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Bobadela é importante pólo de atração turística, mas tem “situação gritante” por resolver

O presidente da Junta de Freguesia, Fernando Duarte, reconhece o “grande desenvolvimento” decorrente da requalificação do centro histórico ocorrida no mandato anterior, mas alerta para uma “situação gritante” e pouco tolerável às portas da cidade e em pleno século XXI. Na Quinta das Tapadas, os habitantes continuam sem direito ao abastecimento de água e saneamento básico.

Correio da Beira Serra – A população da Bobadela decidiu, em 2009, reconduzi-lo na presidência da Junta de Freguesia. Passado meio mandato que balanço faz do trabalho realizado?
Fernando Duarte –
Posso considerar que o balanço é positivo, ainda que com diferenças relativamente ao mandato anterior. Naturalmente que os mandatos não são todos iguais. Este mandato está um pouco marcado pela contingência nacional, mundial e também local. Temos vindo a dar consistência ao trabalho que foi feito no primeiro mandato. Sabemos que este mandato não é de obras grandes e temos consciência que há mandatos de maiores obras e, outros em que é preciso consolidar a pequena obra, que também é importante para a freguesia. A nossa aposta tem sido de tornar a freguesia bonita e arranjar passeios. Acho que o balanço é positivo.

CBS- Desde que tomou posse na Junta de Freguesia, Bobadela foi palco de melhorias notáveis ao nível do seu património histórico. Como é que encara essa evolução?
FD –
De facto, a freguesia da Bobadela foi objeto de um grande desenvolvimento, fruto também do trabalho de outras juntas anteriores e de pessoas que sempre tudo fizeram para que nesta freguesia se avançasse para a desejada requalificação do fórum romano, do anfiteatro e Centro de Interpretação das Ruínas Romanas. Sinto-me feliz e lisonjeado por tudo isso ter acontecido no meu mandato, mas é uma obra de todo um conjunto de pessoas que tudo fez para que, de facto, a freguesia tivesse este desenvolvimento ao longos destes anos.

CBS – Um dos seus objetivos sempre foi o de transformar a freguesia no centro nevrálgico do concelho. Acha que já conseguiu atingir essa meta?
FD –
Todas as freguesias do concelho têm o seu potencial, cada uma à sua maneira. A Bobadela, devido ao seu legado histórico tem a sua carga simbólica. Dentro do possível, temos tentado divulgar o património, até ao nível de escolas com a realização de aulas no anfiteatro. Já passaram por aqui algumas escolas do concelho e também de Aveiro. A grande aposta, na minha opinião, terá sempre que passar pelo turismo sénior, INATEL e outro turismo organizado. Também têm passado por aqui vários grupos de pessoas, quer em atividades pedestres, motards e até de cicloturismo. Nós nunca ficamos satisfeitos e queremos sempre mais, mas dentro do que são as nossas possibilidades temos tentado divulgar.

CBS – Bobadela já faz parte dos roteiros turísticos nacionais?
FD – Penso que a freguesia já é mais conhecida para os lados de Coimbra, Lisboa e Porto. Temos também encetado contactos com representantes da UNESCO que também têm visitado a Bobadela com excursões. A Feira do Queijo também trouxe muitos visitantes. Na última feira tivémos cá imensos autocarros, o que foi extraordinário, porque cada pessoa que passa aqui, transmite a mensagem a outros.

CBS – A freguesia tem condições para receber os turistas?
FD
– Aí temos lacunas. Precisávamos de um bom café. Temos uma casa de turismo de habitação, mas que tem poucos quartos, mas tem servido dentro do que é possível. Precisávamos de um bom restaurante e uma boa unidade que desse algum suporte. Temos cá cafés que dão resposta à população local, mas que terão maior dificuldade quando chega um ou dois autocarros. O município adquiriu esta casa contígua ao Museu Dr. António Simões Saraiva e a ideia é ali desenvolver um ponto para acolher os turistas que nos visitam. Há intenções de requalificar primeiro o imóvel e depois a ideia é ceder a exploração. O problema da falta de sanitários já foi ultrapassado. Criaram-se nas traseiras no museu. É uma ambição que foi concretizada. Por esta altura o número de visitantes aumenta. Para isso, também tem contribuído a divulgação feita pelo arqueólogo do que se tem feito aqui, nomeadamente ao nível dos achados arqueológicos e também do programa das férias arqueológicas.

“Sabemos que não há fartura de dinheiro para investimento”

CBS – O Centro de Interpretação das Ruínas Romanas da Bobadela é que continua de portas fechadas e, ainda sem ser estreado, já tem apresentado sinais de degradação. Como é que espera ultrapassar este impasse?
FD –
O centro de interpretação é um edifício essencial para a divulgação da história e património da freguesia. Na altura da requalificação houve problemas. Temos humidades ascendentes, condensações… Os materiais colocados são de boa qualidade, mas o espaço é pouco ventilado. Na altura ainda alertei os técnicos responsáveis, mas disseram-me que passando um ou dois verões o espaço ficaria bem e sem humidades. Mas eu já sabia que não, porque habito próximo do espaço e já sei o que também aconteceu com o piso da minha casa. Isto é uma zona em que as águas não escoam no solo. Tentei alertar, mas os técnicos decidiram assim. O que é facto, é que o chão levantou todo, o que é uma pena, e dói-me o coração por ver aquele edifício como está e, ainda sem sequer ter sido inaugurado. O chão vai ter que ser todo mudado e tem que se criar um sistema de acondicionamento de temperatura.

Neste momento, juntamente com o município, já foram encetadas diligências e já cá vieram técnicos do IGESPAR, mas infelizmente vai tudo bater à parte financeira. Sabemos que não há fartura de dinheiro para investimento. Mas tudo está a ser feito para que se arranje dinheiro e o espaço possa ser inaugurado. Tem que ser feita a musealização, mas antes tem que se fazer requalificação. Temos peças espalhadas por vários museus e outras que o próprio arqueólogo já dispõe e a musealização aqui seria uma mais valia. O problema essencial é falta de dinheiro. Uma sala do espaço está a ser utilizada pelo arqueológo e é uma forma de dar alguma vida ao edifício.

CBS – O concelho tem sabido aproveitar o potencial turístico da Bobadela? A programação cultural do concelho não deveria passar mais por este local, onde existem palcos privilegiados?
FD –
Na verdade nós nunca estamos satisfeitos. Mas ao longo dos anos tem-se notado uma evolução na divulgação e na vinda de visitantes. No último ano, a Junta organizou em parceria com o município um conjunto de iniciativas. Este ano, estamos a fazer um protocolo para continuar, mas a parte financeira é que acaba por condicionar. Contudo, sou apologista de mais qualidade do que quantidade. Devido à carga histórica da freguesia, os eventos devem ser devidamente pensados.

CBS – Ainda no anterior mandato a grande estreia do anfiteatro aconteceu com a realização de um desfile de moda com figuras nacionais. Não acha que aquele espaço merece que, pelo menos uma vez no ano, seja palco de um grande evento que coloque a Bobadela no calendário dos grandes eventos?
FD –
O desfile de moda com a Merche Romero e o Afonso Vilela foi fantástico. Foi um evento que deu muito trabalho, mas é claro que gostaríamos de todos os anos ter um evento semelhante. Qualquer freguesia gostaria e fazia muito bem à Bobadela.

CBS – Falou-se em tempos na possibilidade de criação de uma ciclovia que ligaria Oliveira do Hospital à Bobadela. Seria uma mais valia?
FD
– Eu estou sempre recetivo. Venha a ciclovia. Seria fantástico quer para os bobadelenses, quer para os habitantes da cidade. O intercâmbio era ótimo. Isto foi falado, mas com muita pena minha, até à data não há nada em concreto.

CBS – Bobadela beneficia da proximidade com a sede de concelho. Como avalia as condições de vida de quem vive na freguesia?
FD
– Posso considerar que se vive bem na freguesia. As pessoas não são muito abastadas, mas sabem gerir os seus orçamentos. A freguesia é por norma sossegada, ainda que estejamos sempre atentos a aspetos de conturbação exterior que passem pela freguesia. Uma das minhas preocupações é o património e vamos fechando o anfiteatro para prevenir algum vandalismo. Também temos capelas em pontos distantes e temos ações concertadas com a GNR, o que é bom. Estamos sempre preocupados em zelar pelo nosso legado. A nível de infraestruturas nunca estamos satisfeitos e queremos sempre mais. No centro da freguesia penso que está bem, ainda que em algumas franjas da freguesia surjam alguns casos de pobreza que vamos sinalizando junto do departamento técnico do município. Temos acompanhado algumas situações também relacionadas com o álcool e estado atentos a estas situações que também se agravam com o desemprego. Há períodos mais graves do que outros e depende da realidade de cada família, que pode ou não ter capacidade para enfrentar e ultrapassar os problemas.

“Já há mais de 28 anos que andamos a prometer água e saneamento à Quinta das Tapadas”

CBS – Em matéria de saneamento básico qual é o ponto da situação? A Quinta das Tapadas continua sem água ao domicílio e saneamento básico…
FD –
No centro da freguesia temos saneamento básico. Mas não temos nas franjas da freguesia. Na parte exterior da freguesia, temos zonas sem saneamento e água ao domicílio, como é caso da Quinta das Tapadas. Esta é uma situação gritante que tem vindo a ser protelada ao longo dos anos e dos mandatos. Há um estudo feito pelo município e penso que a Quinta das Tapadas, pelo menos é a promessa que eu tenho do executivo, deverá ter água e saneamento básico ainda no decorrer deste mandato.

Acho que já nenhuma cor, nem partido politico terá coragem de colocar isto nos seus programas eleitorais, porque já há mais de 28 anos que andamos a prometer água e saneamento à Quinta das Tapadas. É um aglomerado populacional significativo. Estamos a falar de 20 ou 30 habitações novas onde habitam jovens casais. Cada habitação tem o seu próprio furo ou poço e fossa. As águas acabam por se contaminar. Este é o problema maior da freguesia. Depois temos também a rua do campo de futebol, onde temos água até determinado ponto e depois não temos água, nem esgotos. Também na rua do Pinheiro dos Abraços não há esgotos. E entre a saída da Bobadela em direção a Nogueira do Cravo, até à Quinta do Jardim faltam esgotos e água numa parte. São promessas antigas. Esta continua a ser a nossa principal prioridade. Penso que é essencial e a base para se poder crescer.

CBS – No centro da freguesia não existem estes problemas…
FD –
Não e já há muitos anos que é assim. Normalmente estas obras têm em conta o número de habitantes e quando há estas franjas populacionais, o factor económico acaba por pesar, porque acaba por não compensar para quem faz o investimento. Infelizmente vai tudo bater à parte económica, mas devíamos pensar nas pessoas. Isto foi ficando ao longo dos anos. Mas toda a gente tem o direito de ter água e esgoto, porque aqueles habitantes também fazem parte da freguesia. Sou muitas vezes abordado. Sei que o estudo está feito e está-se a ver do sítio onde vai ficar a estação elevatória. Temo-nos batido para a execução. Acredito que o executivo municipal vai fazer esta obra na Quinta das Tapadas e eu também não o vou deixar esquecer.

CBS – O desemprego também tem feito baixas por aqui? A freguesia consegue assegurar postos de trabalho?
FD
– Há a constatação de algumas pessoas desempregadas, mas mesmo assim não será das freguesias piores. Dentro da construção civil e pequenos negócios a freguesia vai dando alguns postos de trabalho, mas o grosso do emprego está em Oliveira do Hospital. O Centro Paroquial também assegura alguns postos de trabalho.

CBS – A freguesia parece escapar à anunciada extinção de freguesias e tem uma população próxima das oito centenas. Ainda assim como é que olha para este processo de extinção e fusão de freguesias?
FD
– Felizmente temos tido alguma expansão. Há famílias a fixarem-se e crianças a nascer. Temos muitos jovens e no Natal até fazemos uma festa de Natal. É uma alegria ver gente nova por aqui. Temos 25 crianças a frequentar o pré-escolar e 35 alunos na nossa escola do 1º Ciclo de Ensino Básico. Os critérios do governo para a extinção não são explícitos. E segundo os últimos parâmetros, qualquer freguesia pode entrar no grupo das que vão ser extintas. Esta lei é uma aberração. Acho que é dos maiores atentados que estão a fazer às freguesias, principalmente às do interior, onde as juntas são o principal porto de ancoragem. Agora não sei qual o critério que vai ser aplicado e, por isso, não tenho garantia nenhuma de que a Bobadela escape à extinção. Já participei em várias reuniões e o que resulta é a indefinição. Os critérios não são específicos. Ninguém sabe. A minha única certeza é de que sou completamente contra a extinção e fusão da freguesia da Bobadela ou de qualquer outra freguesia do concelho.

“Se não fosse o dinheiro que a Câmara colocou à disposição das freguesias, posso dizer que de facto não havia obras”

CBS – Foi eleito pelo PSD e não partilha, por isso, as cores do executivo municipal. Como é que são as relações entre a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal?
FD –
Têm sido muito boas. Só tenho a dizer bem das pessoas que compõem o executivo. Tem tido uma postura de frontalidade e também eu sou assim. A minha postura é a mesma que sempre tive para com o anterior executivo. Digo o que tenho a dizer às pessoas. Com muito teatro, às vezes, acabamos todos por perder. Tenho obtido resposta aos problemas que coloco. Falamos, explico o meu ponto de vista. Sei que o município passa por dificuldades económicas, tal como as juntas de freguesia onde se têm acentuado os cortes no FEF. Se não fosse o dinheiro que a Câmara colocou à disposição das freguesias, posso dizer que de facto não havia obras, porque com os preços dos combustíveis a subir, não tínhamos capacidade de fazer a própria manutenção da freguesia. Tentamos fazer o máximo e melhor dentro das condições que temos. Cada freguesia tem as suas necessidades e temos que respeitar aquilo que o município faz por cada uma. De facto constato que, e de acordo até com os números que vêm no boletim, a minha freguesia tem beneficiado de pouco investimento. Mas também não é por isso que eu vou apontar o dedo ao município. Temos que saber compreender a situação e ser solidários.

Não posso deixar de referir o apoio que tem sido dado pelo gabinete das freguesias. O professor Daniel Costa tem tido um papel fundamental e tem sido um interlocutor fantástico na abordagem ao primeiro problema. Gosto da relação de abertura e de logo se disponibilizar para se deslocar ao local.

CBS – 2013 é ano de novas eleições autárquicas. Pondera uma recandidatura à presidência da Junta de Freguesia da Bobadela?
FD –
Neste momento vivo um dia de cada vez. Neste final de ano algumas decisões terão que ser tomadas, nomeadamente ao nível da extinção de freguesias e não me valerá muito prever cenários, porque no fundo não sabemos o que vai acontecer. Também não estou muito preocupado em já saber se vou ou não ser candidato. Nestes últimos oito anos aprendi muito, aprendi com colegas de outras juntas e com a própria população. Eu vim para servir as pessoas e quem me conhece sabe que não gosto de grandes protagonismos. Ainda nem equacionei. Neste momento não sei, tomarei uma posição até ao final do ano. Gosto de desafios, mas vejo o país a caminhar para algum desgosto e fico triste com esta situação.

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