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À Boleia Autor: André Duarte Feiteira

O que fazer pelo Turismo… Autor: André Duarte Feiteira

Se recuarmos à Antiguidade, podemos facilmente perceber que o Turismo está enraizado no ser humano desde as primeiras civilizações.

Se por um lado, na Grécia Antiga, se poderia adjectivar Turismo como o acto de diversão colectiva, pela prática desportiva (como foi exemplo a criação das Olimpíadas), cultura, religião e, principalmente, ao ócio. Por outro lado, é com a Revolução Industrial que o Turismo se potencializa e ganha o verdadeiro sentido de lazer.

A evolução da maquinaria permitiu uma consequente revolução nos transportes, e deu origem a um fenomenal encurtar de distâncias que permitiu viajar para outros Continentes. Para além disto, cedo se percebeu a grande potencialidade económica que estava agregada ao Turismo.

E, é por este último factor, sabendo da riqueza que o Turismo tem acarretado para o País e, sabendo dos índices de aproveitamento local, fui tentar perceber junto do conterrâneo e amigo, João Neves, Licenciado em Turismo, Mestre em Turismo de Interior e MBA em Turismo de Luxo, qual a sua opinião acerca do estado do Turismo a nível Concelhio.

Qual é, para ti, a principal função do Turismo a nível Concelhio?

Neste caso, relativamente ao Conselho de Oliveira, na minha opinião, deveria existir uma dinamização do espaço rural. Creio que a principal função do turismo seria permitir um contacto mais directo com a natureza, preservar práticas agrícolas tradicionais com vista à passagem de valores de geração em geração e, como é óbvio, fomentar um crescimento económico e social. Também deveria haver uma maior dinamização em espaços que se encontram em degradação ou simplesmente não são aproveitados, actualmente, como deveriam ser. Isto, tendo em vista também, a promoção dos recursos existentes no conselho.

Para que se possa esclarecer os leitores, quais os caminhos a seguir para um maior desenvolvimento Turístico na nossa região?

Em primeiro lugar, acho que Oliveira do Hospital está a começar a casa pelo telhado, isto é, nos últimos anos tenta trabalhar os recursos e os produtos turísticos, sem trabalhar as infra-estruturas básicas para poder receber os visitantes.

As acessibilidades/acessos são outra alavanca essencial para o desenvolvimento do Turismo, tanto a nível rodoviário (que infelizmente está em muito mau estado), como a nível das acessibilidades para cidadãos portadores de deficiências, já que, em todas as Praias Fluviais do Concelho, é inexistente o equipamento para portadores de deficiências (como é o caso da cadeira anfíbia), assim como, há rampas para deficientes motores que o grau de inclinação é extremamente excessivo. Todos estes elementos são factores condicionantes para o desenvolvimento do Turismo.

Outra questão, a qual me apercebi no ano passado, enquanto fazia uma pesquisa para um trabalho, foi o facto de reparar que a informação no Posto de Turismo se encontra desactualizada ou em muitas áreas é praticamente inexistente, como é o caso da gastronomia e dos vinhos locais. Foi também no Posto de Turismo que vivi um episódio caricato, reparei numa brochura turística que deveria promover o nosso concelho, até foi apresentada na Volta a Portugal em bicicleta…quando pedi um exemplar, disseram-me que era único e que era apenas para consulta no Posto de Turismo! Portanto, isto reflecte sem dúvida uma escassez de informação turística.

Não me referindo só a nível físico, também me refiro a nível virtual, mais concretamente ao website da Câmara Municipal, encontra-se com muitas informações desactualizadas relativamente ao sector turístico do Concelho.

Há sem dúvida um longo caminho a percorrer e muitas mudanças terão que ser realizadas para que se possa, de facto, apelidar de “Turismo” ao que se faz no nosso Concelho.

A EXPOH, foi um factor impulsionador e atractivo para Oliveira do Hospital?

A EXPOH é sem dúvida um factor atractivo e impulsionador, disso não tenho dúvidas, mas será que nos moldes em que está a ser feita é a maneira mais acertada para a sua realização? Bem, sem dúvida, e na minha opinião, é possível fazer bem mais com muito menos.

Em primeiro lugar, é necessário elaborar um bom plano de marketing, com tudo o que este implica, de seguida, é necessário elaborar a percentagem total do orçamento para publicidade e, discordo, desde já, com a publicidade através do chamamento de canais televisivos para o evento, seria muito mais lógico e rentável o sentido inverso, promover o evento ou o cartaz no próprio canal, não estou a par dos valores que isso implica, mas certamente serão menores do que chamar 2 canais televisivos durante uma tarde. Optaria por uma publicidade física por todo o concelho e arredores, como por exemplo, em Oliveira do Hospital havia um cartaz da Expofacic às portas da cidade, há certos eventos e certas políticas que temos de tomar como exemplo!

Outro assunto, e algo que considero inexplicável, é o aluguer das tendas para a sua realização. Nesta edição, houve um gasto de 24mil euros com esse aluguer, se multiplicarmos por 5 (número de edições) dá uma simpática quantia de 120mil euros, não seria mais lucrativo adquirir as tendas ou mesmo optar pela sua construção?!pelo menos seria uma não despesa a longo prazo, assim sendo, é uma despesa negligente, fixa e continua para todos nós.

Acho que é necessário mudar as políticas de trabalho, acompanhar as novas tendências, não só musicais como também as tecnológicas e, dou como exemplo, a realização de um trabalho de Video Mapping por toda a feira, não só podendo ser utilizado para promoção e divulgação turística do Concelho, como também, para trabalho de imagem dos artistas musicais.

Quais seriam as principais alterações que farias a nível da gestão turística Municipal?

Sinceramente, acho que toda a gestão turística Municipal necessita de alterações, a começar pelas ideologias televisivas, como é exemplo a Volta a Portugal e todos os custos que isso acarreta, as duas últimas, somadas, deverão rondar os 150 mil euros de gastos, todo este dinheiro por uma actividade momentânea.

Em primeiro lugar, a elaboração da Volta a Portugal foi mal concebida, porque pelo que concluí, muitos dos visitantes que passaram pelo Concelho, pouco ou nada contribuíram para a economia local. Numa forma de correcção a algumas afirmações efectuadas durante a transmissão, em que foi referido que a Volta a Portugal atraiu turistas ao concelho, diria que a definição de turista inclui a dormida e a estadia no concelho por mais de 24h, caso contrário, classificaria de visitantes e não de turistas…mesmo a maioria dos participantes da prova estiveram menos de 24h no concelho.

Acho que este tipo de actividades não trazem mais-valias ao nosso concelho em relação ao turismo, até porque, se cada um pensar para si, gostaria de saber que cidades visitaram por causa do cicloturismo lá ter passado!

Algo que, sinceramente também não tenho conseguido compreender, é a integração de Oliveira do Hospital (cidade) na Rota das Aldeias do Xisto, não vejo o relacionamento que Oliveira do Hospital pode ter com o xisto! As coisas têm uma essência ao ser feitas, compreendo o conceito ou o objectivo, mas xisto em Oliveira do Hospital, Avô, Aldeia das Dez, expliquem me como é a criação dos Caminhos do Xisto nestas áreas, peço desculpa, mas é o mesmo que fazer uma omelete sem ovos.

Temos muito mais recursos que poderíamos aproveitar e que não aproveitamos, e vamos buscar ideias preconcebidas para utilizar no Concelho? Assim nunca iremos a lado nenhum! Temos um variadíssimo património, mas o inacreditável, é que a notícia que mais andou à baila sobre o nosso Concelho, foi o atentado ao património, aquando do lamentável restauro realizado às figuras da Última Ceia da Capela do Santuário de Nossa Senhora das Preces, em Vale de Maceira, figuras do século XIX negligentemente destruídas, ou será que foi propositado? Foi uma óptima estratégia de marketing com vista à promoção de Vale de Maceira?!

Outra questão é a denominação dada à Catraia de São Paio como a capital do cobre, é mesmo, ou simplesmente atribuíram um título à região? Ultimamente não tenho visto nenhuma dinamização, e sei que já houve vários projectos nesse sentido, não sei o porquê do não aproveitamento.

E é, também uma pena, que em Oliveira do Hospital dêem mais importância ao desporto do que ao turismo, pois acho que nem vale a pena fazer a comparação económica de ambos!

Caso te fosse dada total liberdade de recursos e meios, quais seriam os projectos, que acreditas serem os mais adequados para o nosso crescimento turístico e consequente crescimento económico?

É necessário criar e promover, produtos e áreas, que façam os turistas deslocar-se a Oliveira do Hospital, sabendo que somos um local de passagem, temos de criar novas estratégias e alternativas, em que sugiro por exemplo, a criação de pacotes turísticos, caso contrário somos meros pontos de passagem.

O futuro é o turismo em família, actividades para os pais e para os filhos, o chamado turismo educacional. Durante o dia há actividades para ambos, do género, actividades de cultivo, sensibilização para determinadas matérias (por exemplo separação do lixo) e actividades desportivas em contacto com a natureza. À noite, enquanto os menores descansam, existem actividades musicais, culturais e prolongação da noite através de todo o tipo de actividades festivas, para os mais velhos.

Sou também um fervoroso apoiante da construção do Parque de Campismo em Oliveira do Hospital, é um autêntico cartão-de-visita.

O cinema está desacreditado, a demora da estreia dos filmes e o aumento das visualizações através da Internet, fazem com que a passagem para a aposta no teatro ou na música seja muito mais assertiva.

Por que não criar um mini Parque Aquático nos nossos rios? Faria com que dezenas de pessoas se deslocassem até lá e seria um evento pioneiro na região.

Somos bons na produção do queijo e dos licores, então por que não aproveitá-los para fazer algo icónico? Reparem no que Óbidos, que tem muito menos habitantes, fez com o chocolate!

É necessário criar pacotes a nível municipal, tomando por exemplo, Rotas Equestres, BTT e TT, fundidas com os rios, com as aldeias e produtos regionais, para uma integração e envolvência com a população, o que origina uma grande hospitalidade, sendo o nosso cartão-de-visita e factor publicitário para o exterior.

É necessário focalizar e direccionar os nossos pacotes turísticos, para que, de facto, quem os aprecia ou necessita, tomo por exemplo, não se vende neve na Suécia nem na Noruega mas, talvez, em África, como nunca viram neve, até a comprem!

E é esta a base, acessos, informação e alojamento de qualidade, aliados a um espírito pro activo e inovador, para que haja um forte desenvolvimento do turismo local.

Queria agradecer ao João Neves pela disponibilidade e pelo excelente contributo prestado, para que, se perceba onde se pode melhorar, as falhas e as possíveis alternativas para o sector turístico local.

A mim, quer-me parecer, que o turismo também não vai lá com varinhas mágicas!

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