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Embora sem motivos “para todo este alarido”, os responsáveis pelos agrupamentos de escolas de Oliveira do Hospital não deixam de se manifestar preocupados com a agressividade em meio escolar, na vertente física e verbal. Mas, são a perda de autoridade dos professores e a necessidade de responsabilização familiar que mais preocupam os responsáveis escolares.

“Professores têm vindo a perder autoridade”

Imagem vazia padrãoA mediatização em volta do caso tornado público, via Youtube, em que uma aluna da Escola Secundária Carolina Michaelis no Porto agrediu fisicamente a professora de Francês, depois desta lhe ter tirado o telemóvel deixa uma interrogação no ar: e o que acontece nas nossas escolas?

Depois de uma auscultação junto dos conselhos executivos dos agrupamentos de escolas do concelho de Oliveira do Hospital, a constatação a que chega o Correio da Beira Serra resume-se à afirmação proferida por Luís Ângelo do Agrupamento de Escolas Brás Garcia de Mascarenhas: “infelizmente, casos de violência existem sempre e não é só nos grandes centros”. O responsável deu conta de que no presente ano lectivo “ainda não se registaram grandes problemas de indisciplina, salvo alguns comportamentos irregulares”, mas também disse não poder afirmar “que a agressividade está a abrandar”, embora garanta que há um esforço para que seja evitada. “Desde que haja bom ambiente entre alunos e professores, estamos tranquilos”, referiu ao CBS, denunciando contudo alguns casos em que é necessário o recurso a processos disciplinares.

“Mesmo numa escola pequena há agressividade verbal”

Situações como a que se verificou no Carolina Michaelis – garantem os responsáveis escolares – “nunca aconteceram”. E, é do lado da Escola Secundária de Oliveira do Hospital que surgem sinais de maior serenidade. “A agressividade está na ordem do dia, mas aqui não se fala em nada disso. Estamos tranquilos. Temos uma boa comunidade escolar”, referiu Albano Dinis, notando contudo que “há sempre um ou outro caso pontual, mas nada que esteja no topo das preocupações da escola”. O responsável pela Secundária fala de “uma óptima relação entre professores e alunos”.

Porque entende que agredir não é só bater, a presidente do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas do Vale do Alva, não escondeu a sua preocupação relativamente à “agressividade verbal”. Garante que não existem agressões físicas na escola contra professores, mas não deixa de dar conta de um caso recente, em que foi a própria encarregada de educação que, não satisfeita com um processo disciplinar que a escola imputou sobre o educando, decidiu agredir uma professora que chegou a apresentar queixa no Ministério Público e aguarda pela leitura do acórdão. “Foi um caso único”, referiu Sandra Fidalgo, garantindo que a escola não tem tido dificuldades em controlar casos de mau comportamento, ou rebeldia em sala de aula. Mas, deixa claro que “a agressividade não acontece só nos grandes centros urbanos e nas grandes escolas”. Pelo contrário, a responsável constata que “mesmo numa escola pequena e de cariz familiar, onde é feito um controlo mais apertado, se verificam situações de agressividade verbal”. “E têm vindo a crescer, mas nada que a escola não tenha conseguido resolver”, acrescentou.

A proliferação dos telemóveis junto da camada estudantil também tem originado alguns problemas em sala de aula. Mas em cada um dos agrupamentos do concelho a prática é a mesma: quando o aluno insiste em manter o telemóvel ligado, o professor retira-lhe o equipamento, entrega-o ao director de turma que, por seu torno, o faz chegar ao Conselho Executivo, órgão ao qual assiste convidar o encarregado de educação à escola para o informar do sucedido e lhe entregar o telemóvel.

Com dois processos disciplinares em curso, o agrupamento do Vale do Alva nunca teve necessidade de expulsar um aluno e transferi-lo de estabelecimento escolar. A aplicação das regras por parte de todos os intervenientes no processo educativo tem sido determinante para o bom ambiente escolar.

“Alunos devem conhecer direitos e deveres”

A entrada em funcionamento, ainda recente, dos Cursos de Educação e Formação (CEF) também gerou algumas preocupações, às quais os conselhos executivos não ficam indiferentes. Pela especificidade dos cursos, – como explicou Sandra Fidalgo – os CEF reúnem um conjunto de alunos que vêm de muitas retenções e em risco de abandono escolar, pelo que por alguma desmotivação acabam por “destabilizar o ambiente escolar”. A constatação é feita também pelo presidente do Conselho Executivo da Cordinha que fala de “uma atitude mais diferenciada”, garantindo porém que “tudo é perfeitamente controlado”. Ao CBS, Carlos Carvalheira revelou-se tranquilo, porque na Cordinha “não existem situações como as que estão a dar azo a este alarido todo”. Informou que nunca instaurou um processo disciplinar sobre um aluno e referiu que o essencial é “dar a conhecer aos alunos todos os direitos e deveres do regulamento interno”. Para o efeito – como explicou – a escola aposta na definição de áreas prioritárias no início de cada ano lectivo. “No ano passado, trabalhámos o Saber Ser e o Saber Estar e a partir deste lema fizemos um conjunto de acções para alertar os alunos para a cidadania”, frisou.

“Os professores têm vindo a perder autoridade”

Carlos Carvalheira revelou-se mais preocupado com a situação em que se encontram os docentes, numa altura em que se assiste “a um decréscimo da sua autoridade”.

“É urgente maior autoridade no professor, dando-lhe mecanismos para que a pudessem exercer”, considerou Carvalheira, ao mesmo tempo que sublinhou que “também os pais devem ser responsabilizados pelas atitudes dos filhos”. A opinião é corroborada por Joaquim Nelas, na opinião de quem “os professores e os polícias estão em situações semelhantes”, dado que “têm vindo a perder cada vez mais autoridade”. O elemento do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Lagares da Beira aponta também o dedo às famílias, por notar que “em casos concretos, o mal virá do seio familiar”. Garantiu que no Agrupamento pelo qual também é responsável não se têm “registado grandes casos de desrespeito pelo professor”, estando em curso apenas um processo disciplinar.

“Dezenas de casos sob investigação”

Depois da divulgação do vídeo que despoletou toda a mediatização em torno da agressividade em ambiente escolar, tem sido frequente a divulgação de novos dados reveladores daquilo que é a realidade nas escolas portuguesas. Em declarações recentes, o Procurador Geral da República garantiu que “há dezenas de casos de violência escolar sob investigação”, notando que “todos podem e devem ser responsabilizados” porque se tratam de “ilícitos criminais”. Pinto Monteiro defendeu que “os pequenos crimes também devem ser combatidos” e que “a agressão a professores é um crime público que tem que ser investigado”.

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