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António Guilherme, uma vida marcada por um conjunto de tragédias…

Percorre as ruas de Oliveira do Hospital com uma cadeira de rodas com motor. Na cabeça um boné dos Bombeiros Voluntários daquela cidade. “São a minha família. Fui, sou e sempre serei bombeiro. Ninguém me pode tirar isso. Sou bombeiro de segunda”, conta António Guilherme, 59 anos, sem conseguir disfarçar uma enorme tristeza e amargura por uma série de tragédias que marcaram de forma indelével a sua vida.  Uma das quais há 28 anos, quando, aos 31 anos, um acidente com uma viatura dos bombeiros que seguia para um incêndio, o atirou para uma cadeira de rodas e ceifou a vida do jovem António Ramiro, um bombeiro com apenas 16 anos. Foi um dos dois acidentes que marcaram aquela corporação de bombeiros.

“Houve outro onze meses depois que também matou outro bombeiro. Também um jovem com 16 anos. Foram precisos estes acidentes para os carros dos bombeiros passarem a ser de cabine dupla”, conta António Guilherme que antes do acidente que o confinou à cadeira de rodas viu a mãe morrer também de forma trágica. “Cortei um eucalipto que, ao cair, apanhou a minha mãezinha e matou-a instantaneamente”, conta sem conseguir evitar algumas lágrimas.

“A vida tem destas coisas. Temos de aprender a viver com elas”, conta, relembrando novamente o acidente de 20 de Setembro. “É um daqueles dias que jamais poderei esquecer. Recordo-me de ter rebentado o pneu do lado direito. O carro tombou e eu fui projectado uns 20 metros. O Mirito tinha 16 anos e morreu. Não é justo. Ele morreu e os incendiários andam aí à vontade e ninguém lhes faz nada”, lamenta. “Eu fui transportado para Coimbra e depois para um centro de recuperação do Alcoitão. Não tinha qualquer reacção. Nem sequer falava. Hoje graças a Deus consigo falar e houve outros colegas que, embora sem a mesma, gravidade ainda hoje sofrem com mazelas que apanharam naquele acidente”, frisa.

Apesar de todas as tragédias, António Guilherme encontrou um objectivo de vida. Continua a servir a corporação “dentro das suas possibilidades”. “Promovo eventos para angariar receitas para a corporação. Como provas de perícia automóvel”, conta revelando que actualmente tem em mãos um projecto ambicioso. Quer juntar 68 mil euros para comprar uma ambulância nova para a corporação. “Já realizei dois eventos e vou promover um terceiro, um grande baile em Oliveira do Hospital no próximo dia 5 de Novembro. Começa às 15 horas e vai até à 1 hora da manhã. Tem 19 artistas ou grupos, de vários pontos do país, que se ofereceram para actuar gratuitamente”, diz exibindo orgulhosamente o cartaz do evento. “Faço o que posso e dentro dos bombeiros sou espeitado por todos e também respeito todos os colegas. São a minha família”, enfatiza. “Após o acidente e nunca me deixaram faltar nada. Os bombeiros tomaram literalmente conta de mim”.

A paixão pelos bombeiros mantém-se intacta desde que começou a dar os passos dento da corporação com 16 anos. “Não poderia passar sem aquela camaradagem. Vou fazendo o que posso”, explica, confessando que o momento mais duro é quando houve tocar a sirene. “Sinto uma dor enorme. Choro, mordo-me, por não poder ajudar mais”, conta, sublinhando que a vida agora está mais complicada para quem tem por actividade combater incêndios. “Há 28 anos estava tudo limpo. Os campos cultivados. Agora está tudo abandonado. E ninguém toma conta dos terrenos. E o Estado é o pior. Não limpa aquilo que lhe pertence”, acusa.

O acidente de há 28 anos…

Uma data que António Guilherme não irá esquecer. Corria o dia 20 de Setembro do ano de 1994 dia 20 de Setembro. Há vinte e oito anos. Um dia que ficou marcado de forma indelével na história dos Bombeiros Voluntários de Oliveira do Hospital. Pelas piores razões. Devido a um dos acidentes mais trágicos da corporação. Tudo aconteceu a meio da tarde quando uma viatura se dirigia para um incêndio na aldeia de Seixas da Beira, com nove operacionais e três mil litros de água, quando se despistou junto à ponte do rio Cobral. Um dos elementos, António Ramiro, de 16 anos, de Fiais da Beira, não resistiu aos ferimentos. Foi helitransportado para Coimbra, mas acabou por falecer. Quatro dos seus companheiros ficaram feridos com gravidade. Alguns com marcas para o resto da vida, como António Guilherme que ficou confinado a uma cadeira de rodas. Um dia negro, apesar de quatro bombeiros terem escapado praticamente ilesos.

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