mal criados), é uma chatice para os alunos (porque os professores dão matérias que não os incentiva) e é uma chatice para os funcionários (porque têm que aturar os alunos, os professores e os pais dos alunos – alguns insuportáveis).

Depois há a guerra dos livros e das matérias que de um momento para o outro, ficam fora de uso… E os pais? que gastem mais dinheiro em novos livros, porque o livro do irmão de doze anos, não serve para a irmã de dez.

E os políticos? Têm culpa no cartório?

Muda-se de governo e por que razão tem que se mudar o sistema de ensino?

A educação e a cultura, não deveriam NUNCA ser afectadas pelos governos.

Como diz e bem, Agostinho da Silva – convidavam-se nove dos melhores matemáticos portugueses, eles (em retiro profissional) elaboravam um programa a começar no primeiro ano e a terminar no último ano da faculdade. Este programa seria realizado durante três anos, findo os quais seria feita uma avaliação, para que fossem introduzidas as alterações necessárias. Simples! Afinal quem sabe de matemática? Os políticos, de certo que não, se não, não erravam tanto as contas dos orçamentos de estado…

Autor: António Ferro

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