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“Isto é uma cidade, mas está tudo a fugir para as vilas. Acho que Oliveira do Hospital devia era ser despromovida”. A frase foi-me proferida numa das ...

Conversas

… muitas conversas informais que mantenho com munícipes anónimos. Registei-a num bloco, sobretudo, porque me preocupou o semblante preocupado com que aquele jovem munícipe me interpelou. Por instantes, confesso que quase me fez sentir culpado pelo que está e ainda estará para acontecer.

– “Você vai a Arganil, a Tábua e a Seia, estão a aparecer novas empresas. Aqui, só se vêem é coisas a fechar, não abre nada”, continuou o meu interlocutor, numa breve troca de palavras tida precisamente no dia em que o encerramento de mais uma fábrica de confecções lançou cerca de 60 trabalhadores no desemprego.

Juro que o diálogo – logo nos primeiros dias do ano – já me estava a deprimir. – “Então agora até o destacamento da GNR vai para Arganil?, continuou o desencantado munícipe. – “Bem, eu também já não entendo nada disto… se não se importa vou jantar”, respondi-lhe em tom de despedida e com uma enorme falta de ânimo que repentinamente tomou conta de mim.

Quando entrei no carro, dei comigo a meditar naquela lamúria sincera e apartidária. Passei ao lado das obras do parque subterrâneo que estão a construir no largo Ribeiro do Amaral e deu-me uma tontura. Se calhar estava a pensar no espaço claustrofóbico que ali vai ficar enterrado… não sei! Se calhar sofro dessa fobia…

Cheguei finalmente a casa, acendi o lume e a energia da minha filha Francisca fez-me melhor do que um qualquer Prozac. A criança foi-se deitar e – como quase sempre faço – aproveitei para dar uma vista de olhos nalgumas páginas provisórias do Correio da Beira Serra que hoje foram impressas na rotativa de Oliveira de Azeméis.

Numa altura em que estamos à beira da recessão, o desemprego vitima milhares de famílias, e na Faixa de Gaza continuam a morrer muitos inocentes, li o artigo de João Dinis sobre os “Truques” da comunicação social local (consulte aqui o artigo). Sorri por causa da estranha forma como este autarca da CDU ocupa o seu espaço na imprensa.

Esperariam muitos leitores que permitisse que o meu pensamento se desgovernasse por causa de uma prosa, onde um colunista residente – quiçá inspirado em Manuela Ferreira Leite –, se insurge contra a linha editorial dos jornais e quase chega ao ponto de sugerir quais os conteúdos noticiosos que devem ser seleccionados para chegarem aos leitores.

Não, não vale a pena. Pois, como diria Voltaire, “discordo daquilo que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de o dizeres”. Porém, estou mais apreensivo com a conversa do jovem munícipe…

Henrique Barreto

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