“CR 7” de marca própria e lucrativa, vai com uns 20 anos em alta e dura competição em futebol, durante a qual, de facto, tem sido uma extraordinária máquina de correr com e sem bola e de marcar golos de todas as formas e feitios. E continua a fazer o gosto ao pé e à cabeça lá pelas Arábias onde bem lhe pagam para isso… Felicidades !
Mas também chegou a um ponto, a um tempo, em que, com 38 anos de idade, se tem de adaptar – e de admitir – que jogar na Selecção Nacional Portuguesa é outro “campeonato” mesmo para ele… e para o seu “empresário”… Tenhamos em conta o sucedido nos jogos recentes, fora com a Eslováquia e, depois, em casa com o Luxemburgo.
Na Eslováquia, a Selecção ganhou por 1 – 0 e Ronaldo fez um jogo fraquinho, fraquinho. Ainda por cima, com uma entrada perigosa (“ressabiada”…) sobre o guarda-redes adversário o que lhe valeu um cartão amarelo… Em Portugal, contra o Luxemburgo, a nossa Selecção – sem CR 7 por castigo deste – arrasou o adversário com um 9 – 0 que passa a constituir o recorde de golos da Selecção. Enfim, não aplicámos uma tal goleada por Ronaldo não ter jogado mas, diga-se, há uma certa relação entre esses dois factos. É que com Ronaldo em campo, ele transforma-se no “destino” das bolas mais procurado pelos Colegas e, assim, estes inibem-se em se soltarem dessa “obrigação”. Ficam condicionados – pernas e cabeça – em busca do “Ronaldo resolve”…expectativa que os adversários também bem conhecem pelo que de imediato se preparam para contrariar. E CR 7 já não tem condições físico-técnicas (imediatismos…) para lhes corresponder como fazia até há meia dúzia de anos atrás. Sem Cristiano em campo, os seus Colegas (e o próprio treinador) “libertam-se” dessa presença tutelar e da sua sombra psicológica e desatam a jogar sem essa condicionante. E como se viu contra o Luxemburgo, os bons golos “choveram” a cargo de vários jogadores. É claro que CR 7 ainda poderá jogar com eficácia suficiente… mas não os jogos todos e ainda menos todos completos. É a vida.
Ciclismo em modo caseiro e ciclismo em modo (quase) virtual.
O Ciclismo é um dos meus espectáculos preferidos e desde há já muito tempo.
Actualmente, as “Voltas a Portugal em Bicicleta” – como aconteceu com esta última em Agosto passado – são umas “provazinhas” em que, por norma, os melhores corredores portugueses não participam e onde os estrangeiros “comem (quase) tudo”. Na base destes desequilíbrios também está o reduzido investimento financeiro… É a nossa actual realidade e que, assim, não me “comove”…
A “Vuelta (Volta) a Espanha em Bicicleta” deste ano foi quase virtual…
No início, a “Vuelta” deste ano perfilou-se como uma disputa no reino das “feras” mundiais na modalidade. Desses, faltavam Tadej Pogacar e também Wout Van Aert e Mathieu Van Der Poel. Mas lá alinharam Vingegaard, o bi- vencedor do “Tour de France (Volta a França)” e Primos Roglic, já tri-campeão da “Vuelta” e vencedor do “Giro” (Volta a Itália) deste ano. Também alinhou o Reemco Evenepoel, vencedor da “Vuelta” do ano passado e grande ganhador de provas ditas ”clássicas” e campeonatos do Mundo. Alguns bons ciclistas portugueses participaram de entre eles o João Almeida. É bom o rapaz !
Mas a partir do cimo do “Col du Tourmalet” (Passo do Tourmalet), na 13ª etapa, esta “Vuelta” entrou em regime de “telenovela sobre duas rodas”. Vingegaard mostrou-se recuperado das mazelas iniciais que o apoquentaram e ganhou a etapa com toda a categoria. Roglic aguentou-se à campeão mas foi Sepp Kuss, um “gregário” (ajudante…) de ambos que ganhou a “camisola vermelha” símbolo do 1º lugar. Reemco, até aí um putativo candidato à vitória final, teve um estranho “desfalecimento” em prova, quase desistiu, e terminou com quase meia hora de diferença em relação ao primeiro… Perdeu ali a “Vuelta”, sem remissão. João Almeida também perdeu muito tempo apesar das recuperações que fez…
E a seguir ao mítico Tourmalet, a competição passou a um “jogo de cavalheiros” com os três primeiros classificados, todos da mesma equipa, a fazerem de conta que competiam entre eles mas a cooperarem de facto para darem a vitória final ao seu “gregário” (ajudante) Kuss como veio a acontecer. A equipa dos três primeiros, essa registou vitórias no “Giro” (Itália) no “Tour” (França) e na “Vuelta” (Espanha), um feito inédito na modalidade.
Reemco ainda se esforçou até ao final e mostrou toda a sua raça de combatente que reage às maiores adversidades pois entrou em meia dúzia de fugas, veio a ganhar etapas e foi o “Rei da Montanha” desta edição da prova. Levantou a cabeça, lutou e venceu como um campeão ferido no seu orgulho… Boa, Reemco !
Mas não fora o “jogo de cavalheiros” entre os três primeiros e teria sido ou Vingegaard – voto neste – ou Roglic a ganharem, apesar do grande mérito de Kuss.
Mas sim, esta “Vuelta – 2023” redundou numa “telenovela sobre duas rodas” em que o guião, a realização e a interpretação foram comandados pela equipa dos três primeiros classificados e seus principais componentes. Demasiada hegemonia…
E para o ano 2024, a “Vuelta”, já é sabido, vai iniciar em Lisboa o que terá maior cobertura mediática que toda a Volta a Portugal. Triste realidade esta nossa ! Até quando ?
Setembro de 2023
Autor: João Dinis, Jano
(“treinador” desde o sofá…mas convictamente !)