Muitos de nós tentam construir a felicidade como se de uma casa se tratasse, angariam os recursos, perspectivam o projecto e imaginam os elementos que gostariam que a viesse a constituir. Mas, na verdade, não acredito, e ninguém me irá convencer, que seja este, o verdadeiro, genuíno e nostálgico sentimento de felicidade. A felicidade é um estado de espírito que nunca é constante, por mais que a queiramos guardar, hoje, dentro de nós, é incerto, ou mesmo uma quimera acreditar que tal se venha a verificar por um longo período temporal.
O segredo passa por não conservar os momentos de felicidade. Pelo contrário, devemos usufruir dos momentos de pura felicidade sem pensar no amanhã, sem tentar conectar a felicidade de hoje aos dias vindouros, sem fazer planos, apenas vivendo. A felicidade não é visível aos olhos dos outros, um homem pode conter milhares de sentimentos positivos num único dia, pode estar a viver o dia mais feliz da sua vida e, pode facilmente passar despercebido ao comum dos mortais. Seria preciso conhecer todos os “mecanismos” exteriores de um mortal para lhe conseguir identificar felicidade, poderíamos (para simplificar o processo) literariamente ler-lhe o coração, mas a felicidade nota-se no coração ou nos olhos? Creio ser o coração o principal responsável por aquilo que nos provoca boas ou más sensações, mas é no andar, na forma como nos expressamos, no sorriso…que se pode identificar felicidade em outrem.
A felicidade é também um sentimento individual, por mais que se julgue que depende dos outros ela apenas reside dentro de nós. Cada um tem o seu conceito de felicidade, uns ambicionam uma próspera e numerosa família, outros revêm nos seus projectos profissionais a maior fonte de receita para este sentimento, a outros é o amor que os faz felizes, no entanto, creio serem eruditos aqueles que vivem ao sabor dos momentos e, embora sejam a maioria dos dias profundamente descontentes, são aqueles que aproveitam a felicidade, embora momentânea, de forma autêntica. E é esta forma autêntica de felicidade a única que, ainda que não sendo visível para quem nos rodeia, é aquela que contempla o individuo na sua plenitude, aquela pela qual devemos viver.
Mas nesta sociedade contemporânea tudo parece premeditado, pesam sempre mais os riscos, os acautelamentos e o que os outros julgam que a própria felicidade individual. Imaginem vocês que numa determinada noite saem à rua, sem nada combinado, uma rapariga/rapaz dirige-se na vossa direcção e pede-vos um cigarro, trocam breves palavras (mas pareceram horas) e, de repente, desaparece. Inquietos com o sentimento que esta/este vos provocou desatam a correr pela rua em busca do seu rosto, e pela persistência, acabam por se encontrar de novo. Simpaticamente essa pessoa escreve o seu número de telemóvel na tua mão, e volta a desaparecer. Quando acordam no dia seguinte o que tem maior peso? O cómodo trabalho já adquirido, a opinião dos outros, a comodidade que têm na vida…ou preferem abdicar de tudo isto? (apenas por mais uma hora com a pessoa que vos proporcionou tal estado de espírito).
Cada qual sabe o que lhe trará maior felicidade, mas que não seja pelo medo de quebrar a rotina, que não seja pela falta de persistência (só se poderão arrepender do que fizeram, não do que ficou por fazer). Que não seja a falta de sonhos que vos impeça de, nem que seja por um instante, serem felizes. Quanto à resposta para se devem ou não abdicar de tudo pela felicidade, como diria Bob Dylan:“The answer is blowin`in the wind”.