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“Hoje não tenho as mesmas condições que tinha no passado”

 

…a lutar por financiamento comunitário necessário para a construção das novas instalações da ESTGOH e para que o IC6 ainda venha a servir o concelho durante o presente mandato. No exercício da primeira metade do seu mandato autárquico, o presidente da Câmara  equaciona fazer da EXPOH um “mundo de negócio e de comercialização” e opõe-se à “extinção pura e nua” das freguesias.

 

Correiodabeiraserra.com (cbs.com) – Exerce o segundo ano à frente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital (CMOH), que balanço faz do trabalho realizado?
José Carlos Alexandrino (JCA) –
Ainda não completei dois anos à frente da Câmara Municipal. Acho que o balanço é extremamente positivo, porque trouxe uma ideia de poder municipal completamente diferente daquele que existia anteriormente. Penso que estamos a concretizar alguns projetos que eram importantes e trago uma nova visão sobre o concelho, sobretudo ao nível de pacificação. Hoje há um clima diferente que não havia no passado. Percebemos também que Deus não me deu tudo o que eu queria. Deu-me um tempo de dificuldades na resolução de problemas.

Se alguns críticos acham que Oliveira do Hospital é um concelho da China, eu acho que é um concelho de Portugal. Com isto quero dizer que o nosso concelho não tem problemas diferentes dos que tem Tábua, Seia e outros concelhos a nível nacional. Acho que estamos a fazer bem o nosso caminho, dentro deste grau de dificuldades e, acredito que é possível inverter esta tendência de um pessimismo que se instalou nos portugueses e também, de certa forma no concelho.

Cbs.com – A EXPOH está aí à porta. Tomando por base a edição de 2010, em termos práticos que mais-valias retira da realização do certame? O evento contribui para afirmação dos agentes locais?
JCA –
A EXPOH será sobretudo um ponto de encontro e de convívio, onde possamos trocar impressões sobre aquilo que nós queremos para Oliveira do Hospital. Isto, se calhar, é o mais importante. De qualquer maneira, também temos o objetivo de divulgar o que há de melhor no concelho.

Acredito que o modelo da EXPOH tem que ser melhorado. Digo isto numa análise crítica, porque não se percebe que os têxteis sejam o maior potencial do concelho e não estejam representados no certame. É preciso que, durante um ano, alguém trate da EXPOH profissionalmente e sejamos capazes de fazer um relançamento.

Neste tempo de dificuldades, o orçamento da EXPOH é muito baixo relativamente ao do ano passado, mas vamos cumprir o objetivo de representação das IPSS, associações, clubes e tecido empresarial. Acho que o tempo é de novos desafios, mas na minha opinião o investimento é absolutamente razoável para aquilo que pretendemos atingir. Estamos a cumprir o orçamento previsto com grande rigor, mas acredito que nos próximos tempos possamos criar uma estrutura independente, que trabalhe todo o ano, para fazermos uma feira, tal como a Expofacic, em Cantanhede.

Cbs.com – A Expofacic É um exemplo a seguir?
JCA –
Sem dúvida nenhuma. Deixe-me dizer-lhe que a nossa limitação é tão grande que a Expofacic é capaz de ter mais gente numa noite, do que nós temos em toda a semana. Perdeu-se muito tempo. Se a Ficacol tivesse tido um crescimento sustentado, se calhar, hoje poderíamos estar ao nível da Expofacic. Mas, as opções políticas não foram por aqui. Os executivos são diferentes e tomam opções diferentes, mas, acho importante continuarmos com esta festa, porque é um grande evento de Oliveira do Hospital.

Em relação aos críticos, devo dizer que nós fazemos festa e obra. Neste momento temos um investimento global à volta de 12 milhões, oito milhões contratualizados pelo QREN. E aqui é que está a ciência. É que este executivo foi buscar os dinheiros do Quadro Comunitário. O que é que dá um espetáculo do Tony Carreira, sozinho, em Oliveira do Hospital? O que é que ele trouxe? O que é traz ao concelho gastar 30 mil euros em fogo-de-artifício nas praias fluviais? A feira traz alguma coisa. Traz inovação e alguns negócios e estas são diferenças em relação ao executivo anterior. Aqueles que tanto criticam os eventos, só por questões políticas, têm que perceber que os nossos eventos trazem rentabilidade muito maior, em comparação com os dinheiros que foram desperdiçados através dos tempos, sem nenhum efeito na atividade económica do concelho.

Cbs.com – De que forma pretende potenciar a presença do setor têxtil na EXPOH?
JCA –
Não temos uma estrutura profissionalizante como a Expofacic e a Feira de São Mateus. Não é só com amadorismo e boa vontade que se fazem grandes organizações. Aquilo que eu quero é ter um pavilhão coberto, onde tenhamos todas as empresas. O objetivo é que os empresários têxteis, que têm um peso importante no domínio da exportação, convidem os seus clientes internacionais para, nessa semana, visitarem o certame e ficarem a conhecer as novas coleções. O objetivo é que seja um mundo de negócio e de comercialização. Ainda não foi possível reunir com todos os empresários, mas acredito que isso venha a ser uma realidade num futuro próximo. O Parque do Mandanelho também tem algumas condicionantes em termos de espaço.

“Hoje, as empresas têxteis estão com uma carteira de encomendas que não tinham há um ou dois anos”

Cbs.com – Em período de campanha, fez do combate ao desemprego a sua principal bandeira. Desde que tomou posse já assistiu ao encerramento de empresas e também ao renascimento de uma outra. Os números do desemprego continuam assustadores. De que trunfos se vai valer para inverter a situação?
JCA
– A questão seria melhor elaborada se me perguntasse o que é que eu tenho feito nesta área. Há coisas que não são para se propagandear, mas no último sábado, os trabalhadores da HBC fizeram-me uma homenagem num jantar e também à presidente do Sindicato dos Têxteis e ao novo empresário. Percebi a importância vital do emprego para o concelho de Oliveira do Hospital.

Outro facto importante é que o concelho tem um conjunto de empresários dinâmicos, empreendedores e homens com uma coragem extraordinária. Não posso deixar de prestar esta homenagem porque concorrem em desigualdade de circunstâncias e, não tenho dúvidas de que em relação a outros concelhos, Oliveira do Hospital é o que está melhor posicionado. Por exemplo, Seia tem muito mais desemprego. Não é que eu me congratule com isso, porque não se trata de uma corrida entre pessoas …Oliveira do Hospital partilha os problemas do país que não eram existentes há uns anos atrás. Está lógica de inverter a tendência do desemprego, tem que ser uma lógica do país.«« Veja vídeo»»

Hoje, Oliveira do Hospital tem um número elevado de desempregados, mas não é tão dramático comparativamente a outros concelhos vizinhos. De qualquer maneira, a situação podia ser, hoje, ainda pior para 200 famílias. Esse foi trabalho e terreno conquistado por este executivo, que não se fechou e não disse que o problema do desemprego não era da CMOH . Este é um problema do presidente da Câmara e da sua equipa.

Estamos a tentar encontrar soluções para outra empresa que fechou, a Fabriconfex. Houve propostas na comissão de insolvência. Isto não é mérito do presidente do município, porque não é o presidente que diz qual é o mercado dos têxteis a nível internacional e se os preços na China, Índia, ou Norte de África estão mais caros ou mais baratos. São alterações de mercado que nos têm permitido crescer e que nos deram novo alento. Hoje, as empresas têxteis estão com uma carteira de encomendas que não tinham há um ou dois anos, e isso não é mérito do presidente da CMOH, como percebe. O que devo dizer é que os nossos empresários têxteis são uns heróis e têm assegurado os postos de trabalho com grande coragem.

Tenho tido uma participação muito positiva numa outra área. Hoje os Aquinos têm 98 empregados do concelho de Oliveira do Hospital. Aqui, temos tido papel determinante e positivo, embora eu gostasse que estes 98 criassem riqueza no nosso concelho.

Também não dou por encerrado o processo da Bonibrinca. Tal como a HBC, entrou em insolvência e, neste momento, procuro soluções para a empresa. Há pessoas interessadas e tenho conhecimento da existência de uma carteira de encomendas que pode relançar a Bonibrinca.

Cbs.com – Com o mesmo administrador?
JCA –
Sobre isso não me vou pronunciar. O sucesso de um negócio é o segredo. Vou-lhe dizer, só é derrotado quem não luta e hoje o município de Oliveira do Hospital luta por aquilo em que acredita e acha que os postos de trabalho são fundamentais para o desenvolvimento.

Cbs.com – Por que área poderá passar a reconversão da Fabriconfex?
JCA
– Numa área de modernização dos próprios têxteis. Surgiram algumas propostas e estamos à espera que se concretizem… e gostaria que fosse a segunda que se concretizasse, porque a primeira é da área do mobiliário e hoje, o mobiliário está parado em Oliveira do Hospital.

Cbs.com – Admite que a futura administração possa contratar ex-trabalhadores da Fabriconfex?
JCA –
Neste momento o processo é tão complexo que eu não admito nada. O que eu admito é que, se houver uma empresa que se lance nós vamos ter postos de trabalho. Disso não tenho dúvidas nenhumas, tal como aconteceu na Azuribérica que, hoje, não tem nada a ver com a HBC. É uma empresa moderna com outras instalações e grande investimento. O empresário, Francisco Batista, é um homem de visão e que hoje está preparado para enfrentar a concorrência no mundo têxtil. Há aqui um caminho longo a percorrer…

Cbs.com – Perspetiva a fixação de novas empresas no concelho e até de outros setores de atividade?
JCA –
Estou a tentar instalar três ou quatro negócios em Oliveira do Hospital. Mas estas coisas têm que se concretizar antes de se tornarem públicas, porque eu tenho 308 concorrentes no país sobre estas empresas. São 308 concelhos que também querem aquilo que Oliveira do Hospital quer. Nós não somos diferentes de Seia, Arganil, Tábua, Carregal ou Nelas… Penso que temos que mexer nos regulamentos para poder permitir a fixação das empresas.

O modelo económico que eu pretendo para o meu concelho passa, não por grandes empresas, mas por microempresas e por um crescimento sustentado, porque em caso de regressão nunca tem o efeito de devastação total e de tsunami.

“A minha obrigação é de que o dinheiro de que preciso para colocar água e saneamento nas aldeias da freguesia de Penalva de Alva não seja gasto em outra área (ESTGOH)”

Cbs.com – “Contenção financeira” e “definir prioridades” são expressões que se repetem nas suas intervenções públicas. Prepara-se para reestruturar os serviços na Câmara Municipal e percebe-se que algo vai ficar para trás… as novas instalações das ESTGOH já não são prioridade?
JCA –
Muita gente criticou Sócrates porque achou que as coisas mudam repentinamente. Se eu, no início do ano, disse que tinha condições para avançar com a construção da escola, hoje digo que continuo a ter as mesmas condições para isso. Só que, hoje, há um reequilíbrio financeiro…Desde que tomei posse até hoje, houve transformações financeiras de que não estávamos a contar. Estive no congresso da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), no sábado, onde nos foi dito por Fernando Ruas que a Troika vai cortar mais de 800 milhões de Euros, contra os trezentos e tal que já tínhamos sofrido na pele… Isto é, hoje não tenho as mesmas condições que tinha no passado e não posso fazer a gestão da coisa pública da mesma forma. ««Veja vídeo»»

Fui obrigado a pensar e a refletir. O problema da ESTGOH é um problema de Oliveira do Hospital e aquela obra não deixou de ser prioritária para o município. Pelo contrário, porque eu acho que a escola sobrevive se tiver umas instalações novas e melhores laboratórios. Mas, precisamos de fazer uma grande luta que é arranjar comparticipação financeira, tal como já tinha sido acordado com o governo anterior, mas não se concretizou porque entrou em gestão. A minha obrigação é de que o dinheiro de que preciso para colocar água e saneamento nas aldeias da freguesia de Penalva de Alva não seja gasto em outra área. Hoje há prioridades. É que há aldeias no concelho onde continua a não existir água ao domicílio, nem saneamento. Estou empenhado nestes projetos, mas a minha obrigação é lutar para fazermos a escola. Temos o projeto pronto para lançar a obra, mas tenho que encontrar com este governo uma solução, para que este município se assuma como parceiro em termos de comparticipação financeira, de 20 por cento.

Cbs.com – Acredita que a obra ainda tenha início no decorrer deste mandato?
JCA –
Basta que o Secretário de Estado me assegure as comparticipações, para no dia seguinte levar o assunto a reunião de Câmara e lançar a obra. No próximo sábado, vamos ter o secretário de Estado da Economia na abertura da EXPOH, ele vai tutelar o QREN e certamente este será um assunto que vai ser discutido. Não foi por acaso que convidei este secretário de Estado para abertura da EXPOH, tem a ver precisamente com as instalações da ESTGOH.

Eu nunca pedi dinheiro ao governo. O que eu pedi foi que me abrissem algumas portas a linhas do QREN, porque Oliveira do Hospital tem capacidade financeira. Das obras lançadas no concelho, foram os ministérios que contratualizaram. Por isso, a extensão de saúde do Ervedal, foi o ministério da Saúde que contratualizou com a CCDRC as estruturas que vão ter financiamento. O mesmo acontece com Lourosa, onde grandes obras que envolvem toda a igreja que, no próximo ano, comemora 1100 anos, é um ano de jubileu…e tratamos isto com o secretário de Estado da Cultura. Não são os políticos que têm dinheiro, o dinheiro está nos quadros comunitário, mas para lá chegarmos precisamos do aval dos ministérios. Esse caminho fi-lo com o governo do PS e fá-lo-ei com o governo do PSD. Sou um homem de relações com os diferentes parceiros e não tenho esse problema, porque como já disse na Assembleia Municipal, a maioria dos municípios era do PSD e o governo socialista fez obras nos diferentes concelhos. Às vezes até é ao contrário e conseguem-se mais coisas. Não estou preocupado com isso.

“Houve um conjunto de cinco por cento de freguesias que não atingiu os objetivos mínimos”

Cbs.com – A aposta na descentralização de verbas para com as juntas de freguesia é uma marca do seu executivo. Em jeito de Câmara Aberta, já passou por quatro freguesias e isso tem-lhe valido fortes críticas. Acusam-no de se dedicar em demasia às festas…
JCA
– Cada um é livre de emitir a sua opinião, sobretudo aqueles que não são capazes de fazer… porque não tinham capacidade de fazer isto. O meu programa político era claro, era de aproximar o poder político dos cidadãos, das freguesias, numa triangulação que passa pelo município, freguesia e munícipes. O que me preocupava era se eles dissessem que eu prometi fazer um conjunto de obras nas freguesias e não fosse lá. Mas não. Eu vou lá e, os melhores testemunhos são os que são dados pelos presidentes das juntas de freguesia, pela forma como hoje se reúnem e se identificam com este triângulo.

Logicamente, que este modelo de sucesso incomoda alguns que não tiveram capacidade de o fazer porque se afastaram demasiado das pessoas. O que é fundamental é que nós vamos ali prestar contas e não escondemos aquilo que é feito. É um modelo que tem sido criticado, mas é um modelo de descentralização. Sabe, eu nunca fui candidato à Junta de Freguesia de Ervedal da Beira, por achar que os presidentes de junta vendiam às vezes a sua alma ao diabo, para defenderem as suas populações.

Cbs.com – De alguma forma está arrependido relativamente ao modelo de descentralização adotado? Em Lagos da Beira defendeu uma melhoria do modelo…
JCA –
Como em tudo na sociedade e na nossa vida, este é um modelo evolutivo. Partimos de um ponto de partida e pretendemos chegar a uma eficácia a 100 por cento. Nós queremos que os nossos investimentos sejam rentabilizados e que este modelo tenha avaliação. Avaliámos o primeiro ano de descentralização e percebemos que houve um conjunto de cinco por cento de freguesias que não atingiu os objetivos mínimos. Mas a maior parte atingiu desempenho excelente, outros bom e outros satisfatório. O que pretendemos é que este modelo atinja um nível de excelência. Fazemos protocolos e damos responsabilidades às freguesias. Aquele conceito de que é a CM que tem que pensar a freguesia terminou. Enquanto eu for presidente, a CMOH está concentrada nos grandes investimentos, mas o pequeno investimento, limpeza e rua de paralelos é uma preocupação da Junta de Freguesia. Eu olho para os presidentes de junta, independentemente, das suas ideologias políticas e partidos por que foram eleitos. Eles foram eleitos, tal como eu.

Outra coisa que eu quero, é que as freguesias se aproximem entre si em termos de qualidade das condições de vida. Encontrei freguesias muito distanciadas. É esta opção política que estou a seguir, através de um conjunto de infra-estruturas desde o saneamento, equipamentos … para que valha a pena viver nestas freguesias, independentemente de ser Lourosa, Seixo da Beira ou Aldeia das Dez. Isto é uma forma diferente de fazer política. Se me disser que não é política, acredito que não seja, para quem vê a política de forma dura e nua, mas é a forma como eu entendo que devo fazer política. A nossa política não é partidária, mas é uma política que assenta no interesse das populações. Você sabe bem que a política partidária é a negação dos interesses da população.

Não quero que as pessoas digam bem de mim. Mas quero uma relação de verdade entre o executivo e os eleitos das freguesias.

A verdade é que nós nunca estamos satisfeitos. Acontece isso em todas as áreas da nossa vida e acho que este modelo de descentralização precisa ser melhorado.

Cbs.com – É um presidente insatisfeito?
JCA –
Completamente insatisfeito e prevendo sempre aquilo que são os caminhos do futuro. Temos que respeitar muito quem nos deixou um legado brilhante. Há ainda outro aspeto para o qual olho com alguma mágoa. Há quem pense que eu deveria ter uma atitude muito mais agressiva em relação ao executivo anterior, numa espécie de ajuste de contas. Acho mais justo, que o ajuste seja feito através da obra e da forma como eu vejo a política, do que com palavras em relação aos outros e ao passado. Não sei é se estou talhado para este tipo de política, que é completamente diferente.

Cbs.com– Manter o equilíbrio financeiro da CMOH é uma das suas principais preocupações. Tal facto não é limitador da sua capacidade de ação ao nível de desenvolvimento do concelho? Qual é a atual situação financeira da Câmara?
JCA –
Limita sempre. Quando entrei apanhei uma situação de endividamento nulo. Oliveira do Hospital ainda se podia endividar mais, mas tenho noção clara de que o país atravessa uma situação difícil derivada desse endividamento. Temos que viver com aquilo que temos, ainda que saibamos que nos municípios nem sempre isto é possível. Há municípios que dependem 80 por cento das verbas do FEF e outros que dependem 20 por cento, dependendo das receitas próprias de cada município. Oliveira do Hospital tem algum equilíbrio, mas depende muito do FEF. Se o país não precisa de endividamento, nós não devemos fazer obra só para ganhar as eleições. E, há quem fosse a correr fazer algumas obras, só para tentar ganhar eleições. Mas, eu digo-lhe que o povo dá respostas a essas pessoas. É mais favorável um equilíbrio financeiro que permita ao município honrar os seus compromissos. Temos também o problema da Águas do Zêzere e Côa (AZC). No congresso da ANMP, o autarca de Gouveia, Álvaro Amaro disse que não pagava porque não tinha condições.

Cbs.com – Oliveira do Hospital continua a cumprir?
JCA –
Até hoje, Oliveira do Hospital honrou sempre os seus compromissos. Mas, não estou com isso a fazer uma crítica ao meu amigo Álvaro Amaro. O que eu quero dizer, é que Oliveira do Hospital pode ser empurrado para uma situação semelhante. Isto é, que os fundos próprios não permitam pagar… isto é um disparate completo em relação àquilo que nós estamos a assistir ao nível da compra da água em alta. Alguém vai ter que fazer alguma coisa. Eu não quis sair da AZC por uma questão de relações. Pelo contrário, tenho as melhores relações com a administração. Fui para a Águas do Mondego, porque está em causa o custo que eu tenho com um produto. Compro a água a um preço muito mais alto do que municípios como Arganil, Tábua, Penacova… isto não é justo. Quero comprar a água a um preço razoável para não onerar os meus munícipes na fatura, porque os meu munícipes pagam a eletricidade ao mesmo preço que a pagam em Lisboa, Penacova, Arganil, tal como os telemóveis da Optimus, TMN e Vodafone.

Cbs.com– Em que ponto é que está este processo?
JCA –
O anterior governo entrou em gestão. O primeiro-ministro anunciou que está a pensar criar um fundo de equilíbrio financeiro para os municípios mais do interior. Vamos aguardar, o governo ainda não teve tempo suficiente para pegar nos dossiês. Daqui a algum tempo, quando estiverem definidas as leis orgânicas do governo, temos que começar a lutar por aquilo que achamos justo. O problema da água e dos esgotos não é de somenos importância. É um problema de equilíbrio financeiro do concelho. Alguns pensariam que eu não seria capaz de fazer o equilíbrio de gestão financeira. Pelo contrário, acho que Oliveira do Hospital tem que ter grande gestão financeira por uma razão: é que 20 Euros do concelho podem ir buscar 80 aos fundos de Bruxelas. Esta é que foi a arte que tive para os meus primeiros anos de mandato.

Cbs.com – Foi esta estratégia que faltou ao anterior executivo?
JCA
– Sobre isso não me vou pronunciar. O que me interessa é viver o presente e desafiar o futuro, para que haja mais qualidade de vida e o meu município não continue a perder, como perdeu 1193 habitantes nesta década. Tenho grandes expetativas no senhor ministro das Finanças. Li uma entrevista dele, onde apontava alguns caminhos para o interior e que eu espero que ponha em prática, que é a isenção de pagamento de IRC durante cinco anos, às empresas que se instalem nas zonas interiores. E que determinados impostos sejam mais baixos mesmo ao nível da Segurança Social. Aqui é que se faz o equilíbrio entre o interior e o litoral. É fundamental que haja estas medidas.

Cbs.com– Ao início da sua governação está também associada a criação da Plataforma. Fala-se da intenção de criar um concelho auto-sustentável a nível energético, mas no terreno tardam em aparecer resultados práticos.
Qual é o ponto da situação? JCA –
Na minha opinião, a Plataforma é o maior desafio de Oliveira do Hospital. E, o meu sucesso político passa pela Plataforma e passa por ver o concelho de uma forma diferente. Até agora, a Plataforma custou 50 mil Euros ao município, mais ou menos, o mesmo valor gasto pelo executivo anterior para lançar uma incubadora. Quando eu cheguei, o espaço não tinha uma empresa, hoje pelo menos temos lá a sede da Plataforma com pessoas e, vamos fazer a inauguração da Plataforma com empresas no dia 3 de setembro. Não é um grande negócio, quando a CMOH gasta 50 mil euros e tem aprovado um projeto de 500 mil euros? Hoje, as pessoas que recebem vencimento na plataforma é através do projeto, não são pagas pela Plataforma. Tirando o engenheiro António Campos que é reformado e não recebe nada e faz parte do Conselho de Administração, todas as outras pessoas são pagas através de projetos. Quantos negócios eu gostava de fazer, ao investir 50 mil Euros e a receber 500 mil Euros.

Isto não é tudo. Quero que a Plataforma crie um modelo de desenvolvimento diferente. Não é por acaso que, hoje, a Plataforma tem grandes parceiros, como a Galp, jovens de grande inteligência, o Instituto Pedro Nunes. Devo agradecer à Drª Teresa Mendes e à vice-reitora da Universidade de Coimbra, Helena Freitas. Isso para mim é um prestígio. E devo ainda dizer que o engenheiro João Nunes é mesmo o meu génio. É o meu génio, porque aposto nele, nos jovens e na capacidade de desafiar o futuro, porque o modelo anterior, já percebemos onde nos vai levar.

Cbs.com- Mas continuam a não se verificar resultados práticos? Para quando a biorefinaria?
JCA
– Esse é o desígnio final. Neste momento trabalhamos numa área de investigação e um conjunto de jovens prepara-se para ir desenvolver estudos na América, com as diferentes universidades e até com a própria Galp. Acho que tem que se dar tempo ao tempo. Você nunca vê deitar-se uma semente à terra e germinar na mesma hora. As coisas demoram tempo e os agricultores também sabem isto muito bem. É esta paciência, que os agricultores já têm, que as pessoas do meu concelho têm que ter em relação a mim e ao desafio da plataforma.

“Sinto frustração por a obra (IC6) não estar feita, mas ao mesmo tempo, tenho consciência de que foi o PS que fez com que haja condições para lançarmos a obra agora”

Cbs.com– Já por várias vezes se revelou dececionado pelo facto de o anterior governo socialista não ter concretizado os itinerários que compõem a concessão da Serra da Estrela. O IC6 ficou às portas do concelho. Oliveira do Hospital continua fora do mapa das acessibilidades condignas. Em período de crise nacional, ainda acredita que o IC6 venha a servir Oliveira do Hospital no decorrer deste mandato?
JCA – Acredito que sim. Estou à espera que o governo tenha algum tempo para pegar nos dossiês. E congratulo-me por ver o senhor presidente da Comissão Europeia, o Dr. Durão Barroso, junto do primeiro-Ministro de Portugal dizer o seguinte: Bruxelas está disponível para que o investimento do TGV seja distribuído por outras obras do país. Não tenho dúvidas de que, essa redistribuição tenha que passar pelos IC 6 e 7. Nós defendemos isso e também acredito que não seja possível fazer o IC6 na sua totalidade, mas defendemos que seja feito tal como estava combinado. Veja, é uma obra de 150 milhões de Euros e se o governo tiver condições de ir buscar verbas ao QREN, veja quanto é que calha ao governo… serão uns míseros 30 milhões de Euros e Bruxelas financiava-nos com esta obra. Havia um orçamento de 150 milhões de Euros para fazer o IC6 até Oliveira do Hospital, não derivar para a Covilhã e, começar-se o IC7 entre Fornos e Celorico, servindo três concelhos: Seia, Gouveia e Oliveira do Hospital. Chegamos ao litoral e à fronteira muito mais depressa. Vou lutar por esta linha de pensamento e o governo português poderá gastar apenas 30 milhões de euros. Eu tenho as contas e o caderno reivindicativo. Estou a dar tempo para começar numa nova luta e por me bater por aquilo em que acredito. ««Veja vídeo»»

Disse bem, a minha grande desilusão é que não tenhamos, pelo menos, concretizado o IC6 até passar o concelho. Já há populações de Oliveira do Hospital que o utilizam. Percebo que os tempos são diferentes e penso que é possível contratualizar com os fundos europeus.

Cbs.com – Se tal não acontecer, termina o mandato com o sentimento de que não cumpriu a sua missão?
JCA –
Em campanha, escrevi que com o meu executivo os IC são uma prioridade. Não sei do que é que me poderão acusar, porque sempre foram prioridade. Fiz muitas reuniões com governantes do PS e consegui manter o assunto na agenda e nunca deixei cair os IC 6, 7 e 37. Isto é muito importante. Os estudos de impacte ambiental estavam prontos e foi, exatamente nessa altura, que o PSD pediu que se travassem as obras públicas. Por isso, não me considero derrotado. O PS fez o caminho que tinha que fazer. Sinto frustração por a obra não estar feita, mas ao mesmo tempo, tenho consciência de que foi o PS que fez com que haja condições para lançarmos a obra agora.

Tal como participei em muitas reuniões com elementos do governo socialista, continuarei a fazer o mesmo com o governo PSD. Não é uma luta política, é uma luta justa. Porque os nossos empresários precisam destas acessibilidades para competir com outras empresas espalhadas pelo país.

Cbs.com – O partido que representa na Câmara Municipal foi o grande derrotado nas eleições legislativas. Agora que não partilha a mesma cor política e deixou de ter acesso aos grandes canais de comunicação que tinha junto do governo, como perspetiva os próximos dois anos de governação?
JCA
– Uns canais fecham-se e outros abrem-se. Acredito que tenho capacidade de abrir porque sou pessoa de boas relações. Hoje o senhor secretário de Estado da Administração Local é meu amigo e alguns deputados do PSD são das minhas relações pessoais. Não se prende com políticas. Tal como eu que, enquanto presidente de câmara, sirvo todos os presidentes de Junta, também o governo de Portugal tem de tratar os seus munícipes independentemente dos partidos. Mesmo que o atual governo fosse do PS, o processo de abertura de canais levava o mesmo tempo. E, se muitas vezes eu servi para abertura de portas a alguns presidentes do PSD, também tenho a certeza de que alguns me vão abrir algumas portas.

O concelho de Oliveira do Hospital é reconhecido por ter um presidente de Câmara que se relaciona com um conjunto de políticos de diferentes quadrantes. Já tenho reunido com outros presidentes de Câmara, porque eu acredito que não é, isoladamente, que conseguimos conquistas…aprendi isso no desporto, nenhum homem ganha um jogo sozinho, mas sim os 11 jogadores com a sua equipa técnica. Sou uma pessoa que me relaciono bem, mas lutando sempre por aquilo que acho que temos direito.

Cbs.com – Governa a Câmara Municipal numa situação de maioria relativa. Tem sido fácil atingir consensos? Qual a sua estratégia?
JCA –
Eu não sou um homem de extremos. Defendo as minhas ideias e aposto no diálogo com o objetivo de atingir consensos. Penso que as coisas têm corrido bem. Tenho tido a inteligência de perceber que quando tenho que recuar, recuo e que quando tenho que avançar, levando as coisas a extremo, também avanço.

Quem governa a CMOH não são os vereadores da oposição, mas sim o meu executivo. De qualquer maneira, ouço-os e discuto os assuntos com boa fé. Esta é a minha forma de estar na vida. Não sou fundamentalista nem na vida pessoal, nem na vida política.

Cbs.com – A Câmara Municipal está a ser alvo de uma inspeção, por parte da Inspeção Geral da Administração do Território. Há registo de irregularidades? Quais as principais falhas detetadas.
JCA –
Para azar dela, a nossa inspetora teve um acidente de viação e, até agora, não regressou ao trabalho. O que ela chegou a conversar comigo foi sobre o que são consideradas horas extraordinárias. Nós estávamos a seguir a prática que já vinha do executivo anterior. Ainda não me entregaram nenhum relatório, mas fomos alertados para este aspeto, nomeadamente, para as horas extraordinárias feitas por motoristas ao fim-de-semana e que não deveriam ser consideradas como tal, mas sim horas de trabalho corrente.

A inspeção está parada há bastante tempo, mas acredito que desde que cá estou não cometi nenhuma ilegalidade.

“Tenho a certeza de que nasci para ser professor, não tenho a mesma certeza de que tenha nascido para ser presidente da Câmara”

Cbs.com – Como encara a eventual redução do número de freguesias?
JCA –
No último congresso, o secretário de Estado Paulo Júlio assumiu a ideia que eu defendo. Quando ele ainda era presidente da Câmara de Penela, numa reunião onde estivemos juntos, eu defendi que em tempo de crise não devemos dividir as pessoas. Esta questão pode fazer com que se voltem a reavivar algumas diferenças entre as populações. Não é altura para isso. Deve haver um novo modelo económico. Acho que se algumas freguesias devem acabar e ser reintegradas são, sobretudo, aquelas eleitas em plenário. Porque isto é como as escolas 1º Ciclo, por quando deixa de haver alunos, deixa de haver sociabilização e os alunos devem ser transferidos. Na minha opinião não se devem extinguir as freguesias.

Defendo um novo modelo que chamei de Unidade de Gestão de Freguesias. Eu já tinha apresentado esta ideia numa reunião onde esteve o então presidente da CM de Penela e congratulei-me por, no último congresso da ANMP, o primeiro-ministro ter falado em agregação de freguesias. Parece-me que o novo futuro passará por aí, no âmbito de um novo modelo político. Não podemos deixar as pessoas abandonadas nos territórios, porque as juntas de freguesia fazem, hoje, um trabalho de proximidade e, muitas vezes, alertam o município para os problemas sociais. Em tempos de dificuldade, não podemos prescindir das freguesias. A minha ideia vai ainda mais longe, porque defendo que através da agregação de freguesias possamos ser capazes de dar respostas mais diretas às populações com menos dependência da Câmara Municipal.

Cbs.com – No concelho, que freguesias é que poderão passar por esse processo de agregação?
JCA-
Seria prematuro falar sobre isso, porque não tenho responsabilidades governativas. O meu amigo Paulo Júlio é que tem essa secretaria de Estado e não lhe farei o trabalho dele. Pretendo participar no debate de forma construtiva, mas sou contra a extinção pura e dura das freguesias.

Cbs.com – A CMOH continua com o problema da ACIBEIRA. Como espera resolvê-lo?
JCA –
Não fui eu o responsável pelo monstro que ali se criou. Não fui eu, nem o executivo anterior. Foram homens do governo, entre os quais um atual comentador político que faz algumas afirmações, mas esquece-se do que fez. Essa pessoa tem um nome e foi membro do governo de Cavaco Silva, o então ministro Mira Amaral. Estes benfeitores da política que fazem comentários na televisão, esquecem-se que ali foram empregues um milhão de contos.

Estou em negociações com a Caixa Central de Lisboa para comprarmos as instalações, cujo desenvolvimento vai passar pela Plataforma. Primeiro, o município tem que adquirir o direito de superfície, porque ninguém faz obras naquilo que não é nosso. Vou levar a reunião de CMOH a proposta que me foi feita pela Caixa Central para aquisição.

Cbs.com – Até agora, que decisão já lhe deu mais gozo/prazer tomar enquanto presidente da Câmara Municipal?
JCA –
As coisas simples são as que me dão maior satisfação. E conto-lhe aquele que considero ser o momento alto da minha governação. Um dia telefonou-me uma pessoa de que não sei o nome, ex-trabalhador da HBC e disse-me: Senhor presidente quero-lhe agradecer o empenho que teve na HBC porque, hoje, recebi o primeiro ordenado da Azuribérica e eu não queria continuar a receber pelo desemprego, mas sim pelo meu trabalho. O país pode continuar a contar comigo. Quando ela acabou de falar, as lágrimas correram-me nos olhos, porque o que ela me disse, contrariou aquela ideia de que as pessoas querem receber o dinheiro sem trabalhar. Foi um momento marcante para mim na CMOH e não nenhuma obra, foi perceber que os cidadãos querem brilhar, produzir riqueza para o concelho e para o país.

Tenho um segundo momento. No lançamento do livro de Luís Macieira, um jovem que tem alguns problemas e a mãe disse: se eu soubesse o que sei hoje, mesmo depois daquilo por que passei, eu teria tido o meu filho da mesma forma. Isto são coisas que ultrapassam o material. Se eu for capaz de fazer alguma obra, espero que ela fique relacionada com as pessoas e não com a obra física.

Cbs.com – Na sua opinião de que é que Oliveira do Hospital necessita para atingir o patamar de desenvolvimento que lhe é exigido?
JCA –
De 800 postos de trabalho. Não precisava de fazer mais nada, porque todas as quartas-feiras recebo as pessoas e percebo qual é o maior drama do concelho.

Cbs.com – Pondera uma recandidatura à CMOH?
JCA –
Acho que é demasiado cedo. Isso terá a ver com a avaliação que eu faço ao meu próprio desempenho. Estou habituado a auto-avaliar-me. Depois, também depende da avaliação que o PS faça a meu respeito e da sua intenção ou não de me renovar o convite. Acho que ainda é cedo, porque o desenvolvimento do concelho, não é só uma luta política, é uma luta por melhores condições. Tenho a certeza de que nasci para ser professor, não tenho a mesma certeza de que tenha nascido para ser presidente da Câmara.

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