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Bilhete Postal: Analfabetos

Afirmou, textualmente, referindo-se às próximas eleições Presidenciais: “… A minha candidata à Presidência da República é Marina Silva. Pode botar aí. Não posso deixar de votar nela. É por demais forte, simbolicamente, para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla, é inteligente como Obama, não é analfabeta como Lula que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro…”.

 No dia seguinte o Presidente da República Brasileira não se coibiu de, a coberto da sua “majestática” função política, responder:

“… Tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Nada é mais burro do que isso…”

Não posso deixar de comparar este sentido de estar no meio político brasileiro, quer do Presidente Lula quer da figura pública em referência, com o que se passa com os nossos políticos Concelhios e Nacionais.

Facilmente se constata o grau de afastamento existente entre a “velha, envergonhada e conservadora ” cultura política Portuguesa e a “nova, descomplexada e florescente” cultura politica Brasileira.

O que não seria se alguma figura pública Portuguesa ousasse utilizar uma justificação similar à usada por Caetano Veloso, para com a preta Marina Silva, para expressar o seu apoio ao actual Presidente da Câmara de Lisboa (personalidade que eu, desde já, reconheço como potencial futuro candidato à nossa Presidência da República)?!

Um acontecimento deste tipo logo suscitaria as habituais criticas baseadas no “politicamente correcto”, no “parece mal”, no “expressão racista” ou na mera “falta de respeito” para com o Dr. António Costa e ainda ouviríamos ao Prof. Cavaco Silva, se instado a comentar, algo como : “a minha função e o local não são próprios para comentar o que me pergunta…”

Vem este caso a propósito de ter lido no on-line do CBS que, na cerimónia de investidura do novo Presidente da Câmara, o discurso de elogio fúnebre do Dr. Simões Saraiva à candidatura autárquica derrotada foi interrompido por apupos, imediatamente considerados “fora do lugar”, “inoportunos ” e “por falta de educação”…

Um detalhe que confunde Educação com Politica, Princípios com Cinismo, Manha com Ética.

É possível que Caetano Veloso ou os autores dos apupos na tomada de posse dos novos órgãos autárquicos tenham cometido um exagero de expressão.

Caetano poderia ter dito o que disse, mas mais “respeitosamente” (forma tão querida e tão conforme com os nossos brandos costumes!) afirmando, simplesmente, que Lula não tem formação cultural para desempenhar o lugar que ocupa, pois a sua falta de cultura e também de escrúpulos estão na origem do seu jeito de improvisar discursos recheados de exageros e auto elogios, que muito agradam ao seu público, maioritariamente analfabeto de conhecimentos económicos e políticos, que lê poucos jornais mas vê muitas telenovelas, que adora futebol e enche as Igrejas evangélicas onde alguns dos seus líderes espirituais estão, ou estiveram, a braços com a Justiça.

É possível que os autores dos apupos pudessem ter sido mais respeitosos na cerimónia a que assistiam, o que muito agradaria aos políticos analfabetos presentes, desconhecedores, em absoluto, da vida real por que passam os nossos trabalhadores e empresários, pautadas por um esforço de viver e/ou sobreviver inimaginável para a maioria dos presentes naquele acto político.

Os apupos, na minha leitura, mais não foram que a expressão do direito ao protesto (sic Mário Soares) instintivo, genuíno, legitimo e imbuído de um profundo sentido de Liberdade.

Os apupos, tal como o “analfabetismo” referido ao presidente Lula, traduziram o protesto ao despotismo, ao oportunismo e ao caciquismo, sustentáculos da corrupção, que espero terem sido, de vez, erradicados do nosso Concelho.

Carlos Brito
S. Paulo, 6 Nov 2009

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