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1. Na minha vida desportiva tenho algumas histórias interessantes, que poderia contar e que dariam para escrever um livro. Hoje contarei uma que já se passou há trinta e cinco anos. Espero que a memória não me atraiçoe, para que esta seja contada no mais real possível.

Fora de Jogo

2. Teria dezassete anos, quando recebi um convite do António Gonçalves (Russo das Seixas) para jogar pelas Seixas, uma equipa composta por bons jogadores, contra o Travanca de Lagos. Para mim foi como tivesse sido convocado para jogar pela Selecção Nacional.

3. Num domingo lá nos deslocámos a Travanca para o grande desafio. O campo era relativamente pequeno e tinha um declive elevado de uma baliza para a outra. Penso que havia uma oliveira mesmo junto a uma linha lateral, que nos dificultava o jogo. Como o tempo passa e as coisas mudam…

4. Decorria a segunda parte do jogo de forma animada, com o marcador em vantagem para nós, quando tivemos um canto a nosso favor, na baliza do lado nascente. O Russo (António Gonçalves) que era um exímio marcador de livres e de cantos, encaminhou-se para a bola e bateu-a de trivela, entrando esta directamente na baliza. Que golo….

5. Qual é o nosso espanto que o árbitro, era o meu amigo Zé Pizorga, apita e manda repetir o canto. Protesta-se …há confusão, mas o árbitro mantém a sua decisão. Já não me recordo bem qual era a desculpa para anular o golo. Uma destas era: ou que ainda não tinha apitado quando a bola foi chutada ou que estava fora do quarto de círculo.

6. Recordo-me como se fosse hoje, o Russo pega na bola, encaminha-se para o local da marcação do canto e vira-se para o árbitro e diz-lhe: “não te adianta nada anulares o golo, porque vai ser golo novamente”.

7. O Russo faz uma carícia à bola, coloca-a no quarto de círculo, recua e remata novamente de trivela. Esta faz um pequeno arco e entra novamente na baliza. Vira-se para o árbitro e diz-lhe: “anula também este”. O Zé sorri e responde: “se calhar já não deveria ter anulado o outro”.

8. Não sei se foi inspiração divina, mas que isto aconteceu como eu relato aconteceu. Dois golos a papel químico mas só um valeu. No final do jogo beberam-se uns copos e a amizade entre as pessoas ficou, não ficando nenhum rancor pelo golo anulado.

9. E quem acredita que foi o Ricardo Quaresma que inventou aquela trivela, aquele efeito na bola com a parte posterior do pé que ele tão bem faz, engana-se. Quem inventou essa trivela não sei, mas sei que o Russo das Seixas já a fazia na década de setenta. Sei que marquei muitos golos de cabeça, com o Russo a colocar a bola no sítio certo para eu rematar.

10. Esta minha crónica é uma forma de homenagear o homem que foi um grande jogador de futebol no seu tempo e ao qual agradeço a paciência que por vezes teve em me aturar. Ele não sabe, mas como jogador foi meu ídolo.

José Carlos Alexandrino

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