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Como ainda se vive…

“Como ainda se vive…” é o comentário que, no imediato, apraz fazer a quem se vê surpreendido por um cenário degradante e do qual fazem parte três pessoas, dois dos quais idosos, com dificuldades de locomoção e por, isso, com necessidades de apoio diário.

Uma realidade que dista poucos quilómetros daquele que é o dia a dia normal de qualquer cidadão e que encontra em casa o porto de abrigo.

Acontece na Quinta do Vespeiro, em Santo António do Alva, na freguesia de Penalva de Alva, onde uma pequena habitação, com as paredes exteriores ainda em tijolo, serve de abrigo ao casal de idosos que, fortemente afetados pelos problemas de saúde próprios da idade e de uma vida de trabalho no campo, convivem diariamente com a falta de condições físicas da habitação e também de higiene. Ao início da tarde, depois da hora de almoço, ainda são visíveis no interior da cozinha as movimentações da refeição que ali foi, dificilmente, preparada e tomada.

O fumo denso da lareira dificulta a perceção total das condições daquela divisão da casa, onde abundam os cântaros azuis que o filho do casal usa para dotar a casa de água. “O meu filho vai todos os dias buscar a água no atreladito ali a um poço do nosso vizinho que está no Porto”, começa a contar Lurdes Alves que, com 79 anos de idade, deita a mão à torneira da cozinha, mas não vê correr uma gota.

“Não temos água canalizada e a mina que trazia água para as casas também secou”, continuou a idosa que, por aquele facto também não pode usar a máquina de lavar a roupa que se encontra em verdadeiro estado de abandono. “A minha filha, coitada, também vive com dificuldades no Mosteiro, em S. Gião, e é ela que vem cá de vez em quando para nos lavar a roupa à mão”, revelou, contando que a filha se desloca de Táxi até à Quinta do Vespeiro. “Umas vezes paga ela, outras vezes pago eu,”, refere.

O estado de abandono da casa onde Lurdes habita com o marido António, 72 anos, e o filho Pedro, 40 anos, é chocante. Roupas, calçado e medicamentos amontoam-se um pouco por toda a parte e o mau cheiro chega a provocar náuseas. As velhas cortinas substituem as portas de acesso aos três quartos e à insalubre casa de banho. Tudo é escuro e muito sujo. O fumo pintou as lâmpadas de preto e a humidade encarregou-se de tornar negras as velhas paredes. “Não chove cá dentro, mas isto é muito frio”, queixa-se a idosa, consciente de que por fruto da idade e dos problemas de saúde se tem descuidado na higiene e organização da casa.

Um cenário deprimente que é logo percetível no exterior da casa, onde abunda o lixo e a desorganização no espaço reservado para arrumações.

“Precisam de ajuda?” – “se precisamos”, refere com humildade Lurdes Alves, contando que o dinheiro que, com o marido, recebe de reforma, não chega para fazer obras na casa. “O meu filho trabalha nas obras, mas ganha pouco e o que recebe é para ajudar com as despesas”, continua, lamentando-se do dinheiro que todos os meses gastam em medicamentos. O marido, António Alves, está a recuperar de um AVC e Lurdes Alves conta ter sido submetida a cirurgia à barriga e a uma anca que a deixaram muito debilitada, para além dos problemas de bronquite.

Fome garante a mulher que não passam, mas faltam condições de vida. “Tiro pão fresco todos os dias, também vou de táxi às compras às Caldas de S. Paulo e com as batatitas que ainda vamos cultivando, vamos passando bem”, refere a mulher que dedicou toda uma vida ao trabalho árduo da agricultura que já começou a abandonar devido à idade e problemas de saúde. “Fica tudo de relva”, lamenta, contando porém que o filho ainda vai fazendo alguns trabalhos, mas poucos porque “não se pode desempregar para ficar a cultivar as terras”.

Aos 79 anos, Lurdes Alves tem perfeita consciência do estado em que vive com o marido e o filho. Uma situação que, como refere, é também resultado do abandono a que a Quinta do Vespereiro foi votado nos últimos anos. Uma situação que agora acredita venha a mudar com o novo presidente da Junta de Freguesia de Penalva de Alva que “prometeu trazer a água e vai cumprir”. “É um homem de linha e vai cumprir o dever dele”, diz confiante a mulher que garante já ter pedido auxílio à Câmara Municipal, mas que lhe foi negado pelo facto de o filho ter rendimentos considerados suficientes para realizar as benfeitorizas necessárias na habitação.

Câmara Municipal prepara solução

Um facto que o correiodabeiraserra.com confirmou junto do vice-presidente da Câmara Municipal, segundo o qual, o casal em questão ficou excluído do Programa de Conforto Habitacional para Idosos – terminou a 31 de dezembro de 2012 – por ainda contar no seu agregado com o filho, que não é menor e que aufere ordenado fixo.

José Francisco Rolo, garantiu porém que o caso de Lurdes, António e Pedro Alves está sob o olhar atento do gabinete de Ação Social e Saúde da Câmara Municipal, sendo uma das famílias que vai beneficiar da ação da “brigada” recentemente criada pela autarquia para dar resposta aos casos não abrangidos por aquele programa da Segurança Social.

“Estamos a acionar uma resposta alternativa”, referiu o também vereador da Ação Social, informando que já está marcada para amanhã, quinta feira, uma reunião com aquele casal de septuagenários e mais quatro famílias que já foram sinalizadas para que se proceda a intervenções nas habitações, no sentido de as dotar de “condições de higiene e salubridade”.

O processo está a ser acompanhado”, assegura José Francisco Rolo, dando conta da preocupação do município e do grupo de trabalho agora criado para com os casos de “idosos abandonados e famílias carenciadas com dependentes a seu cargo, em especial crianças e deficientes” .

No âmbito do Programa de Conforto Habitacional para Idosos – o protocolo foi assinado entre a Câmara e o anterior governo em maio de 2011 – foram reabilitadas 15 habitações de idosos no concelho de Oliveira do Hospital. A segurança Social comparticipou em 3.500 Euros os trabalhos de cada habitação, sendo o restante suportado pelo orçamento municipal.

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